Entrevista
‘Poderia ter dialogado com o PT se ele tivesse rompido com o governo Belivaldo’, diz Alexis Pedrão
O candidato à prefeitura de Aracaju, Alexis Pedrão (PSOL), afirmou em entrevista ao AjuNews que não dialogou com o PT sobre uma possível aliança com o também postulante, Márcio Macêdo (PT), porque a legenda integra a gestão do governador de Sergipe, Belivaldo Chagas (PSD). Alexis afirmou que o PT “não passa confiança para as pessoas” por fazer parte da gestão estadual e que o partido precisa se decidir se vai realmente estar na esquerda.
“No máximo, nós podíamos ter ampliado junto com o PT, junto com a candidatura de Márcio Macêdo, mas isso não foi possível porque o PT faz parte do governo do Estado, isso não passa confiança para as pessoas”, destacou. “O PT precisa se decidir se ele vai realmente estar no campo da defesa da esquerda, dos direitos sociais ou se ele vai fazer esse jogo duplo sendo parte do governo do Estado”, completou.
Na oportunidade, Alexis também classificou o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e do governador Belivaldo Chagas como “desastrosos”, comparou a gestão do atual prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira (PDT), com a do ex-prefeito João Alves e seu vice Machado, e ainda apresentou sua proposta.
Leia a entrevista completa:
AjuNews: Durante sua trajetória política, você foi candidato a deputado estadual em 2010 e a vereador em 2012. Agora, é candidato a prefeitura de Aracaju. Quais motivos te levaram a entrar na disputa?
Alexis Pedrão: Essa é uma questão importante mas ela não é uma decisão individual. Eu tenho a alegria, felicidade de ter sido indicado de forma consensual por toda a militância do PSOL e também do PCB, do Frente Favela, do MTST [Movimento dos Trabalhadores Sem Teto], do Afronte, nós temos feito uma aliança com movimentos e outros grupos de esquerda aqui na cidade. Nós temos três objetivos bem definidos neste processo eleitoral, que é primeiro fazer uma campanha que se posicione pelo fora Bolsonaro, nós defendemos o impeachment do presidente Bolsonaro, achamos que ele atrapalha o desenvolvimento da cidade na medida que ele tem uma política contra o nosso povo. Ficou demonstrado agora na pandemia, ficou demonstrado com o fechamento da Petrobras em Sergipe, isso ficou demonstrado de várias formas. Segundo, nós queremos apresentar uma cidade para a maioria, para a maioria que trabalha e vive nesta cidade. Aracaju hoje é uma cidade que funciona para os grandes empresários e para uma minoria que tem melhores condições. E por último, nós queremos também cumprir como o objetivo do PSOL neste processo a eleição dos primeiros mandatos parlamentares. O PSOL vem com uma chapa bem forte de lideranças populares, sindicais e nós achamos que vai ser muito importante ter um mandato do PSOL na Câmara de vereadores de Aracaju, uma Câmara que é muito conservadora e que é pouco ativa na política da cidade, que tem deixado a desejar no papel de fiscalização e de crítica a gestão atual do prefeito Edvaldo Nogueira.
AjuNews: Em uma possível vitória quais os setores que serão priorizados na sua gestão? Quais suas principais propostas?
Alexis Pedrão: Primeiro, a gente como ainda está vivendo uma pandemia, então, nós hoje temos 719 óbitos na cidade de Aracaju e muitos contaminados ainda. Ainda não saímos desse processo. Então, vai ser uma eleição difícil e a gente precisa pensar, como um projeto inicialmente, em um plano de emergência no pós pandemia. Um plano de emergência para os trabalhadores que perderam seus empregos, para os pequenos empresários, microempreendedores, as pessoas do comércio local que fazem mesmo a economia girar e geram empregos. Nós estamos no processo de transição do pós pandemia, fora desse processo normal, Aracaju precisa pensar grandes questões, grandes temas. A cidade de Aracaju necessita, pelo estatuto da cidade, pela legislação brasileira, de um plano diretor, de um planejamento urbano. Isso é básico para qualquer cidade de grande porte como é Aracaju e nós não temos um plano diretor na cidade, então começa dai. Nós não temos nem sequer um planejamento urbano. A gente precisa discutir por exemplo a questão do transporte coletivo. Aracaju funciona de forma ilegal, nós não temos um transporte que passou por um processo de licitação e nós defendemos inclusive que este é um serviço tão essencial que ele deveria inclusive ser prestado pelo próprio município. A gente quer discutir um processo de fortalecimento da educação pública, que passa pela valorização dos profissionais e da infraestrutura da escola e do seu conteúdo curricular. Então, seriam algumas das propostas que a gente teria mexer na lógica estrutural da cidade, inverter as prioridades hoje, tirar o orçamento da mão das grandes empresas que sugam a maior parte dos recursos e passar para os direitos sociais e o meio ambiente essa é a nossa prioridade de campanha.
