Artigo
O descaso com os profissionais de saúde em tempos de pandemia
Nesta semana, acompanhei estarrecida a denúncia do descaso do Governo do Estado e da Prefeitura de Aracaju com os profissionais da Saúde que estão na linha de frente de combate ao coronavírus. A enfermeira do SAMU, Adriana Góis, relatou situações que comprovam o risco a que estão expostos diariamente. Com coragem, ela revelou em detalhes o desprezo e desrespeito com os agentes de saúde.
Não é novidade em Aracaju as denúncias de falta de EPIs (equipamentos de proteção individual) para médicos e enfermeiros, por exemplo. Entidades de classe, profissionais e a própria população já denunciaram diversos casos recentemente. Mas choca ver e ouvir o relado de Adriana. É a realidade além da estatística. É a voz por trás dos números. É uma vida tentando sobreviver.
Uma recente pesquisa da Associação Paulista de Medicina (APM) mostra que 50% dos médicos que atuam no combate ao covid-19 enfrentam, no local onde trabalham, a falta de EPIs. O estudo mostra, ainda, que 50% dos médicos pesquisados disseram que faltam máscaras N95 ou PFF2 (as mais adequadas para bloquear o coronavírus); 38,5% afirmaram faltar proteção facial; 26% acusaram a falta de óculos; 31%, de aventais; 36,5%, de máscaras cirúrgicas; e 21,5%, de orientação ou programa para atendimento.
Dirão: é um problema nacional que acontece devido à pandemia. Eu insisto: não é. Saúde pública sempre foi um problema real apontado e vivenciado por quem depende do SUS para ter acesso a serviços de saúde. Há décadas vem sendo promovido um desmonte da saúde pública e sua precarização. É com esse cenário de caos que chegamos ao momento atual da pandemia. A crise que vivemos hoje acentuou e escancarou um problema que antes era apenas de quem dependia do SUS.
Não se trata, portanto, de uma questão financeira. É falta de gestão que já dura décadas. É falta de compromisso de governo após governo. É falta de diálogo e de capacidade de entender que, sem saúde, não tem educação, não tem economia, não tem vida. E não há saúde sem que os profissionais estejam preparados para atender e trabalhar com dignidade e segurança.
Sergipe e Aracaju já estão despontando no cenário nacional pelo crescimento do número de pessoas contaminadas pelo coronavírus. Parte significativa desse aumento é reflexo de decisões mal tomadas; de gastos equivocados com os recursos enviados pelo governo federal; de idas e vindas do poder público estadual e municipal. Mas, com a agressividade da covid-19, essas idas e vindas custam caro, custam vidas.
Aqui em Sergipe, cerca de 60 profissionais da saúde foram afastados das suas funções. Mas, absurdamente, segundo relatou Adriana, dezenas deles não estão sendo testados e continuam na linha de frente. Ela disse: “nós também temos pais, temos filhos. Nós também somos humanos”. Além de irresponsável, a postura daqueles que comandam nossa cidade e nosso estado é desumana.
*A delegada Danielle Garcia é Pré Candidata à Prefeitura Municipal de Aracaju. É Mestre em Direito Público, Cursou Inteligência Estratégica na Escola Superior de Guerra no Rio de Janeiro. É instrutora de cursos de Combate a Corrupção na Secretaria Nacional de Segurança Pública.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do AjuNews.
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