Artigo
A projeção e vocês
O pai da psicanálise, Sigmundo Freud, dentre os seus estudos do inconsciente humano abordou a questão da defesa que fazemos do nosso ego, ou seja: defendemo-nos de tudo aquilo que pode gerar desconforto, mas que pode trazer expressões de desejo. Dentre esses processos o recorrentemente aceito por diversas correntes da psicanálise e ou mesmo da psicoterapia está a projeção, que ocorre quando um individuo, por alguma razão, em seus sentimentos são ameaçados ou inaceitáveis, por consequência são reprimidos e projetados, jogados a outra pessoa. Ou seja, se verá no outro o que, em verdade, está nele.
Naturalmente, como qualquer outro mecanismo de defesa, é inconsciente e involuntário, logo a pessoa, embora esteja claramente fugindo de suas culpas ou atribuindo a alguém algo que é dela, mas ela própria não tem consciência.
Assim, fica mais fácil entendermos, por exemplo, quando nesses dias as pessoas estão se permitindo tanta violência, tanta agressão e sempre, claro, dito por elas, em razão do que os outros fazem. Nesse particular, estamos vendo uma espécie de pauta de comportamento onde uma criança de dez anos é hostilizada, ao lado de sua família, por um aborto legal, que se a gravidez for levada adiante colocaria sua vida em risco.
Ao hospital vão atacar médicos, direção, mas ao estuprador nem uma palavra. Não que se deveria buscar com violência a ele, de forma alguma, mas a projeção do que de fato aquele gente sentia vontade de fazer é transferido e não aceitado. O caso da investigada deputada Flordelis, por assassinar o marido, que já foi filho afetivo, onde defensores da família na frente da casa dela, clamando pelo conceito de família? A verdade é que quanto mais agredimos, vociferamos contra algo ou alguém estaremos expondo a nós mesmos e ao que temos em desconforto dentro de nós.
A pessoa quando confrontada diretamente com a possibilidade de projetar, dificilmente vai aceitar que está atribuindo a outra pessoa os “seus defeitos”. A projeção negativa provavelmente é a mais “popular”, porém também existe projeção positiva, quando atribuímos a um herói, familiar, a qualquer pessoa, características que admiramos, construindo um ídolo e identificando-nos com ele e suas ideais, ainda que fujam completamente do sensato, mas é a admiração do que eu sou. “As coisas não são como são. São como tu és”.
*José Medrado é líder espírita, fundador da Cidade da Luz, palestrante espírita e mestre em Família pela UCSal. Também é apresentador de rádio e escreve para o AjuNews aos sábados.
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