AjuNews: Em sua avaliação, quais os principais setores de Aracaju que tem algum tipo de déficit? O que a capital precisa para melhorar?
Alexis Pedrão: Eu acho que a gente tem um processo amplo, forte, intenso de privatização, de entrega do patrimônio público e daquilo que a gente conhece como direito social para o setor privado. Então quando a gente diz quais são os principais pontos que você acha que Aracaju tem um problema? Nós temos um problema hoje de renda e de emprego, agora na pandemia que isso ficou mais evidente, ficou mais explícito, era fundamental que nós tivéssemos uma renda emergencial no município. Uma outra questão, como falei, é a questão do transporte, R$ 4,00 é muito caro para um trabalhador se locomover. Você tem um problema de violência nas comunidades, tem um problema muito grande de denúncia de violência policial nas comunidades. É desse tipo de coisa que estamos falando quando falamos de construir uma Aracaju da maioria, eu acho que Aracaju é uma cidade hoje que tem problemas em todas as áreas por conta dessa lógica geral de a gestão funcionar para família, para aliados políticos, para grupos empresariais que têm muito poder econômico.
AjuNews: Qual a sua análise sobre a gestão do atual prefeito Edvaldo Nogueira?
Alexis Pedrão: Essa gestão de Edvaldo, se a gente for justo, se a gente for criterioso, ela não foi a pior gestão dos últimos 20 anos. A pior gestão foi a de João e Machado, que foi anterior a de Edvaldo, é por isso, inclusive, que Edvaldo conseguiu retornar. Mas a gestão de João e Machado foi tão ruim, inclusive, com indícios de corrupção no final. O próprio Machado que denunciou que os secretários de João Alves só queriam roubar, esse áudio foi famoso em Aracaju. Quando você tem uma gestão como a de João Alves que nem coleta de lixo você tinha de forma regular na cidade, então, se a gente pudesse fazer uma analogia que Aracaju é um grande condomínio, nós poderíamos dizer que melhorou o síndico. A gestão de Edvaldo é melhor que a de João Alves é preciso reconhecer isso, no que tange ao funcionamento mínimo das questões da cidade. Mas ainda é uma cidade que funciona para os grandes empresários numa lógica muito desigual, é um projeto que não nos serve e o maior exemplo disso é que a gestão de Edvaldo é aliado de [ex-deputado federal] André Moura, de [deputado federal] Laércio Oliveira que são figuras da política sergipana conhecidas e que são conhecidas por terem sido sempre de direita, conservadores, são declaradamente apoiadores de Bolsonaro. É um projeto que não cabe à população trabalhadora, não cabe a gente que está nas ruas, na luta contra esse governo que tem fortes tendências autoritárias e fascistas, esse projeto de Edvaldo não nos cabe, nós temos uma avaliação negativa de um prefeito que já teve uma história de esquerda mas que em nome da governabilidade ele preferiu se aliar ao que tinha mais de reacionário, conservador na política sergipana, apesar de umas pequenas melhorias que nós identificamos se comparado a João Alves, é uma gestão muito distante daquilo que o povo de Aracaju precisa e merece.
AjuNews: Você já esteve engajado em alguns movimentos sociais, a exemplo do movimento estudantil da Universidade Federal de Sergipe, Movimento Não Pago, movimento sindical e em ações do movimento negro sergipano. Além disso, defende um discurso para uma cidade mais igualitária e acessível para a população negra, LGBTQI+ e mulheres. De que forma você pretende implementar essas mudanças?
Alexis Pedrão: Eu me orgulho muito de fazer parte dos movimentos sociais, para mim é uma grande escola, um grande aprendizado. O movimento Não Pago foi muito importante, por conta dele eu entrei em vários terminais, em vários ônibus, em várias comunidades, em associações de moradores. Sempre peguei ônibus na cidade e sempre me questionei muito porque que o ônibus demorava tanto, porque que era sempre lotado, porque tinha que aumentar todos os anos de forma injusta, sem diálogo com a população. Como qualquer usuário eu me indignei e fiz parte destes movimentos assim como os outros que eu participei. E sobre uma cidade para a maioria, para as mulheres, para a população LGBTQIA+ e para a população negra é muito difícil, porque esse é um processo histórico, estrutural do nosso país, é muito difícil mudar essa realidade somente a partir de Aracaju, mas a gente precisa dar o primeiro passo, a gente precisa dar o exemplo. Quando a gente vai discutir a educação e vai discutir o currículo, onde a gente precisa ter uma educação sexual com as crianças, não da educação sexual do sexo que já é para um estágio mais desenvolvido a partir de 10, 12 anos, a psicologia e a educação sabe bem. Mas eu estou falando de você ter uma educação mínima para evitar abusos para que a criança consiga denunciar, para que a criança ela possa conhecer o seu próprio corpo, isso faz parte do desenvolvimento da criança. Isso não é mexer com a fé de ninguém, nem desrespeitar a religiosidade de ninguém, isso é dá as melhores condições para as crianças se defenderem num mundo que tem muita exploração sexual contra crianças e adolescentes.
