Cidades


Médico da linha de frente aponta falta de materiais como uma das causas de colapso na rede de saúde após um ano de pandemia em Aracaju


Publicado 17 de março de 2021 às 12:00     Por Fernanda Souto*     Foto Marcello Casal Jr/ Agência Brasil

Há três dias do aniversário de 165 anos de Aracaju, em 2020, a capital registrou seu primeiro caso do novo coronavírus (covid-19). Agora, completando 166 anos, a cidade já chega à marca de 81.109 casos confirmados e 1.183 mortes em decorrência da doença, até esta quarta-feira (17). Sendo a cidade mais populosa de Sergipe, a capital também é o local onde foram diagnosticados mais casos de contaminação pelo novo coronavírus no estado.

Em entrevista ao AjuNews, o médico Caio Vítor, que atua na linha de frente contra a covid-19 na rede particular e pública da capital, relatou os principais desafios que os profissionais da saúde têm enfrentado durante a pandemia. Segundo ele, um deles tem sido a falta de materiais necessários para internação de pacientes com a doença.

“Nunca a gente viveu uma sobrecarga como a gente vem vivendo nessa pandemia. Diversos fatores influenciaram, como falta de material. Não tínhamos muitas coisas básicas que precisavam para os casos de covid, como máscaras de oxigênio, déficit de médicos, sempre trabalhávamos sobrecarregados. Foi um momento muito difícil. A gente teve que viver como o descaso do poder público e o reflexo da população”, disse o profissional.

O médico ainda lamentou sobre como a falta de material e Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) prejudicam os pacientes contaminados. “A gente tá chegando no ponto de ter que decidir quem vai salvar e quem vai assistir morrer”, relatou.

“A gente chegou no momento em Aracaju que o sistema de saúde está colapsado. Na prática, a gente recebe pacientes com indicação de UTI e a gente não tem vagas. O sistema de saúde já está em colapso. É um processo muito desgastante, todo dia a gente vê as famílias chorando, vê o sofrimento do paciente alí sozinho e os profissionais fisicamente e mentalmente desgastados”, lamentou Caio.

Na capital, 403 pessoas estão internadas com covid-19 na rede pública e privada.

Medidas restritivas
Em um ano, mediante a alta de casos, mortes e internações, medidas restritivas para conter a disseminação do vírus como distanciamento social, uso de máscara obrigatório, e até o fechamento do comércio, foram adotadas pela gestão local conforme a situação foi se agravando.

Ao site, o aposentado José Carlos dos Santos, 73 anos, morador do bairro Santo Antônio, na Zona Norte de Aracaju, e que faz parte do grupo prioritário para receber a vacina contra a covid-19, lamentou o atual cenário da pandemia na capital, onde os casos da doença crescem cada vez mais.

Segundo ele, medidas mais restritivas deveriam ter sido tomadas desde o início da pandemia. “Infelizmente o que vemos hoje é o resultado dos erros que ocorreram desde março de 2019”, afirmou.

Agora, com o aumento significativo de casos, a capital voltou a tomar medidas mais restritivas, como toque de recolher, de acordo com o decreto estadual. O prefeito Edvaldo Nogueira (PDT) ampliou a testagem da população e aumentou as fiscalizações para cumprimento das medidas.

A filha de José, Samara Silva dos Santos, 19 anos, estudante de enfermagem, assim como o pai, também é a favor das medidas. “Estou do lado da ciência! É comprovado que lockdown e outras medidas mais restritivas são realmente eficazes na disseminação da doença”, disse.

À reportagem, a jovem ainda criticou o descumprimento dos decretos, principalmente em bares e festas. Para ela, a população deve “respeitar de fato as medidas colocadas”. “A pandemia aqui na cidade poderia ser muito mais branda se a população estivesse seguindo de fato as restrições. Bares lotaram, zero distanciamento, várias aglomerações desnecessárias… Tudo isso poderia ter sido evitado”, lamentou.

Vacinação
Após pouco mais de 10 meses desde o início da pandemia, em Aracaju, a vacinação iniciou no dia 19 de janeiro, com as vacinas CoronaVac, produzida pelo laboratório Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, e o imunizante da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), fabricado em parceria com o AstraZeneca e Universidade de Oxford.

Com as doses das duas remessas que chegaram no Estado, a capital está vacinando, primeiramente, os profissionais da área da saúde que atuam na linha de frente no combate à covid-19 e idosos.

Até o momento, 38.740 doses de vacinas contra a covid-19 foram recebidas na capital. Destas, 38.267 já foram aplicadas. Segundo a SES, a pasta já aplicou 98% das doses recebidas na primeira remessa com a primeira aplicação. Já com a segunda dose, todas já foram aplicadas.

Ao site, questionada se a gestão iria tomar medidas com estratégias para agilizar a vacinação, a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) afirmou que a pasta segue o plano de imunização.

Sob supervisão de Peu Moraes



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