Brasil


Menina de 10 anos estuprada entrou em hospital no porta-mala de carro enquanto médico distraía religiosos


Publicado 18 de agosto de 2020 às 16:42     Por Fernanda Souto     Foto Divulgação

A menina de 10 anos vítima de estupro teve que se esconder no porta-malas de um carro para entrar no hospital onde realizou o aborto, em Recife. A locomoção da criança aconteceu enquanto o médico e diretor da unidade, Olimpio Moraes, distraía os religiosos e políticos que tentaram impedir a garota de fazer o procedimento. As informações foram divulgadas pelo jornal Folha de São Paulo, nesta terça-feira (18).

“Esse era um caso diferente. Quando eu soube do vazamento dos dados, fui pro hospital e quando cheguei estava aquela confusão. Ficamos com medo de ela não conseguir entrar. Criamos uma distração para tirar a atenção e o carro passar escondido. Ninguém viu”, conta o médico.

“Fiquei assustado. O ódio e a intolerância conseguiram se organizar publicamente. É reflexo da força político-partidária que os movimentos religiosos têm tido ultimamente. Essas forças já existiam, mas não tinha projeção dentro do Estado, não faziam política pública”, acrescentou.

Segundo Olimpio, a perseguição aconteceu desde o aeroporto. Ele disse ainda que, na ocasião, o bloqueio dos grupos religiosos atrapalhou também a chegada de grávidas em trabalho de parto à maternidade.

“A exposição foi outra violência que ela sofreu. Como vai voltar pra mesma casa? A mesma escola? Vai ficar marcada por causa da quebra do sigilo. Talvez tenha que mudar de estado, de nome. É preciso passar uma borracha nisso para que ela possa ser feliz”, disse.

O obstetra é pernambucano e desde 1996 faz abortos pelo SUS. Ele foi o primeiro a realizar abortos legais nas regiões Norte e Nordeste. Por ano, faz cerca de 50 procedimentos de aborto, 30 a 40 são resultados de estupros.



Os comentários não representam a opinião do portal; a responsabilidade é do autor da mensagem.
Leia os termos de uso