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Corona Vírus: O letal efeito colateral do remédio


Publicado 25 de março de 2020 às 18:26     Por Lúcio Flávio Rocha*     Foto Arquivo Pessoal

Roberto Justus ou Marcos Mion? Vamos deixar a briga de torcidas, os debates rasos de WhatsApp e falar sério? Que tal tentar remover a politicagem e a ideologia para fazermos finalmente um debate responsável acerca desta pandemia? Topa? Então, desarme-se e acompanhe o raciocínio a seguir com maturidade. Não levará mais do que 10 minutos.

Vamos aos fatos. Na data de hoje, já temos relatos de pessoas indo aos postos de saúde por questões de inanição. E muitas destas pessoas são crianças. Não estou falando do que poderá um dia acontecer, estou falando do que já está acontecendo neste exato momento. Isto está acontecendo agora. Trabalhadores não conseguiram levar o alimento para as suas casas hoje. Ou comprar o remédio. Quem irá ser responsabilizado por mortes e doenças silenciosas, sem holofotes, oriundas destas situações? Quantos ambulantes, informais, autônomos temos em nosso país, que levam seus sustentos para casa através da sua renda de cada dia? Alguém tem noção do tamanho do exército de pessoas nesta situação hoje?

Agora, vamos falar de perspectivas. Com esta epidemia, já há uma tendência de aumento drástico de falências, desempregos, violência e até suicídios no Brasil e no mundo. Uma tendência clara e matemática, sem achismos. Até uma economia forte como os EUA estava prevendo um salto de 3% para mais de 30% de desemprego no caso da continuidade desta paralisação total. É um impacto duro, mesmo para um gigante.

Ok, então vamos lá. Para escrever este artigo, eu não me baseei apenas em minhas convicções ou no famoso artigo com a proposta do Thomas Friedman, que circulou em diversos grupos de WhatsApp e sugere o controle do contágio na estratégia de atuação focada, pontual e vertical, e não um “lockdown horizontal” de forma tão genérica e sem efeito como está sendo feita em nosso país. Eu concordo plenamente com ele sobre a mudança da abordagem. Acho que estamos agindo errado. Mas, para não parecer tendencioso, vamos ouvir alguns médicos especialistas?

Recebi o vídeo da entrevista de um infectologista num grande canal de notícias de nosso país. Ele dizia categoricamente: não há certeza no mundo de que este modelo de isolamento proposto como protocolo consiga ser eficiente na atuação contra o vírus pois a doença é muito nova. Ele inclusive relembrou que medidas tão duras não foram utilizadas anteriormente em epidemias de maior letalidade. E mais: ele disse que uma estratégia adotada em um país pode não ser eficiente em outro ambiente geográfico de diferentes configurações. Além da medida ser incerta, o médico infectologista confirmou que o seu maior temor seria mesmo a paralisação geral da economia pois isto pode gerar inclusive problemas, pasmem, no sistema saúde. As medidas duras são questionáveis, segundo o especialista ouvido na emissora de tv. Ah, o médico existe, é uma pessoa real e seu nome é Marcelo Burattini. Logicamente, o jornalista, que esperava uma resposta diferente, suspendeu a entrevista nesta primeira pergunta.

Após ouvir este depoimento do infectologista, analisei a opinião de uma médica geriatra. O nome dela? Luciana Pricole Vilela. Sim, ela não é uma especialista de redes sociais. Ela é uma especialista em velhinhos de verdade. Sabe o que ela disse? Toda essa agonia faz parte da sensação de vivermos com um excesso de meios de comunicação como nunca antes, que nos inundam de notícias de caos e pânico. Não é apenas a doença que é nova; nossa forma de comunicação também é, e nos traz essa sensação desconfortável de saturação. Vejam: uma especialista em velhinhos informou que as notícias estão exageradas e que o ideal seria não nos aterrorizarmos com essa avalanche de gritos. “Na maioria absoluta dos casos não será mais que um resfriado leve”, disse ela. Lembra a tal gripezinha? Pois é. Segundo ela, a preocupação deve ser apenas com os velhinhos. E mais, ela afirmou que, mesmo assim, a chance deles morrerem de outras doenças, inclusive gripe, é muito mais preocupante. A médica alerta: “Cuidado com a neurose coletiva! Estamos bem preparados para o enfrentamento do vírus”. Foi ela, Luciana, não eu, quem nos recomendou isto, chamando este momento que estamos vivendo de “pandemia da histeria”.

Por fim, já que estamos falando de um microrganismo, resolvi fechar o ciclo de análises da saúde ouvindo a opinião de um outro renomado especialista de Sergipe que acabei de conhecer. Tive uma longa conversa com o Márcio França que subscreveu tudo que os especialistas anteriores falaram. Além de biomédico, ele também tem especialização em administração hospitalar e estará à frente de uma faculdade de saúde em breve. A conversa com doutor Márcio foi muito esclarecedora. O confinamento total não traz efeitos positivos para a contenção da proliferação do vírus, disse ele. Acredite: O efeito pode até ser contrário. Sabe por que? O vírus é de alto contágio mas, como já sabemos, a maioria absoluta das pessoas terá a doença de forma assintomática ou com sintomas leves. Aí mora o perigo: ao estar confinadas em suas casas, no mesmo ambiente com demais membros da família, a pessoa poderá estar levando o vírus para os idosos e mais vulneráveis no seu lar. Pronto! Este é o problema! A questão não deveria ser resolvida com recolhimento e paralisação de toda a sociedade, mas apenas com o isolamento total dos idosos e mais vulneráveis. Desta forma a sociedade mais resistente adquiriria o vírus sem maiores problemas, criaria uma imunidade coletiva e faria o famoso tampão de contágio. Ou seja, não precisa parar o mundo pois praticamente todo mundo vai pegar este vírus cedo ou tarde. É a opinião de quem entende do assunto.

