Política


Retrospectiva 2020 das eleições em Aracaju: Em meio à pandemia, Edvaldo é reeleito para quarto mandato


Publicado 31 de dezembro de 2020 às 12:41     Por Eduardo Costa     Foto Divulgação/Gustavo Rocha

As eleições de 2020 em Aracaju, assim como em todo o Brasil, tiveram um assunto primordial que mudou completamente o cenário: a pandemia da covid-19. Em meio a muitos casos, mortes e o medo da infecção em massa, o pleito aconteceu com várias adaptações. A principal delas foi a data: originalmente em outubro, aconteceu em 15 de novembro no primeiro turno, e em 29 de novembro no segundo turno.

O que não mudou foi o resultado na capital sergipana. O prefeito Edvaldo Nogueira (PDT) foi reeleito e irá para o seu quarto mandato entre 2021 e 2024. Além dele, várias questões balançaram o cenário e provocaram uma eleição completamente diferente.

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Onze candidatos a prefeito e divisão da oposição
A eleição a prefeito de Aracaju foi bastante marcada pela alta quantidade de candidatos: foram onze chapas majoritárias. Além do prefeito Edvaldo Nogueira, também disputaram: Alexis Pedrão (PSOL), Almeida Lima (PRTB), Delegada Danielle (Cidadania), Delegado Paulo Márcio (DC), Georlize (DEM), Gilvani Santos (PSTU), Juraci Nunes (PMB), Lúcio Flávio (Avante), Márcio Macêdo (PTB) e Rodrigo Valadares (PTB).

Todas as outras dez chapas fizeram várias críticas à gestão de Edvaldo. Mas a divisão da oposição favoreceu a situação, que liderou no primeiro turno com 45,57%, o equivalente a 119.681. Sua rival no segundo turno foi a Delegada Danielle, com 21,31%, em um total de 55.973 votos.

No segundo turno, apenas o Delegado Paulo Márcio declarou apoio a Danielle. Todos os outros candidatos alternaram entre apoio a Edvaldo, seja direto ou em voto crítico, e neutralidade. Com isso, a vantagem do prefeito para a postulante rival se manteve estável e não foi revertida.

Resultados do segundo turno
O segundo turno das eleições 2020 em Aracaju reuniu dois candidatos antagônicos na esfera política. De um lado, Edvaldo Nogueira, vice-prefeito de Aracaju em dois mandatos e prefeito em outros três. Do outro, a Delegada Danielle, que se destacou pelo trabalho na Polícia Civil e jamais havia disputado um cargo público.

Por conta da pandemia, que adiou as datas e apertou o calendário, o segundo turno foi o mais curto da história. Apenas 14 dias separaram as duas votações, de 15 a 29 de novembro. Com isso, as duas campanhas partiram para o ataque direto, além da tentativa de convencimento aos que não foram votar por conta da covid-19.

No fim das contas, o resultado se manteve como ficou no primeiro turno. Edvaldo Nogueira venceu e foi reeleito, mas com uma boa diminuição de vantagem. Ele teve 150.823 votos, contra 109.864 de Danielle. Na porcentagem, 57,86% contra 42,14% (confira mais detalhes aqui).

Judicialização da disputa
Com a campanha limitada na questão de atos nas ruas e aglomerações, os candidatos partiram com grande foco para as mídias, em especial o virtual. Um fenômeno que já era esperado, especialmente após o pleito presidencial de 2018, mas que com a covid-19 ganhou ainda mais força. E com isso veio algo que foi muito recorrente nas eleições de 2020 em Aracaju: a judicialização da disputa.

Foram vários os pedidos de retiradas de publicações, propagandas eleitorais e multas. Candidatos como Edvaldo Nogueira, Delegada Danielle e Rodrigo Valadares tiveram seus nomes várias vezes envolvidos em liminares e decisões judiciais. Uma boa quantidade de propagandas foi suspensa, e multas também foram aplicadas.

Até mesmo um órgão de comunicação institucional foi afetado. Por meio de uma ação de Danielle, a TV Alese foi obrigada a pagar uma multa de R$ 20 mil e ficar um dia com programação suspensa, por supostamente ter veiculado propaganda em favor de Rodrigo oito horas seguidas. Segundo a Alese, o fato se deu porque um problema técnico ocorreu no período da imagem congelou o sinal justamente durante uma propaganda do candidato.

Rodrigo também se envolveu em polêmica judicial com o o PSL e com o candidato Lúcio Flávio. Em outubro, a então candidata a vereadora por Aracaju, Rosy Silva, afirmou que lideranças do PSL estariam exigindo que candidatas assinassem “recibo em branco” como “laranjas”.

No mesmo caso, em novembro, o então candidato Lúcio Flávio denunciou Rodrigo e Fábio Valadares à Polícia Federal (PF), relatando um suposto encontro com Rosy Silva. Segundo Lúcio, Rosy teve garantia do parlamentar que receberia R$ 186.003,67 para gastos com despesas da campanha.

