Saúde
Apesar do incentivo, sergipanas enfrentam burocracia para tratamento contra o câncer de mama
A campanha do Outubro Rosa, que acontece todos os anos, tem objetivo de ampliar informações sobre o câncer de mama e do colo de útero, com meios de prevenção, diagnóstico e tratamento, porém essa realidade muda no menor estado do país. Em Sergipe, apesar do incentivo, as mulheres enfrentam uma grande luta, desde a descoberta da possibilidade de estar com um nódulo até o diagnóstico. Foi o que relatou em entrevista ao AjuNews, a vereadora de Aracaju, Sheyla Galba (Cidadania), que já lutou e venceu a doença.
Segundo a ativista e parlamentar, o problema está no gerenciamento do sistema, que é feito de forma negativa e burocrático. Ao site, Galba, que já sentiu na pele, relatou a demora enfrentada por mulheres em busca de tratamento contra o câncer no estado. “Inicia nas Unidades Básicas de Saúde. A exemplo do câncer de mama, a mulher sente um nódulo na mama e vai marcar uma consulta na UBS. Chega lá ela é atendida por uma enfermeira que faz um toque nela e a encaminha para um clínico. O clínico atende e encaminha para o mastologista. E aí demora de seis, sete, oito e nove meses para um mastologista atender essa pessoa. Ela consegue a consulta com mastologista pelo SUS e ele vai pedir uma mamografia”, disse.
“Daí é outra luta de dois, três, quatro, cinco e até seis meses para ela fazer a mamografia. Se ele pedir a ultrassonografia é mais 12 meses para ela tentar descobrir se está com câncer, com nódulo maligno ou benigno. Com os resultados na mão, ele vai encaminhar para fazer uma biópsia e a biópsia quem faz é a Secretaria Estadual de Saúde (SES), e isso demora em torno de seis a oito meses para ela conseguir fazer. Aí vamos mais 40 dias para receber o resultado. E aí demora em média de um mês a um mês e meio para ela entrar numa fila para ser atendida pelo urologista clínico para ele decidir se ela vai fazer a quimioterapia ou se vai enviá-la para um cirurgião”, afirmou.
Além disso, outra coisa que corrobora com a demora do tratamento na rede pública de Sergipe é a existência de apenas uma unidade como porta aberta para o paciente oncológico, que é o Hospital João Alves Filho. “Por isso, é tão essencial o Hospital do Câncer de Sergipe aqui na capital. Falo diretamente para o governador Belivaldo Chagas (PSD), por favor, dê continuidade à construção desta unidade hospitalar. As pessoas estão morrendo sem tratamento”, ressaltou.
Sheyla Galba faz parte do projeto Mulheres de Peito, que luta pelo tratamento digno das mulheres. Segundo ela, a instituição atende uma média de mais de 200 mulheres e oferece para aquelas que estão em tratamento e que possuem condições financeiras mais baixas: cesta básica, atendimento psicológico, atendimento com nutricionista, atendimento com fisioterapeuta e pilates.
É lei!
Em 2020, a lei estadual de nº 7.526/2012, de autoria da deputada estadual Goretti Reis (PSD), instituiu oficialmente a Campanha Outubro Rosa em Sergipe. Ao AjuNews, a parlamentar detalhou como as políticas públicas aumentaram o incentivo para o tratamento do câncer de mama e o câncer do colo de útero, desde a rede de Atenção Básica, nas Unidades Básicas de Saúde (UBS’s) nos municípios sergipanos.
Segundo Goretti, a Campanha Outubro Rosa é uma proposta internacional que visa “Dentro deste contexto, conscientizamos o Poder Executivo para melhorar e ampliar a política de atenção à mulher, o acesso e formas para o tratamento seguro, ágil e eficaz”, pontuou.
