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O governo Bolsonaro foi entubado


Publicado 29 de abril de 2020 às 08:16     Por Victor Pinto*     Foto Arquivo Pessoal

Há quem diga: é só uma crisezinha. Será? Estamos diante de uma crise na saúde, na economia e agora na seara política. O governo de Jair Messias Bolsonaro, pela primeira vez, adentrou a zona de risco como nunca antes nos últimos meses. Se vê entubado, por mais que esperneie que não. E espernear é o verbo correto para se referir ao ex-deputado e presidente da República. A saída do ex-juiz Sérgio Moro, a cara da Lava Jato, o símbolo do combate à corrupção por parte da direita e da extrema direita, agravou os sintomas, motivado com a troca de comando da PF.

Moro caiu e caiu atirando, o que já era esperado. Muitos apontaram os riscos a Bolsonaro em o classificá-lo como Super Ministro. O ex-PSL afirmou categoricamente que Moro teria carta branca e concedeu o MJ de porteira fechada. Nunca contrate alguém que você não pode demitir: esse foi o mantra que ouvi muito naquele período. De fato.

O estrago foi feito e bem feito: a acusação da interferência política na Polícia Federal fez, praticamente, o ex-juiz elogiar a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) que, como sempre pregou, não exercia esse tipo de conduta. E, creio, é só o início. O modus operandi de Moro vem de aperitivos e depois segue para o prato principal, ou você acha que o ex-chefe do MJ deixou o governo sem uma pasta rosa?!

Depois da queda, o coice: The Intercept revela movimentações suspeitas das rachadinhas do gabinete de Flávio Bolsonaro, ainda deputado estadual, com a milícia carioca e o processo de grilagem de terras, fato linkado à morte da vereadora Marielle Franco (PSOL). E um documento, cuja Folha teve acesso (a mesma Folha que cravou a saída de Moro e foi acusada de Fake News) mostra que a Polícia Federal tem em curso investigação que cita o vereador Carlos Bolsonaro como mentor da propagação de notícias falsas pesadas, inclusive com direcionamento ao Supremo Tribunal Federal.

O “tchau, querido” de Moro, no fatídico abril bolsonariano, causou um impacto medido por pesquisas sequentes: análise da Fundação Getúlio Vargas mostrou que 70% dos perfis políticos mais ativos nas redes criticaram duramente Messias e no dia seguinte a XP Investimentos, ao divulgar dados de pesquisas, apontou crescimento de 2% da rejeição do governo.

Detalhe para o discurso dilmista de Bolsonaro na tentativa de se explicar – mãe da sogra, sogra, primeira dama, filho pegador do condomínio, o verbo escrotizar, Inmetro, cheques do Queiroz, tacógrafo, taxímetros e etc.

Depois do grau dos sintomas, cujos médicos não são melhores ou tão habilidosos quanto os de Michel Temer – que o livraram de um impeachment -, por exemplo, o governo Bolsonaro segue na semi intensiva com passos para UTI. Flerta com o DEM, com Roberto Jefferson, com Valdemar da Costa Neto… quer uma sobrevida.

O mercado financeiro, um dos seus principais aliados, acenou para um novo entendimento: Paulo Guedes, outro superministro, está na mira. A postura do chefe da pasta da Economia durante o discurso de Bolsonaro mostrou semioticamente seu desalinhamento. E vale destacar: aquela cenas dos ministros e deputados no enfileirados em apoio a Bolsonaro já vimos na era Collor, em 1992, e com Dilma em 2016. A história é cíclica.

Um adendo curioso. Moro agora, alinhadíssimo que sempre foi com a TV Globo, já pode pedir música no Fantástico: bateu a marca de vazar três conversas com presidentes e ex-presidentes. O diálogo de Lula e Dilma do “Bessias”, que é um clássico, e a conversa sobre a situação de Valeixo. É tri. Haverá um tetra?

Moro foi jogado no vale dos traidores. Foi ouvido muito choro e ranger de dentes nos últimos dias. O ex-ministro carrega mais duas marcas: odiados pelos dois polos extremos da política nacional. E a vaga no STF? Tem ministro do Supremo de alma lavada.

* Victor Pinto é jornalista formado pela Ufba, especialista em gestão de empresas em radiodifusão e estudante de Direito da Ucsal. É editor do BNews e coordenador de programação da Rádio Excelsior da Bahia. Atua em outros veículos e com consultoria. Twitter: @victordojornal

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do AjuNews.



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