Depois de ter fechado contrato com uma assessoria e equipe de marketing, de acordo com o documento, Rodrigo ordenou que ela contratasse um grupo de sua indicação. Além disso, a mulher também teria sido “constrangida” pelo deputado para que divulgasse o material de campanha dele (relembre o caso aqui).

Ausência de debates na TV
Outro ponto bastante marcante da disputa das eleições 2020 em Aracaju foi a ausência dos conhecidos debates na TV. Os duelos entre os candidatos foram muito aguardados, mas não aconteceram nem no primeiro, nem no segundo turno.

No primeiro turno, por determinação das emissoras, os debates só aconteceriam com os candidatos mais bem pontuados nas pesquisas, para evitar aglomerações com a pandemia da covid-19. Mas a proposta não foi aceita, com os mesmos apenas aceitando debater em caso de presença de todos os onze. Sem acordo, os encontros não aconteceram.

Já no segundo turno, com apenas Edvaldo e Danielle na disputa, a expectativa foi muito grande pelo embate. Mas desta vez, o prefeito decidiu rejeitar os convites e não esteve nem na TV Atalaia, nem na TV Sergipe. Nesta última, inclusive, Danielle esteve sozinha para responder a perguntas variadas.

O fato não aconteceu apenas nas TVs, mas também em outras empresas de mídia e grupos que pediram a organização de debates. Ou seja: o aracajuano passou pela eleição de 2020 sem ver um debate para a prefeitura sendo realizado.

Altíssimo índice de abstenções
O fato de o pleito acontecer em meio à pandemia gerou reações variadas. Por um lado, várias medidas de prevenção contra a covid-19 foram descumpridas, em especial durante a campanha. Do outro, muitas pessoas sentiram medo e decidiram não sair para votar. O resultado foi uma abstenção recorde.

O número já havia sido alto no primeiro turno, com onze candidatos à disposição nas urnas. Mas no dia 15 de novembro, a capital sergipana registrou maior abstenção nas eleições desde 2004. Foi registrada abstenção de 25%, um total de 101.502 pessoas.

Nas eleições de 2004, 13% negaram ou se eximiram de fazer opções políticas. No ano de 2008, o índice foi de 15%, 2012 a taxa foi de 9%, enquanto que 2016 registrou 18% (mais detalhes aqui).

No segundo turno, o índice foi ainda maior. Um impressionante total de 144.214 eleitores optou por não sair e votar no dia 29 de novembro. Somando-se com os brancos e nulos, o total foi de 38,53% de pessoas que não escolheram candidatos. Na proporção, a cada 2,8 eleitores, um não compareceu às urnas.

Renovação e representatividade na Câmara Municipal
Além da eleição para prefeito, também foi realizado no primeiro turno o pleito para a Câmara Municipal. E a eleições legislativas de 2020 em Aracaju tiveram marcos históricos e definiram muitas mudanças entre os vereadores.

A renovação foi maior que a esperada: somente nove entre os 24 vereadores da Câmara de Aracaju foram reeleitos para o mandato entre 2021 e 2024. Seguem na Casa o atual presidente Nitinho (PSD), Emília Corrêa (Patriota), Vinicius Porto (PDT), Palhaço Soneca (PSD), Manuel Marcos (PSD), Anderson de Tuca (PDT), Isac (PDT), Professor Bittencourt (PCdoB) e Fábio Meireles (PSC).

Outros 15 vereadores vão para o primeiro mandato ou retornam à Câmara. E entre eles, um resultado histórico. A a representante do movimento LGBTQIA+ Linda Brasil (PSOL) virou destaque nacional ao ser eleita a primeira mulher trans vereadora na capital. E mais ainda: ela foi a candidata mais votada, 5.773 votos.

Linda, que é formada em Letras e mestranda em Educação, teve 2.306 votos em 2016, mas não se elegeu por causa do coeficiente eleitoral. Dois anos mais tarde, concorreu como deputada estadual e também ficou sem vaga na Assembleia Legislativa do Estado de Sergipe (Alese). Agora, mudou a história e abriu um marco na política aracajuana. Confira entrevista do AjuNews com Linda Brasil clicando aqui.

Além dela, os outros candidatos eleitos foram: Eduardo Lima (Republicanos), Breno Garibalde (DEM), Pastor Diego (PP), Fabiano Oliveira (PP), Sheyla Galba (Cidadania), Joaquim da Janelinha (PROS), Ricardo Vasconcelos (Rede), Ricardo Marques (Cidadania), Sávio Neto de Vardo Lotérica (PSC), Professora Ângela Melo (PT), Sargento Byron Estrelas Mar (Republicanos), Paquito de Todos (SD), Cícero do Santa Maria (Pode) e Binho (PMN).

Quem também merece destaque é Sheyla Galba, que deixou a decisão de seu mandato para o último minuto. Eleita vereadora, ela era suplente do deputado estadual Dilson de Agripino (Cidadania), que foi eleito prefeito de Tobias Barreto, no Centro Sul sergipano. Assim, ela poderia escolher entre quatro anos na vereança ou dois anos como deputada estadual. Em dezembro, ela decidiu ficar na Câmara de Aracaju.



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