Durante todo o mês de Outubro, os municípios promovem ações de prevenção, promoção e agilizam o tratamento para pessoas com câncer de mama ou de colo de útero. “As equipes de Saúde da Família, estratégia hoje presente nos municípios, dispõe de meios e são habilitadas para preencher o formulário específico do Ministério da Saúde e incluir no sistema de marcação para realizar o exame”, explanou Reis.
Mais políticas públicas
Ao site, a senadora Maria do Carmo Alves (UB), também defensora das causas femininas, afirmou que o Governo do Estado precisa investir mais em prevenção e diagnóstico precoce, “que são as condições essenciais para salvar vidas e evitar o imenso sofrimento que o câncer causa aos pacientes e às famílias”.
“É preciso criar um programa sério de prevenção, a exemplo do que fizemos com o Pró-Mulher-Pró-Família, que fazia atendimento itinerante, indo até as mais distantes localidades de Sergipe para fazer atendimento de saúde. Durante a execução desse programa as filas hospitalares diminuíram, uma vez que muitos exames e tratamentos eram realizados no próprio local de atendimento”, disse.
Em Sergipe, recentemente foi relatado que havia pacientes na fila de espera para fazer tratamento contra o câncer de mama e do útero, no Hospital João Alves Filho. No entanto, a Lei 13.896/2019 garante a pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), com suspeita de câncer, o direito à realização de exames no prazo máximo de 30 dias.
Para a senadora, o governo deve tomar providências para o atendimento imediato dos pacientes com suspeita de câncer. “Quando aprovamos essa lei, que limita o prazo máximo para a espera de atendimento em 30 dias, o fizemos porque trata-se de uma doença que avança muito rápido e a detecção precoce é determinante para o sucesso do tratamento”.
Segundo ela, uma forma imediata de solucionar esse problema seria firmar parcerias com a iniciativa privada, a exemplo do que fez o governo de São Paulo, que se aliou a grandes hospitais para a realização de exames e conseguiu acabar com a fila de espera. “A chegada do Hospital do Câncer, resultado do esforço da Bancada Federal de Sergipe, vai alterar essa realidade, sem dúvidas, mas fica claro que é preciso que haja mais investimento em Saúde por parte do Executivo estadual”, finalizou.
Saiba como prevenir:
Em entrevista ao AjuNews, a médica oncologista clínica e paliativista, Erijan Andrade, listou as melhores formas de prevenção contra o câncer de útero. Segundo ela, é preciso fazer o exame de Papanicolau e exame de lâmina para identificar lesões que podem ocasionar a doença.
Além disso, ela frisou a importância da vacina do HPV, que previne a doença desde a adolescência. “Hoje as meninas devem tomar as vacinas entre 9 a 13 ou 14 anos. E os meninos de 11 a 14 anos”.
Questionada sobre qual idade uma mulher deve se submeter a exames que possam identificar a doença, a médica informou que os exames são preconizados pelo Ministério da Saúde a partir dos 25 anos até os 64 anos. No entanto, se a mulher teve início de vida sexual ativa muito cedo pode adiantar essa idade dos exames. Os exames são importantes para o diagnóstico precoce da doença, que evitam com grande chance a morte em decorrência do câncer.
Já em relação ao câncer de mama, Erijan relatou que é crucial fazer uma mamografia após os 40 anos. Apesar da idade recomendada para a realização do exame, alguns casos são registrados entre as jovens. No entanto, a oncologista afirma que são casos raros. “Existe sim incidência de câncer antes dos 40 anos, mas são raros”, disse.
Para prevenir desde cedo, a especialista informa que a melhor maneira é ter um estilo de vida saudável; evitar gordura, açúcar, comida processada; fazer exercício físico; tentar manter o peso, pois a obesidade aumenta o risco de câncer; evitar consumo de álcool em qualquer quantidade; e evitar o tabagismo.
“Se você manter uma vida realmente saudável, você está diminuindo a chance de ter um câncer de mama, diminui a chance em cerca de 30%. Então faz muita diferença”, explicou.
*Com supervisão de Peu Moraes
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