Política
Verba publicitária de Bolsonaro irrigou sites de jogos de azar e de fake news na reforma da Previdência
Planilhas enviadas pela Secom (Secretaria Especial de Comunicação da Presidência) apontam que o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) veiculou publicidade sobre a reforma da Previdência em sites de fake news, jogo do bicho, infantis, em russo e em canal do YouTube que promove o presidente da República. As informações são da colunista Patrícia Campos Mello, publicadas neste sábado (9).
Os documentos foram divulgados por determinação da Controladoria-Geral da União (CGU), após um pedido por meio do Serviço de Informação ao Cidadão. As planilhas, que abrangem o período de 6 de junho a 13 de julho de 2019 e 11 a 21 de agosto de 2019, devem ser encaminhadas à CPMI das Fake News nos próximos dias.
Os documentos não especificam o total gasto pela Secom com os anúncios. Em maio de 2019, a secretaria anunciou que gastaria R$ 37 milhões em inserções publicitárias sobre a reforma da Previdência, em televisão, internet, jornais, rádio, mídias sociais e painéis em aeroportos.
Para divulgar campanhas, a Secom contrata agências de publicidade que compram espaços, por meio do GoogleAdsense, para veicular campanhas em sites, canais do YouTube e aplicativos para celular. A verba destinada pela secretaria é dividida entre o Google e o site ou canal do YouTube.
O site de resultados do jogo do bicho, prática ilegal no Brasil, foi um dos que recebereu 319.082 anúncios financiados com dinheiro público. Sites de fake news também receberam verba do governo, sendo um dos campeões, com 66.431 anúncios, o Sempre Questione. O site divulga notícias como “Ovni é flagrado sobrevoando Croata, interior do Ceará, e aterroriza moradores” e “Kiko do Chaves diz que coronavírus é farsa de Bill Gates e da Maçonaria”.
A campanha também foi veiculada em sites que disseminam desinformação, como o Diário do Brasil (36.551 anúncios). Outra mídia contratada pela secretaria foi a de aplicativos para celular e sites de políticos eleitos, como o do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ).
Ainda segundo o documento, o canal de YouTube Terça Livre TV, que pertence ao blogueiro Allan dos Santos também recebeu anúncios e verba para anunciar campanhas do governo. Em depoimento à CPMI das Fake News, em novembro de 2019, Santos afirmou: “Sou dono do maior portal conservador da América Latina e não recebo nenhum centavo do governo”.
Para o professor de direito eleitoral da Universidade Mackenzie e diretor do Instituto Liberdade Digital, Diofo Rais, o uso de dinheiro público para promoção do presidente pode ferir o princípio da impessoalidade. “Além disso, ao anunciar em sites que disseminam notícias falsas, o governo está financiando a produção de fake news”, disse.
De acordo com o diretor-executivo da Transparência Brasil, Manoel Galdino, ao anunciar em sites de jogos de azar ilegais, o “governo está remunerando atividades criminosas”. “Segundo a Constituição, a propaganda do governo precisa seguir a moralidade, o que não inclui incentivar atividades antiéticas, como fake news, ou ilegais, como jogo do bicho.”
Procurada pela reportagem, O Google afirmou, em nota: “Mesmo quando um site ou vídeo não viola nossas políticas, compreendemos que os anunciantes podem não querer sua publicidade atrelada a determinados conteúdos e, por conta disso, nossas plataformas permitem bloquear categorias de assuntos e sites específicos, além de gerarem relatórios sobre a exibição dos anúncios”.
Por meio de sua assessoria, o senador Angelo Coronel (PSD-BA), presidente da CPMI das Fake News, afirmou que não iria comentar o assunto porque “não recebeu e não conhece as informações”.
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