Política


Lava-Jato evitou prender Lula após grampos com Dilma para não transformá-lo em “mártir”, diz site


Publicado 06 de fevereiro de 2021 às 09:30     Por Eduardo Costa     Foto Arquivo/Agência Brasil

A força-tarefa da Operação Lava-Jato comemorou os grampos divulgados das ligações entre os ex-presidentes Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva em março de 2016, mas mostrou temor em transformar Lula em “mártir”. Segundo o portal UOL, em diálogos no aplicativo de mensagens Telegram, procuradores falavam que não havia “espaço político” para prisão no momento.

Os procuradores celebraram a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, que à época barrou a posse de Lula como ministro da Casa Civil do governo Dilma. O procurador Paulo Galvão chegou a escrever em 18 de março de 2016: “dá-lhe, Gilmar!”. No mesmo momento, outros magistrados começaram a discutir a preparação da denúncia, para apresentação ao então juiz Sergio Moro.

O procurador Andrey Borges de Mendonça foi um dos que pediu também uma união entre posicionamentos da Procuradoria-Geral da República, então representada por Rodrigo Janot, e o STF. “É importante refletir sobre isso. Ter uma posição uníssona com o PGR seria bem importante”, afirmou.

Porém, a força-tarefa começou a prezar pela cautela. A sugestão era que, como o STF ainda avaliaria a manutenção da decisão de Gilmar Mendes, Lula poderia acabar se tornando um “mártir” da situação.

“Caríssimos, acho que temos que ter um pouco de cuidado para não fazer um mártir. Ou pior, um mártir vivo, justificando o discurso do Lula de que se vê como preso político. Possivelmente a liminar será levada a plenário em uma semana, talvez na quarta pós Páscoa. Não vejo, assim, necessidade de pressa (embora minha vontade seja noutro sentido)”, disse o procurador regional Antônio Carlos Welter.

“Ele [Lula] voltaria encarnando um ressuscitado após a semana santa. Pior cenário impossível. Sugiro, assim, que seguremos o andor. Até porque, se confirmada a liminar, qualquer providencia poderia ser encetada imediatamente”, completou Welter.

Ele justificou a ideia com o fato de que “críticas que, até então, não tinham surgido, que passaram a vir de vozes mais temperadas, seja na nossa classe, no judiciário, ou ainda na imprensa”. Assim, a prisão de Lula naquele primeiro momento foi descartada pela Lava-Jato.

Lula foi denunciado por obstrução de Justiça em julho de 2016. Dois meses depois, foi feita a primeira denúncia da Operação Lava-Jato contra o ex-presidente, por conta do tríplex no Guarujá (SP). Em 2018 ele foi preso, e apenas em 2019 foi feita a análise do STF sobre a nomeação de Lula como ministro.

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