Entrevista
Edvaldo Nogueira é uma peça de marketing e se entregou à direita, diz Márcio Macêdo
Vice-Presidente Nacional do PT e pré-candidato à prefeitura de Aracaju, Márcio Macêdo afirmou em entrevista ao AjuNews que o apoio da sigla foi decisivo para eleição do prefeito da capital sergipana, Edvaldo Nogueira (PDT), no último pleito municipal. O petista o define como “uma peça de marketing”.
Sobre a gestão de Edvaldo durante a pandemia, Macêdo avaliou que situação a situação se agravou por causa de um desmonte na saúde pública. “Edvaldo, nesse momento de crise revela-se um mau gestor, porque gestor bom é o que cuida das pessoas e ele não cuida das pessoas”.
O rompimento entre o partido e a gestão de Edvaldo foi oficializado em janeiro deste ano, quando o professor Cássio Murilo Costa foi substituído na direção da Fundação Cultural Cidade de Aracaju (Funcaju) pelo jornalista Luciano Correia,após a sigla anunciar a pré-candidatura de Márcio.
“Edvaldo se entregou à direita e faz uma administração conservadora, incapaz de colocar o povo no orçamento da prefeitura e nas prioridades das políticas públicas. O PT foi decisivo nas eleições que Edvaldo ganhou para prefeitura de Aracaju”, avaliou. À reportagem, ele também ressaltou que o PT e a vice-governadora de Sergipe, Eliane Aquino, “não foram tratados com a importância que tiveram” na vitória dele nas urnas.
O petista também comentou a proposta feita por deputados da oposição ao governo Belivaldo Chagas (PSD) que pedem a saída de Sergipe do Consórcio Nordeste. “Acho um grande erro. É a experiência de administração pública mais relevante em curso no Brasil”, disse e criticou a gestão do presidente Jair Bolsonaro, segundo ele, “um projeto obscurantista”.
Macêdo também defendeu que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva seja o candidato do partido nas eleições de 2022. “Se o presidente Lula recuperar seus direitos políticos usurpados por um processo judicial parcial e arbitrário, ele é candidato natural a Presidente da República”.
Leia a entrevista na íntegra:
AjuNews: Em declarações recentes, o senhor tem dito que o prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira (PDT), desmontou o Sistema Básico de Saúde projetado pelo ex-prefeito Marcelo Déda (in memoriam). Que desmonte seria esse?
Márcio Macêdo: O desmonte iniciou no governo do seu antecessor e ele continuou. Se mostra em duas frentes: primeiro, na incompetência como gestor, terceirizando a administração e segundo, não priorizando os investimentos na saúde na proporção que a sociedade necessita. Por exemplo, o orçamento da prefeitura de Aracaju para esse ano prevê um gasto em comunicação e propaganda de R$ 16,8 milhões e de investimentos na saúde de R$ 3,8 milhões dos recursos do tesouro municipal.
Não investiu adequadamente na atenção básica. As equipes e unidades básicas de saúde da família são as mesmas que Déda e o PT deixaram há 16 anos, quando a cidade tinha 480 mil habitantes e hoje tem mais de 600 mil. Aí reside um déficit de pelo menos 40 equipes e 10 unidades básicas de saúde da família para suprir o crescimento populacional.
Os hospitais da Zona Norte, Néstor Piva e o da Zona Sul, Fernando Franco, não cumprem adequadamente o papel de pronto atendimento: falta equipe de profissionais de saúde, não tem laboratório, não tem raio x digital, as filas e a baixa qualidade do atendimento são frequentes.
Abandonou o acompanhamento domiciliar aos pacientes diabéticos, hipertensos e as crianças de zero a um ano. Permitiu uma defasagem na quantidade das equipes de agentes de saúde da família, bem como a precariedade nas condições de trabalho, salarial e de equipamentos de proteção individual. Negligenciou na política de saúde bucal e de especialidades odontológicas para atender a população de baixa renda. Não contratou novos profissionais de saúde e nem atualizou os protocolos de saúde que os tempos atuais necessitam. Deixou de fazer o essencial que é cuidar de forma prioritária da saúde das pessoas.
AjuNews: Houve um sentimento de “traição” dentro PT quando Edvaldo supostamente declinou para centro-esquerda?
Márcio Macêdo: Edvaldo se entregou à direita e faz uma administração conservadora, incapaz de colocar o povo no orçamento da prefeitura e nas prioridades das políticas públicas. O PT foi decisivo nas eleições que Edvaldo ganhou para prefeitura de Aracaju. Edvaldo se distanciou do projeto original de Déda. Acabou com a participação popular, com o orçamento e o planejamento participativo, esvaziou os mecanismos de controle social e de transparência pública. Reproduz um modelo de execução de obras sem levar em consideração o meio ambiente e os conceitos modernos de urbanismo, a exemplo das recorrentes enchentes que ocorrem na cidade. Não tem um programa de transferência de renda para os mais pobres. Não cuida das pessoas. O PT continua onde sempre esteve, ao lado do povo. Edvaldo é que fez uma opção política e mudou de lado.
