Educação
Estudo da UFS associa morte de crianças e adolescentes por covid-19 no Brasil às desigualdades socioeconômicas
As mortes de crianças e adolescentes por causa da covid-19 no Brasil está ligada às desigualdades socioeconômicas do país, de acordo com um estudo feito por pesquisadores da Universidade Federal de Sergipe (UFS).
No estudo, foram analisados dados das secretarias de saúde dos 26 estados e do Distrito Federal, o estudo avaliou os índices de contaminação e mortes de indivíduos entre 0 e 19 anos. Os números foram associados às disparidades sociais por cada região do Brasil, por meio do Índice de Vulnerabilidade Social (IVS) e o Índice de Gini (IG). Ambos variam de 0 a 1, e os valores mais altos representam maior grau de desigualdades.
De acordo com o levantamento, até o dia 3 de setembro deste ano, o Brasil acumulou 335.279 casos de pessoas entre 0 e 19 anos diagnosticadas com o vírus, o equivalente a 8,4% do total de registros no país, com incidência de 559 a cada 100 mil habitantes.
No período analisado, 800 crianças morreram com o diagnóstico de covid-19, o que representa menos de 1% dos óbitos relacionados à infecção no territóriobrasileiro. As maiores taxas de incidência, de acordo com o levantamento, estão nas regiões Norte (1.015 casos a cada 100 mil habitantes) e Centro-Oeste (711 casos a cada 100 mil habitantes).
Já as maiores taxas de mortalidade são encontradas nas regiões Norte (3 casos a cada 100 mil habitantes) e Nordeste (2 casos a cada 100 mil habitantes).
Segundo o líder da publicação, o professor do Departamento de Educação em Saúde e coordenador do Laboratório de Patologia Investigativa da UFS, Paulo Ricardo Martins Filho, o novo estudo epidemiológico identificou “significativa” correlação entre as taxas de mortalidade e indicadores socioeconômicos estaduais.
“Os estados com piores condições, piores indicadores, são aqueles que tiveram maiores taxas de mortalidade para covid-19 neste grupo de crianças e adolescentes”, afirmou Martins.
O pesquisador ainda destaca que “embora exista evidência de que a proporção da covid-19 em crianças e adolescentes seja, relativamente, baixa, e de que as mortes sejam incomuns, os piores desfechos relacionados à doença não são somente o resultado de características clínicas individuais, havendo uma forte influência das condições socioeconômicas no comportamento da covid-19 também para essa faixa etária”.
No estudo, Paulo Martins cita uma pesquisa desenvolvido no âmbito do projeto EpiSergipe, que relacionou a taxa de letalidade em Aracaju à condição de vida da população a partir da combinação de fatores que potencializam o desfecho negativo de algumas doenças, como educação, moradia e renda.
“Em resumo, nós estamos falando da interação de fatores biológicos, sociais, econômicos e políticos que contribuem de forma sinérgica para pior desfecho em relação à covid-19 no país”, disse.
Para a professora do Departamento de Direito da UFS e subcoordenadora do Projeto EpiSergipe, Karyna Sposato, não só os fatores e características individuais agravam a doença, mas também a inexistência de políticas públicas e equipamentos de saúde acessíveis a todos.
“Essa não é uma novidade, mas confirma, no caso da covid-19, que as precárias condições de saneamento básico, de baixo acesso à água tratada e as precárias condições de higiene parecem ser um fator de risco muito determinante no agravamento da pandemia”, destaca a pesquisadora.
Atualmente, 100.371 pessoas já testaram positivo para a Covid-19 e 2.374 morreram, em Sergipe.
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