Coronavírus


AstraZeneca admite erro e enfrenta críticas sobre vacina contra a covid-19


Publicado 26 de novembro de 2020 às 13:00     Por Fernanda Sales     Foto Itamar Crispim / Fiocruz

A AstraZeneca, farmacêutica que desenvolve a vacina de Oxford contra a covid-19 junto à Universidade de Oxford, admitiu que um erro crucial foi cometido na dose de vacina recebida por alguns participantes em seus estudos. Esta semana, a AstraZeneca tinha afirmado que a vacina tinha 90% de eficácia na prevenção de covid-19 quando os voluntários receberam meia dose e, depois de um mês, uma dose inteira da vacina. Contudo, a eficácia caiu para 62% quando duas doses completas foram administradas. A informação foi divulgada nesta quinta-feira (26) pela Folha de São Paulo.

Após admitir o erro, a farmacêutica vem enfrentando críticas e perguntas difíceis, que aumentam as dúvidas sobre se a eficácia aparentemente espetacular da vacina vai se confirmar após testes adicionais. Segundo a publicação, cientistas e especialistas do setor disseram que o erro e uma série de outras irregularidades e omissões no modo como a AstraZeneca divulgou os dados inicialmente enfraqueceram sua confiança na credibilidade dos resultados.

Autoridades nos Estados Unidos destacaram que os resultados não são claros. A consequência, disseram especialistas, é que as chances de reguladores nos EUA e outros países autorizarem rapidamente o uso emergencial da vacina da AstraZeneca estão diminuindo. O analista do banco de investimentos SVB Leerink, Geoffrey Porges,disse ao jornal que “acho que eles [a AstraZeneca] realmente prejudicaram a confiança em todo seu programa de desenvolvimento”. Já Michele Meixell, uma porta-voz da AstraZeneca, disse que os ensaios clínicos “foram feitos obedecendo os padrões mais elevados”.

Em entrevista dada na quarta-feira (25), Menelas Pangalos, o executivo da AstraZeneca encarregado de boa parte das pesquisas e desenvolvimento da empresa, defendeu o modo como a companhia lidou com os ensaios e seus anúncios públicos. Disse que o erro na dosagem foi cometido por uma firma contratada e que, uma vez flagrado, os reguladores foram notificados imediatamente e autorizaram o plano para continuar a testar a vacina com doses diferentes.

A AstraZeneca foi a terceira empresa este mês a anunciar resultados iniciais animadores de um candidato a vacina contra o coronavírus. À primeira vista, na manhã de segunda-feira (23), os resultados pareciam promissores. Dependendo da intensidade em que as doses eram administradas, a vacina parecia ter eficácia de 90% ou de 62%. A eficácia mediana, disseram os criadores, era de 70%.

Ainda de acordo com a reportagem, os dados foram questionados quase imediatamente. O programa que parecia ter eficácia de 90% envolveu participantes que receberam meia dose da vacina, seguida por uma dose completa um mês mais tarde. O programa menos eficaz envolveu duas doses completas. Em seu anúncio inicial, a AstraZeneca revelou que menos de 2.800 participantes seguiram o programa com uma dose inicial menor, enquanto quase 8.900 participantes receberam duas doses completas.

As maiores perguntas foram: por que houve uma variação tão grande na eficácia da vacina em doses diferentes e por que uma dose menor parece ter produzido resultados muito melhores? Pesquisadores da AstraZeneca e da Universidade Oxford disseram que não sabem.

Havia outras informações cruciais faltando. A empresa disse que a primeira análise foi baseada em 131 casos sintomáticos de Covid-19 que surgiram em participantes do estudo. Mas ela não informou quantos casos foram encontrados em cada grupo de participantes –os que receberam a dose inicial 50% menor, os que receberam a dose inicial normal e os que receberam um placebo.

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