AjuNews: A saída de Eliane Aquino da prefeitura para disputar o governo ao lado Belivaldo Chagas teria sido a gota d’água na relação?
Márcio Macêdo: Eliane saiu para cumprir uma tarefa grandiosa que foi ajudar a ganhar a eleição estadual de 2018. Nem o PT e nem Eliane foram tratados pelo prefeito Edvaldo com a importância que tivemos na definição do nome dele para a disputa eleitoral e na sua eleição para a prefeitura de Aracaju, tampouco com a importância que o PT tem na sociedade. Além de não levar em consideração o legado e a experiência exitosa na administração pública que o PT teve na prefeitura de Aracaju e no Governo do Estado.
AjuNews: Como o senhor avalia a gestão do prefeito Edvaldo e do governador de Sergipe, Belivaldo Chagas (PSD), diante da pandemia? O que o senhor defende?
Márcio Macedo: Em primeiro lugar, quero lamentar o números de vidas perdidas para a covid-19. Venho me solidarizar com as famílias que perderam os seus entes queridos nessa guerra contra o coronavírus e agradecer aos profissionais de saúde que estão na linha de frente no combate à pandemia. Reconheço o esforço e o trabalho conjunto realizado pelo consórcio dos governadores do Nordeste, no qual o Governo de Sergipe está inserido, no combate à pandemia. Ressalto a firmeza de Belivaldo em manter o decreto de isolamento social, diante da pressão de setores do empresariado para promover abertura no momento de agravamento e proliferação da doença. Ao passo que evidencio a ação conjunta do governador Belivaldo e do senador Rogério Carvalho na aquisição de respiradores para Sergipe.
Em relação ao prefeito Edvaldo, ele se concentra em ações laterais, coadjuvantes e não enfrenta as duas grandes dimensões do coronavírus: a crise de saúde e a crise econômica. Vejamos. Não fez uma UTI, não comprou um respirador, não investiu em EPIs suficientes para os profissionais de saúde. Não criou a renda mínima para as pessoas que não tem renda, como os ambulantes, feirantes e profissionais liberais, não criou programas como o vale gás e a distribuição efetiva de cestas básicas para os mais necessitados, não produziu ações que diminuísse as despesas desses cidadãos, como isenção do IPTU, não buscou parcerias para suspender as taxas de água e de luz para os mais pobres durante a pandemia. Não construiu um programa para atender os taxistas, os motoristas de aplicativos e de transporte escolar. Não criou mecanismos para ajudar os micro, pequenos e médios empresários. Ao passo que contratou esse ano, sem licitação, R$ 4.697.500 para propaganda e marketing. Além de gastar R$ 3,2 milhões num hospital de campanha sem uma UTI. Edvaldo, nesse momento de crise revela-se um mau gestor, porque gestor bom é o que cuida das pessoas e ele não cuida das pessoas. Ele é uma peça de marketing.
AjuNews: Alguns deputados defendem a saída de Sergipe do Consórcio Nordeste, alegando que o estado ficou na mão durante a pandemia. Qual sua avaliação?
Márcio Macêdo: Acho um grande erro. O Consórcio do Nordeste é a experiência de administração pública mais relevante em curso no Brasil em tempos tão difíceis de pandemia e onde se tem à frente da nação um projeto obscurantista liderado por Bolsonaro.
AjuNews: Após 16 anos, o PT vai lançar pré-candidatura própria em Aracaju e o seu nome foi escolhido. Como encara essa missão?
Márcio Macêdo: Com a serenidade da justeza do projeto do PT que represento nesse pleito. Com a responsabilidade do legado de Déda e de Lula que nos trouxe até aqui. Com a força de uma vida pautada na ética e na retidão de caráter e com a coragem e a determinação que o momento exige.
AjuNews: Existe a possibilidade de a vice ser ocupada por outro partido ou o PT vai apostar em uma chapa puro sangue? Existe a possibilidade de ser ocupada por um representante de uma minoria?
Márcio Macêdo: A decisão do vice-prefeito(a) será tomada mais adiante, no momento certo. As opções que você aqui citou serão levadas em consideração na hora da tomada de decisão.
AjuNews: O senhor defende o adiamento das eleições ou um novo formato?
Márcio Macêdo: A decisão do adiamento da eleição para o final desse ano depende das condições sanitárias do país e do avanço ou não da pandemia.
AjuNews: O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou recentemente que a legenda estuda lançar o governador da Bahia Rui Costa (PT) ou o governador do Maranhão Flávio Dino (PCdoB) como pré-candidatos à presidência da República nas eleições de 2022. Qual a sua avaliação e preferência?
Márcio Macedo: Se o presidente Lula recuperar seus direitos políticos usurpados por um processo judicial parcial e arbitrário, ele é candidato natural a Presidente da República. Além de Lula, o PT tem nomes fortes como Fernando Haddad, Rui Costa, [senador] Jaques Wagner, [governador do Piauí] Wellington Dias e um aliado da primeira hora como Flávio Dino. O fato é que o PT estará disputando com chance reais de ganhar a eleição de 2022.
*Colaborou Peu Moraes
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