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LGBTQIA+: Fique por dentro dos points da diversidade em Aracaju
A jovem e menor das capitais brasileiras, Aracaju, no auge dos seus recém completados 165 anos, nesta terça-feira (17), tem fama de cidade tranquila entre os turistas que a visitam e buscam sossego. Não a toa que o boato de que depois da 00h a cidade morre gerava um burburinho entre os aracajuanos, embora devamos concordar que já faz um tempo que as noites da capital sergipana apresentem mais opções de casas de show, baladas e pontos de encontros que tentam diminuir o estigma de lugar pacato.
Abranger a maior variedade de público nesses espaços, mesmo em ritmo mais lento que outros centros urbanos do Brasil, talvez tenha sido o melhor incremento para a cena noturna de Aracaju. Neste quesito, a comunidade LGBTQIA+ foi favorecida graças a dois espaços de divertimento com programação direcionada especificamente para esse público. O AjuNews visitou os locais mais frequentados pelas minas, manas, monas e manos que buscam opções de lazer, mas também de acolhimento.
Las Vegas Karaokê
Localizado pertinho da Passarela do Caranguejo, na Orla de Atalaia, Zona Sul da capital, o Las Vegas Karaokê ou para os mais íntimos, ‘Vegas”, traz a proposta de um misto de balada com bar, além de possuir um karaokê destinado à galera que deseja soltar a voz com os ‘hits’ do momento. Inaugurado em setembro de 2017, a programação das festas é divulgada nas redes sociais, com ingressos a preços acessíveis e temáticas variadas, como astrologia, que permite entrada gratuita para os aniversariantes do signo do mês, e do ‘Stupiadamente Pop’, festa que contempla com entrada grátis aqueles que estiverem com alguma peça de vestuário rosa.
Lá dentro toca de tudo, do pop chiclete dos anos 90 até o brega funk que foi sucesso no Carnaval 2020. Não à toa que o nome de um dos eventos da casa foi batizado de ‘Brota no Bailão’. Com ares de casa adaptada, o local conta com uma área externa, com alguns bancos, ideal para quem quer descansar da agitação da festa ou trocar ideia com os amigos. No interior do ambiente, as paredes podem ser rabiscadas e fazem parte da característica do Vegas, então, quando visitar, vale deixar o contatinho, mensagens ou qualquer coisa que dê vontade na hora.
O idealizador da casa é o empresário Daniel Oliveira. Ele revela que apostou em um espaço menor para trazer um tom mais intimista para o público. “A ideia do Vegas surgiu depois que visitei, em Maceió, um lugar chamado Pub Fiction. Eu queria um meio termo entre balada e bar, nem tão chique e caro quanto balada e nem tão simples como um bar. O público LGBT é infinitamente melhor de trabalhar, é mais amigável e mais tranquilo, sempre tive preferência por esse público. A nossa equipe desde o começo é desse meio, então, não tinha como voltar a atenção para outro tipo de público”, disse.
Antony Chagas, 18 anos, vê no espaço a oportunidade de se sentir acolhido. “Os LGBTs sentem a necessidade grande de ter um espaço para encontrar pessoas que nos aceitem. Aqui me sinto seguro e aceito porque tem outras pessoas como eu. Diante de tanto preconceito no bairro, na família, aqui a gente pode ser nós mesmos”, avaliou.
Já Deivison Ferreira, 26 anos, afirma que o Vegas se tornar um dos pontos de encontro que aceitam melhor a comunidade. Quando a gente tem lugar somente com esse público, a gente se sente mais acolhido, você pode pegar na mão do seu namorado, beijar quem você quiser, e quando, por exemplo, os héteros estão no mesmo ambiente, talvez a gente não se sinta tão à vontade quanto”.
Shakira, uma das dirigentes do ‘Vegas’, avalia como pequena a oferta de espaços voltados para esse meio. “Eu acho que em Aracaju são poucos, mas também eu acho que aqui é pequena, então não requer uma demanda tão grande, como São Paulo, por exemplo. Mas hoje tá melhor, eu lembro que Aracaju tinha uma festa por mês para esse público, agora todo fim de semana tem, e não só festas, mas espaços também”, avalia.
Macaw
Neste cenário noturno mais recente de Aracaju, quem não lembra do saudoso ‘O Beco’? Pois bem, ele ganhou novos ares e renasceu há pouco mais de um ano, como Macaw. O local escolhido foi o mesmo, na Coroa do Meio, próximo da Avenida Delmiro Gouveia, também na Zona Sul da capital. De quinta a domingo apresenta festas temáticas destinadas para a comunidade LGBTQIA+, inclusive, ‘Macaw’ traduzido do inglês significa ‘arara’. Pegou a referência? Além de ser um dos símbolos de Aracaju, representa toda a essência que esse espaço transmite: Liberdade de ser quem você é. Não à toa que o slogan da boate é ‘Seja Macaw’.
A casa conta com espaço amplo e, com os dois andares do prédio, a parte superior se tornou um camarote, possibilitando uma parte mais reservada do que no térreo, onde a agitação é concentrada. Durante a visita da reportagem, a festa temática da semana abarcou a comunidade drag queen de Aracaju, no evento ‘Na Maciota’, que deu um toque colorido e especial ao espaço.
Para a drag queen Delirius, 27 anos, a oferta de eventos direcionados à comunidade cresceu, mas ainda necessita de mais visibilidade. “É uma luta muito grande para os LGBTs conseguir espaços que não sejam marginalizados, a gente tem conquistado muito espaço agora, mas Aracaju precisa crescer mais nesse sentido”.
O dono do Macaw é Emanuel César. Ele revela que um dos propósitos do point é mesclar a diversão com oferta. “O que a gente propõe aqui é conseguir fazer o máximo para abraçar o maior número de pessoas em um ambiente seguro e com respeito, independentemente do gênero ou identidade sexual. A proposta de casas voltadas para a comunidade LGBT é de que eles se identifiquem e não se escondam. Hoje em Aracaju, mesmo com pouca oferta, acho que as pessoas têm mais opções, tanto em eventos quanto em locais mesmo”.
Em um fim de semana, Emanuel afirma que a média de público chega a quase 600 pessoas, o que pode ser superior devido aos eventos mais acessíveis como o “Manalisa” que garante que estudantes paguem a metade do valor do ingresso, atraindo ainda o público. Sem dúvidas, o Macaw também se torna uma opção para quem quer apreciar um espaço com diferentes expressões.
Não há como comparar a quantidade de casas de show, boates e espaços heteronormativos com as opções destinadas e limitadas à comunidade LGBTQIA+, em Aracaju. Entre os visitantes tanto do Las Vegas como o Macaw há aqueles que criticam a ida de pessoas que não são da comunidade com relatos, inclusive, de se sentirem incomodados. Em contraponto, os dirigentes das boates visitadas afirmam que mesmo direcionando os eventos, restringir a entrada do público hétero não é viável. Para além das divergências pontuais nessa relação, o respeito a infinidade de jeitos, formas e identidades é o que vale. E aí, vamô fechar?
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