AjuNews: Recentemente, você se posicionou nas redes sociais sobre o presidente Jair Bolsonaro. Qual a sua avaliação sobre a atual gestão do Governo Federal?
Alexis Pedrão: Um completo desastre, eu não tenho a menor dúvida disso. Eu faço parte daqueles que lutaram para que esse governo não estivesse nem sido eleito. Eu participei junto com as mulheres do movimento “Ele não”, às vésperas da eleição. É um completo desastre basta dizer que no auge da pandemia, onde todos os governos do mundo pelo menos no discurso com exceção de [presidente dos Estados Unidos] Donald Trump, Bolsonaro e mais algum outro fanático, todos os presidentes seguiram os protocolos da Organização Mundial da Saúde. Bolsonaro no Brasil ele mangou, ele fez pouco caso da vida da população, disse que era uma gripezinha, saiu sem máscara para cumprimentar a multidão, inclusive sofreu uma sanção na Justiça. Demitiu o ministro da Saúde no meio da pandemia, enquanto a gente deveria ter um controle articulado no âmbito da União, dos estados, municípios. Foram dois ministros da saúde que foram demitidos por querer cumprir os protocolos, por querer cumprir as orientações sanitárias. É um governo completamente atrelado às elites deste país. E para completar, é um governo autoritário, que já deu diversas declarações, desde a defesa dele de torturadores da ditadura. Bolsonaro representar esse setor, um setor cheio de ódio, de lembrança de um passado antidemocrático, de perseguição à imprensa. Nossa avaliação é a pior possível e fico triste que tenham tantos representantes bolsonaristas nas eleições de Aracaju. Nós dizemos que esse governo é genocida e aplica uma política de morte e é por isso que nós já protocolamos e defendemos o impeachment do governo Bolsonaro, não queremos esperar até 2022, a gente quer que Bolsonaro saia para ontem, cada dia que ele fica na presidência, é um dia mais difícil para a população brasileira, sergipana e aracajuana.
AjuNews: Nesta eleição, 11 candidatos entraram na corrida pela prefeitura de Aracaju. Qual sua avaliação sobre a quantidade de nomes? Com essa quantidade de postulantes o atual prefeito Edvaldo Nogueira não poderia ser favorecido por somar nove partidos na base de apoio?
Alexis Pedrão: Sim. Do ponto de vista numérico você tem toda a razão. Do ponto de vista numérico, quanto mais partidos você têm coligação, quanto mais apoiadores, mais chances numéricas você tem de somar e ganhar o processo eleitoral. Apesar desses apoios ele pegarem bem no sentido de números, mas politicamente nós ficamos confortáveis em não estar no mesmo palanque que setores bolsonaristas ou com setores que apoiam o governo do Estado de Belivaldo Chagas, que também é um governo desastroso, um governo que tem atuado contra a população trabalhadora sergipana. O que a gente tem visto nessa explosão de candidaturas, na verdade, é muita vaidade, muito projeto pessoal e individualista. Nos parece muito uma briga de egos. Todas as candidaturas acredito que com a exceção da minha e da companheira Gilvani, todas as outras candidaturas ou são apoiadoras de Bolsonaro ou são apoiadoras de Belivaldo Chagas, são candidaturas que já estão comprometidas tanto com o governo federal, quanto com o governo estadual. No máximo, nós podíamos ter ampliado junto com o PT, junto com a candidatura de Márcio Macêdo, mas isso não foi possível porque o PT faz parte do governo do Estado, isso não passa confiança para as pessoas. O PT ele defende os direitos sociais como a valorização da previdência e dos servidores aqui em Aracaju ou é o PT do governo do Estado que aprovou a reforma da previdência em dezembro e retirou os direitos dos servidores estaduais e não tem reajuste salarial há mais de sete anos em Sergipe? O PT precisa se decidir se ele vai realmente estar no campo da defesa da esquerda, dos direitos sociais ou se ele vai fazer esse jogo duplo sendo parte do governo do Estado. Então, no máximo, a gente poderia ter dialogado com o PT se ele fizesse esse gesto político de romper com o governo Belivaldo Chagas, mas eles não avançaram então isso não foi possível.
Com supervisão de Adélia Félix
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