Educação


Isolamento social pode desencadear ansiedade em crianças, afirma especialista da UFS


Publicado 22 de julho de 2020 às 07:35     Por Larissa Barros     Foto Wilson Dias / Agência Brasil

A mudança repentina de rotina e a necessidade de manter o distanciamento social para conter o avanço do novo coronavírus (covid-19) pode impactar a saúde mental e emocional das crianças. Em entrevista ao AjuNews, o professor de psicologia da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Marcos Ribeiro de Melo, explica que o isolamento social pode desencadear transtornos como ansiedade infantil.

“A necessidade de permanecer em casa sem contato com outras crianças, com a escola, com as professoras e, inclusive, com os outros parentes, pode ser bastante estressor e uma fonte de ansiedade para os as pequenos”, disse o psicólogo.
Para Marcos Ribeiro, o isolamento causado pela pandemia mudou as vidas e rotinas diárias de uma hora para outra e isto não foi diferente com as crianças. “Tendemos a minimizar, em nossa cultura, a sensibilidade delas e suas compreensões de mundo, isto é um grande equívoco”, disse Marcos.

Segundo Marcos Ribeiro, é preciso que os pais fiquem atentos às mudanças repentinas no comportamento das crianças, como aumento da irritabilidade e choro sem causa aparente, dificuldades para dormir ou manter um sono tranquilo, diminuição ou aumento de apetite, regressão de comportamento, voltar a fazer xixi na cama, por exemplo.

A pedagoga Kaise Nieatz Mendes, mãe do menino Arthur Marcelo Mendes Mota, 7 anos, afirma que com o passar da pandemia percebeu que o filho está dando sinais de ansiedade. “Já tinha percebido isso, e ao assistir uma Live com a psicóloga da escola onde meu filho estuda só confirmou minhas suspeitas. A ansiedade dele está se manifestando através da alimentação, passa o dia inteiro comendo e nunca fica saciado”, detalha a  mãe do menino.

Ainda de acordo com a pedagoga, a rotina de toda a sua família sofreu algumas adaptações, mas foram feitas gradualmente, conforme os meses de quarentena foram passando e por causa disso, o tempo que passa com o filho acabou diminuindo. “A suspensão das aulas presenciais fez com que o professor, que antes levava o trabalho pra casa, transformasse sua casa em um local de trabalho, esse foi o meu caso.

Para Kaise, uma forma de manter os cuidados com o filho é tentar transformar o pouco tempo juntos em um período de qualidade. “Assistimos filmes em família e jogamos com ele os jogos que ele gosta”, diz ela. Apesar de as mudanças causadas pela pandemia, é possível reduzir o impacto que a saúde mental das crianças sofre com o isolamento.

Segundo o psicólogo da UFS, o fato de as crianças permanecerem mais tempo isoladas em casa tem preocupado autoridades e pesquisadores sobre um possível aumento e também a subnotificação da violência praticada contra crianças e adolescentes.

“Nossa cultura é bastante violenta, e tendemos a naturalizar formas de violência mascarando-as como ‘atos educativos’. Castigar, bater e humilhar não educam ninguém, apenas produzem medo, sofrimento, angústia e raiva”, explicou.

O especialista lembra ainda que neste momento, em Sergipe, atravessamos o pico de contaminação com o aumento diário de número de mortos, e as crianças podem ter algum parente hospitalizado ou que tenha morrrido por causa da covid-19 e, isso tem impacto sobre a vida delas.

No entanto, de acordo com o psicólogo, é necessário estabelecer uma escuta sempre atenta às demandas da criança, mantendo a conversa e uma rotina. “Não temos que fingir que nada está acontecendo ao nosso redor e que vamos manter, neste momento pandêmico, a vida que tínhamos antes”.

Nesse cenário crítico ele reforça que as famílias estejam presentes para acolher e amparar a criança . Além de não descartar a consulta com um especialista que pode ser de grande valia neste momento.



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