Política


Legado: João Alves Filho e a preocupação com o sertão, cidade e meio ambiente


Publicado 25 de novembro de 2021 às 08:25     Por Dhenef Andrade e Larissa Barros     Foto Divulgação / Prefeitura de Aracaju

A história do ex-governador de Sergipe João Alves Filho foi marcada pelo desejo de trazer mais dignidade ao povo sergipano. A preocupação com o sertão, cidade e o meio ambiente proporcionaram à carreira política de João Alves, um conjunto de obras que juntas fazem do seu legado único no menor estado territorial do país.

No dia 25 de novembro do ano passado, aos 79 anos,  João do “Chapéu de Couro” faleceu após uma parada cardíaca. No entanto, todo o seu trabalho e história de vida continuam fazendo parte da rotina dos aracajuanos e sergipanos. A trajetória de João sempre foi visionária. Entre os projetos mais importantes da sua vida política estão aqueles que mudaram a realidade do sertanejo.

João assumiu seu cargo público em 1975 como prefeito de Aracaju, nomeado de forma indireta, durante a Ditadura Militar. O ‘Negão’ também foi ministro do Interior do Brasil entre os anos de 1987 e 1990. Ascendeu ao governo de Sergipe por 3 vezes (1983 a 1986; 1991 a 1994 e 2003 a 2006). Voltou à prefeitura de Aracaju, em 2013. Sua trajetória foi acompanhada sempre pela senadora Maria do Carmo (DEM-SE).

Um projeto ambicioso em seu primeiro mandato como governador de Sergipe, em 1983, João, olhando mais uma vez para o sertanejo, proporcionou uma mudança na realidade do Agreste e Semiárido. Um conjunto de obras que ficou conhecido não somente à nível nacional, mas também internacional. Era o Projeto Chapéu de Couro, que teve apoio do Banco Mundial, e rendeu a João um outro apelido que carregaria até o último dia no plano terrestre.

Foram feitas perfuração de poços artesianos, construção de cisternas, redes de energia elétrica, escolas, postos de saúde. O sertão nunca mais foi o mesmo. Um dos marcos históricos de Sergipe. A questão hídrica foi uma das meninas dos olhos do gestor. Levar água para quem precisa movia João a tecer planos e alternativas. Ainda durante o primeiro mandato no Palácio dos Despachos, João das águas, como ficou conhecido, Sergipe enfrentava uma grande seca.

Um programa de construção de adutoras foi iniciado e o estado, que antes contava com apenas a adutora do São Francisco para abastecer Aracaju, viu a construção das irmãs Alto Sertão, Sertaneja, Piauitinga, no Agreste e Baixo São Francisco, fortalecerem o abastecimento de água de Sergipe.

João, o Construtor, também tinha o sonho de ver concretizado o Canal de Xingó. A obra foi pensada pelo ex-governador, mas não se concretizou, principalmente devido à rixas políticas. Apaixonado pelo Velho Chico, o ‘Negão’, viu na obra a solução para o problema da falta de água dos sergipanos acometidos com a seca. Décadas depois, o projeto está prestes a ter seu início.

No último mês, em sua segunda visita a Sergipe, o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, na sede da Codevasf, em Aracaju, comandada por seu sobrinho, o empresário Marcos Alves Filho, confirmou que as obras deverão ser iniciadas em 2022. O projeto vai ampliar a oferta de água nas cidades de Paulo Afonso e Santa Brígida, no estado da Bahia, e em Canindé do São Francisco, Poço Redondo, Porto da Folha, Monte Alegre de Sergipe e Nossa Senhora da Glória, em Sergipe.

Na capital sergipana, se estendem por áreas da saúde, urbanização, mobilidade urbana e turismo. Entre as construções importantes do seu governo está o Hospital de Urgência de Sergipe Governador João Alves Filho (Huse), localizado no bairro Capucho, na Zona Oeste de Aracaju. A unidade de saúde foi inaugurada em uma de suas gestões, em 1986. Atualmente, é o maior hospital público do estado.

Já em 24 de setembro de 2006, a construção da Ponte Construtor João Alves, que liga a capital Aracaju ao município da Barra dos Coqueiros proporcionou o crescimento econômico da região. Com mais de 1.800 metros de extensão, a ponte foi considerada um incentivo a mais para que o turismo e a indústria pudesse se desenvolver no estado.

Além do campo político, cabe lembrar da veia literária do ex-governador. João é membro da Academia Sergipana de Letras. Ligado às questões sócio ambientais, João tem uma vasta produção que perpassa por temas que vão desde a questão hídrica, uma de suas paixões, até secas e demais questões que o sertanejo e a população nordestina conhece bem. Seu último livro, lançado em 2008, versa sobre a transposição do Rio São Francisco. Não à toa o ‘Negão’ tem o apelido carinhoso de João das águas tamanha a dedicação com o tema.

O envolvimento com a política incrementou sua escrita no sentido de não somente apontar causar, mas também soluções e medidas que podem ajudar a enfrentar tais problemáticas. Sua gestão foi marcada por tais preocupações. As obras lançadas por João são Nordeste, Região credora (1985); No outro lado do mundo (1988); Amazonas & Nordeste – Estratégias de desenvolvimento (1989); Conferências (1990); Pontos de Vista (1994); Nordeste – Estratégias para o sucesso (1997); Transposição das Águas do São Francisco – Agressão à Natureza x Solução Ecológica (2000); Matriz energética brasileira – Da crise à grande esperança (2003); Toda a Verdade sobre a transposição do Rio São Francisco (2008); Transposição do São Francisco – Uma Análise dos aspectos positivos e negativos do projeto que pretende transformar a Região Nordeste.

A história de Sergipe e de Aracaju possui grandes contribuições e marcas deixadas por João Alves. Apesar de já ter se passado um ano desde a morte do ex-governador, as memórias de João das Águas continua chegando a todos os sergipanos.



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