Entrevista
‘Projeções para o mercado de trabalho de Sergipe são muito ruins’, avalia estatístico da UFS
Com a pandemia de covid-19, várias empresas fecharam, diversas pessoas ficaram desempregadas, gerando prejuízos à economia de Sergipe. Ao AjuNews, o professor do Departamento de Estatística e Ciências Atuariais da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Kleber Oliveira, analisou que 2021 não será um ano de recuperação plena da economia sergipana e que as “projeções para o mercado de trabalho de Sergipe são muito ruins”.
“É difícil em qualquer tipo de projeção econômica que estime com precisão o tempo que a economia sergipana levará para recuperar níveis, por exemplo, de 2018 e 2019. O que a gente tem mais ou menos claro é que 2021 será um ano onde ainda sentiremos os efeitos da pandemia. Então, 2021 não será um ano de recuperação plena”, ressaltou o professor.
De acordo com o estatístico, o Estado tem um quadro grave de desemprego e as projeções para este ano não são nada animadoras. “A tendência é que em 2021 o desemprego continue próximo dos 17%, 18%. Sem falar que metade da população, pouco mais da população ocupada, está no setor informal, então as projeções para o mercado de trabalho de Sergipe são muitos ruins, a tendência é que o desemprego se mantenha em um nível elevado e qualquer recuperação do emprego não será, inicialmente, de carteira assinada, será principalmente no setor informal, será aquela população que vai usar o trabalho informal como estratégia de sobrevivência. O quadro de 2021 é um quadro bastante grave”.
Ainda na oportunidade, Kleber destacou quais setores foram mais impactados com a pandemia, criticou a forma como empresários não sabem gerir suas empresas e explicou o que aconteceria com a economia sergipana caso o Governo do Estado adotasse novas medidas de restrições para tentar evitar a propagação da covid-19.
Confira a entrevista na íntegra:
AjuNews: Qual o setor sofreu o maior impacto econômico desde o início da pandemia de covid-19 em Sergipe?
Kleber Oliveira: A economia sergipana já vinha passando por um grave problema de produção. A estagnação econômica não é recente, ela dura décadas e a pandemia encontrou um mercado de trabalho sergipano, a própria estrutura produtiva sergipana muito deficiente. Basicamente, a gente tem produção no setor primário. A indústria ela encolheu bastante, então todos os setores sofreram bastante com a pandemia, mas sem sombra de dúvidas, o setor de comércios e serviços, que junto com o setor primário, eles absorvem quase a totalidade da população ocupada em Sergipe. No interior, metade da população está no primário, na produção agrícola e pecuária e nas demais cidades, aqui em Aracaju e na Grande Aracaju, quase 70% da população ocupada está no setor de comércios e serviços. Então, comércios e serviços foram os setores que mais sofreram com a pandemia.
AjuNews: Quanto tempo as projeções apontam que haverá uma recuperação econômica no estado?
Kleber Oliveira: É difícil em qualquer tipo de projeção econômica que estime com precisão o tempo que a economia sergipana levará para recuperar níveis, por exemplo, de 2018 e 2019. O que a gente tem mais ou menos claro é que 2021 será um ano onde ainda sentiremos os efeitos da pandemia. Então, 2021 não será um ano de recuperação plena, apesar de na medida que os setores voltem a funcionar, que o comportamento das pessoas seja mais responsável e que se proteja mais, que evitem aglomeração, na medida em que isso acontecer, os setores da economia vão poder voltar à suas atividades e aí a gente pode ter um nível de resposta melhor, mas depende muito do nível de conscientização das pessoas. Não adianta só o gestor público querer impor regras se a população não cumprir. É difícil entender isso, mas o que a gente tem claro é que 2021 não será um ano de recuperação, pode haver apenas uma leve melhora nas graves situações econômicas.
AjuNews: Com o fim do auxílio emergencial, qual foi o impacto em cada classe social na população sergipana?
Kleber Oliveira: O auxílio emergencial era recebido pela população mais pobre e, curiosamente, o fim deste auxílio emergencial não prejudica apenas os mais pobres, mas aquela classe, por exemplo, que tem pequenos comércios, que vendem, basicamente, commodities, que são produtos de mercadinho, as pequenas mercearias. Esse recurso que as pessoas recebem no auxílio emergencial serve apenas para consumo de bens não duráveis, que é, basicamente, alimentação. Então, quando a base da renda ela encolhe, os setores mais próximos à base vão sofrer mais, então a classe mais baixa e um pouco da classe média, que seria a média baixa.
AjuNews: Com a pandemia e o fechamento de várias empresas, muitos sergipanos ficaram desempregados. Quais as projeções para o desemprego em Sergipe?
Kleber Oliveira: A tendência é que em 2021 o desemprego continue próximo dos 17%, 18%. Sem falar que metade da população, pouco mais da população ocupada, está no setor informal, então as projeções para o mercado de trabalho de Sergipe são muito ruins, a tendência é que o desemprego se mantenha em um nível elevado e qualquer recuperação do emprego não será, inicialmente, de carteira assinada, será principalmente no setor informal, será aquela população que vai usar o trabalho informal como estratégia de sobrevivência. O quadro de 2021 é um quadro bastante grave.
AjuNews: Ainda sobre as empresas, durante a pandemia muitas faliram e tiveram que fechar. Qual o balanço para o setor de negócios em Sergipe para 2021.
Kleber Oliveira: Sergipe carece muito de qualificação técnica. Muitos empresários sergipanos, microempresários, pequenos empresários não sabem gerir a sua empresa, eles ficam muitos vulneráveis a situações econômicas, por que? Porque geralmente se confunde o lucro da empresa ou o patrimônio da empresa com o patrimônio individual ou pessoal. Os empresários sergipanos precisam entender melhor como funciona a economia, não é só reclamar do governo do Estado ou da própria condição econômica do país. O empresariado precisa melhorar muito a sua condição técnica porque Sergipe é um Estado com baixa escolaridade e os empresários sergipanos são sergipanos, eles são dessa população com baixa condição técnica. Então, o setor de negócios de Sergipe têm um potencial de crescimento sim, a gente tem muita potencialidade no interior do Estado de desenvolver o turismo, mas os serviços em Sergipe são sofríveis. O atendimento ao público em Aracaju é muito deficitário, sem falar no interior, a gente tem ainda muito o que avançar precisa de esforço desses empresários de treinar a sua mão de obra.
AjuNews: Desde dezembro de 2020, Sergipe registrou um aumento no número de casos de covid-19. Caso o estado passe por novas restrições e tenha que fechar estabelecimentos e proibir a circulação como no ano passado, como se comportaria a economia? O número de desempregos e empresas fechadas seria superior ao das primeiras restrições?
Kleber Oliveira: Evidentemente que sim. Qualquer movimento em sentido de aumentar a restrição no funcionamento de alguns setores impacta negativamente no nível de emprego, isso é evidente. Eu acho pouco provável que o Governo endureça as restrições uma vez que a própria população parece já ter feito a sua opção de não respeitar o distanciamento e insistir em aglomerar, e essa não é mais uma situação econômica, é uma questão de cidadania. Na medida em que a população não entende que todos devemos colaborar, a gente vai continuar marcando esse desempenho ruim da economia e todos nós vamos sofrer. É uma questão muito mais comportamental a partir de agora do que basicamente uma questão de gestão pública e legislação. Se a gente não tiver o senso de cidadania, a pandemia vai perdurar por muito tempo.
Com supervisão de Adélia Félix
Leia os termos de uso