Diante disto, após ouvir o infectologista, a geriatra e o biomédico, considero razoáveis e saudáveis as medidas restritivas totais apenas em caráter temporário e num curto espaço de tempo, com prazo determinado. Resumindo: Parar tudo apenas por pouco tempo. Com um rápido recomeço, porém de forma gradativa, das pessoas mais jovens e mais saudáveis ao exercício das suas atividades profissionais, mantendo-se todos os protocolos de segurança. Mas o que está acontecendo no país é exatamente o contrário. Nem um, nem outro. Nem parou tudo, pois ainda estamos vemos aglomerações e pessoas nas ruas descumprindo protocolos. E nem temos uma previsão concreta de retorno à nossa atividade econômica. Repito: nem um, nem outro! Ou seja, o método está errado e pode nos trazer sequelas catastróficas.

Todos os estudos já apontam que a maioria absoluta dos negócios não suportará mais tempo fechados, e mesmo com a retomada imediata das atividades, muitos terão grande dificuldade de se restabelecer tendo em vista que nosso país acabou de sair da maior crise econômica da sua história. O maior obstáculo será para o setor terciário, de comércio de bens, serviços e turismo, já que o setor de construção civil, indústria e o setor primário não foram paralisados totalmente. Pergunta: com a redução da atividade econômica como fica a arrecadação dos estados e municípios? Como pagarão as folhas dos funcionários públicos se os empresários não conseguirem pagar os impostos? E os desempregados das empresas falidas ou em dificuldades, como ficarão? Tem alguém fazendo esta conta? As estatísticas apontam que os efeitos na economia trarão mais sequelas do que a pior previsão de óbitos com a covid-19. É uma questão fácil de entender, de matemática de primeiro grau. E então? Manteremos o discurso politicamente correto com tudo fechado e deixaremos nosso país virar uma terra arrasada?

Os empresários deste país precisam se unir contra a perspectiva de fechamento arbitrário de negócios a longo prazo. Muitas destas ordens de fechamento estão sendo tomadas por burocratas que nunca colocaram a barriga no balcão e jamais pagaram uma folha de funcionários. Não é por maldade de governadores ou prefeitos, o assunto é muito novo para todos eles. Muitos estão realmente tentando, com boa vontade, mas “batendo cabeça”. Na verdade o erro das autoridades é mesmo, em sua maioria, por imperícia ou inaptidão com o assunto. A exceção da boa intenção são aquelas aberrações políticas que, mesmo diante de tamanha calamidade, ainda levantam temas como Impeachment, como se não bastasse o tamanho do nosso desafio e instabilidade de agora. Pra estes, quanto pior, melhor. Por tudo isto a classe empresarial deve pautar e contribuir com este debate, especialmente através das entidades, de forma construtiva e colaborativa, sem embates. Empresários precisam inclusive se politizar, unir-se mais e votar melhor. Principalmente por que não há atores públicos, salvo raríssimas e honrosas exceções, que defendam os empregadores deste país. Portanto, uni-vos. Especialmente por que as medidas restritivas dos estados e municípios não possuem amparo legal ou constitucional, cabendo apenas ao presidente da República, com respaldo do congresso nacional, decretar tais impedimentos em uma calamidade nacional como esta. Nos casos de abusos contra a liberdade, o Presidente da República tem, inclusive, a prerrogativa de intervir nos estados e municípios para garantir a ordem e preservação de direitos, além da livre iniciativa, conforme artigo 136 da Constituição. Este embate certamente seria um desastre sem precedentes. O país não precisa disto. Basta neste momento apenas respeitar o empresário, a sua importância na economia e admitir que ele não pode ser impedido de produzir ou trazer o sustento para o lar. Quem está de acordo com medidas autoritárias de governos que fecham comércios, prendem empresários e apreendem mercadorias, deveria estar empreendendo na China, Coréia do Norte, Venezuela ou Cuba.

Acredito que os empreendedores serão diligentes, irão cumprir a sua parte e certamente concluirão completamente o período proposto de recolhimento. Mas, isto também precisa ser executado de forma efetiva pelos estados e municípios, pois de outra forma, todo este esforço empresarial será em vão. O poder público que proíbe apenas a atividade empresarial, não resolve o problema.

Precisamos cumprir rapidamente este ciclo pois é chegada a hora de arregaçar as mangas e retomar urgentemente às atividades. Mudarei de opinião se alguém apresentar alguma outra solução que permita a comida na mesa dos milhões de brasileiros autônomos e informais que precisam comer ainda hoje. Neste momento, todo cuidado é pouco, pois o efeito colateral do remédio pode ser mais mortal que a própria doença em si.

*Lúcio Flávio Rocha é publicitário, empresário, colunista e atua em entidades empresariais. É fundador e coordenador do Movimento Brasil200 em Sergipe.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do AjuNews.



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