Educação


Enem 2020: Todo evento que aumenta a circulação de pessoas aumenta o risco de transmissão da covid-19, diz infectologista


Publicado 13 de janeiro de 2021 às 07:30     Por Fernanda Souto     Foto Divulgação/ Governo de Sergipe

Com o aumento dos casos e mortes em decorrência da covid-19 no Brasil, estudantes têm se manifestado contra a realização do Enem 2020, marcado para este domingo (17) e para o dia 24, questionando as medidas de segurança nos locais onde as provas serão aplicadas.

Ao AjuNews, o infectologista Marco Aurélio de Oliveira Góes afirmou que “todo evento que aumenta a circulação de pessoas aumenta o risco de transmissão”. No entanto, ele frisou que, com as medidas tomadas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) o risco será menor.

“Todo evento que aumenta a circulação de pessoas aumenta o risco de transmissão. Então, as medidas realizadas nos espaços são essenciais para diminuir esse risco. Também é importante que as pessoas evitem aglomerações antes de irem aos locais e depois de saírem para diminuir o risco da transmissão”, disse.

Na edição deste ano, o Enem tem 5,78 milhões de candidatos confirmados. Serão 5h30 de prova no primeiro domingo, e 5h no segundo. Entre as medidas adotadas estão a redução em 50% da capacidade máxima de alunos por sala e o distanciamento social de 2 metros. Portas e janelas terão de ficar abertas.

Apesar disso, alguns estudantes tem se posicionado contra a realização da prova, em janeiro, e pedem o adiamento. No entanto, o pedido não se deu apenas devido à covid-19, e sim, também, pela falta de preparação que muitos alunos, principalmente da rede pública, tiveram.

Para Isabelle Freitas, estudante da rede pública e vestibulanda em Medicina, o Enem 2020 será a edição “mais injusta da história”. Segundo ela, a falta de preparação dos alunos alinhada com a ausência de planejamento do Inep e do Ministério da Educação (MEC) “só mostra a desigualdade do Brasil e como o governo não se importa com os estudantes”.

“Tem a questão psíquica. Eu perdi meu avô em setembro. Eu e meus familiares tivemos covid, e isso atrapalhou meus estudos. Isso deveria ser considerado. O MEC apenas levou em conta a questão das universidades, e não a dos estudantes”, frisou a vestibulanda.

Para o recém-formado no ensino médio, Fábio David, a aplicação do exame apenas deveria ser feita quando a vacina contra a covid-19 fosse garantida. Porém, até o momento, em Sergipe, apenas há um plano de imunização, sem data de início, em que prioriza pessoas do grupo de risco nas primeiras fases.

“Acho que deveria ser adiado para um momento onde a taxa de contaminação e mortalidade estivessem em declínio, além da vacina já estar em início de aplicação”, disse o estudante.

Por outro lado, há também quem defenda que o Enem 2020 aconteça conforme foi previsto. À reportagem, a vestibulanda Laís Gonçalves Rodrigues afirmou que é favor da realização da prova, pois, para ela, o adiamento “causaria transtorno mais para frente”. “A prova já foi adiada do ano passado para esse, e neste ano vai ter o Enem novamente. Mais um adiamento causaria mais transtorno. Como vai ter vacina, acho que não tem porquê”, alegou.

“Para que o Enem seja mais seguro, as medidas que o Inep já está tomando, como uso de máscara e álcool em gel, sem ficar nos corredores, já são suficientes. Mas para ser inclusivo é mais difícil, porque nem todos tiveram a oportunidade de estudar e ter um acompanhamento. Está sendo difícil para todo mundo, uns enfrentados problemas mais do que os outros, principalmente aqueles que perderam seus familiares”, acrescentou.

Ao site, a estudante ainda frisou o trabalho dos professores que, mesmo em meio a pandemia e submetidos ao ensino remoto, continuaram acolhendo e motivando os alunos. “Para mim, o acolhimento dos professores e coordenadores foi essencial, porque sempre nos acolheram e motivaram. Não se compara ter uma aula presencial ao EaD. Você sente o acolhimento e vibração, mas não foi ruim, pior seria pior se não tivesse a oportunidade de estudar, como a falta de internet e material”, afirmou Laís.

O coordenador do polo do Pré-Universitário de Lagarto, Clécio Santana, afirmou ao site que, com a ausência dos professores em sala de aula, os alunos tiveram muita dificuldade, com a falta de estímulo presencial e muitos acabaram desistindo.

“Alguns optaram por não aderir às aulas remotas e aqueles que optaram tiveram dificuldades com o acesso à internet, o que aumentou o número de desistentes. Vale salientar que os professores se reinventaram, usando as mais diversas plataformas (lives no insta, YouTube, whats , áudio, materiais, links.)”, disse Clécio.

A professora de Redação e Espanhol, Andréia Dória, frisou também os desafios enfrentados pelos professores. “O maior desafio foi manter os alunos estimulados num cenário adverso. Falo em adverso porque muitos não tinham celular e internet. Faltou até espaço na casa de alguns educandos para que pudessem escrever seus textos, por exemplo”, disse. “Eu sou do grupo de risco e não voltei ao modelo presencial, mas sempre forneci instrumentos e orientações sobre as minhas disciplinas pelo grupo do Pré-Universitário”, acrescentou a professora.

Procurada pela reportagem para esclarecer sobre as medidas sanitárias adotadas nas escolas onde as provas serão aplicadas, a Secretaria de Estado da Educação, do Esporte e da Cultura (Seduc) informou que ainda não recebeu nenhuma informação sobre o assunto do Inep.

Medidas do Inep
Dentre as principais medidas de segurança adotadas pelo Inep estão:

Uso obrigatório de máscaras para candidatos e aplicadores;
Disponibilização de álcool em gel nos locais de prova e nas salas (a quantidade total só será conhecida após a aplicação do exame);

Recomendação de distanciamento social no deslocamento até as salas de provas;

Identificação de candidatos do lado de fora das salas, para evitar aglomeração – haverá marcações no piso para ter distanciamento, caso haja fila;

Contratação de um número maior de salas: na edição de 2019 foram 140 mil locais de aplicação. Agora, serão 200 mil;

Salas de provas com cerca de 50% da capacidade máxima;

Candidatos idosos, gestantes e lactantes ficarão em salas com 25% da capacidade máxima;

Higienização das salas de aulas, antes e depois do exame.



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