Destaque Maior


Maior seca da história deixa cidades brasileiras com clima de deserto


Publicado 05 de setembro de 2024 às 08:41     Por Rita     Foto Rita

 

A seca histórica que atinge o Brasil está causando problemas em diversas partes do país. Setembro – último mês do inverno – começou com uma onda de calor forte que, além de elevar as temperaturas, reduziu bastante a umidade.

O Brasil enfrenta a maior seca de sua história recente, conforme informações do Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais (Cemaden), órgão vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia. Segundo dados divulgados pelo g1, esta é a primeira vez que a estiagem atinge quase todo o país, com exceção do Rio Grande do Sul. A previsão é de que a situação não melhore até novembro, tornando o cenário ainda mais alarmante.

Desde 1950, os dados sobre a seca no Brasil mostram um agravamento constante da situação, com um marco em 1988 e a mais severa estiagem registrada até então em 2015. No entanto, em 2024, a seca se espalhou de forma mais intensa e abrangente, afetando uma área superior a 3 milhões de km², o que equivale a mais de um terço do território nacional.

Os impactos são devastadores: rios secando no Norte do país, isolamento de cidades, fogo se alastrando por várias regiões e níveis críticos dos rios, forçando o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) a ativar termoelétricas para suprir a demanda de energia.

“Nós nunca tínhamos visto, desde o início do monitoramento, uma seca tão extensa e intensa quanto essa. Víamos regiões isoladas sofrerem com os ciclos de seca, mas, dessa vez, é generalizado. Isso é um problema maior para o país enfrentar”, disse Ana Paula Cunha, pesquisadora do monitoramento de secas do Cemaden.

Causas

A combinação de três fenômenos climáticos está na raiz da intensificação da seca no Brasil:

  1. El Niño: O aquecimento do Oceano Pacífico elevou as temperaturas e alterou os padrões de chuva, provocando uma seca intensa, especialmente no Norte do país.
  2. Bloqueios Atmosféricos: Esperava-se que o El Niño terminasse em abril de 2024, mas bloqueios atmosféricos impediram a chegada de frentes frias, prolongando a estiagem.
  3. Aquecimento do Atlântico Tropical Norte: O aumento da temperatura do Oceano Atlântico Norte também contribuiu para a mudança nos padrões de chuva, intensificando a seca.

“É uma seca multifatorial. Saímos de um Pacífico aquecido (El Niño) para um Atlântico Norte mais aquecido. Não houve uma trégua entre os dois eventos e isso fez com que a situação de seca fosse se agravando gradativamente em cada região até que chegássemos em um cenário de seca pelo país”, disse Cunha.

Perspectiva

Os meteorologistas não têm uma perspectiva otimista para os próximos meses. A seca, que deveria terminar em outubro, pode se estender até novembro, já que as chuvas esperadas para o período devem ser menores que a média.

“O problema da seca não é só a falta de chuva, mas a soma disso à alta temperatura, o que deixa os rios mais secos e o solo também porque a água evapora mais rápido. Em outubro e novembro, estamos mais expostos ao sol, diferentemente do inverno. Isso faz com que a seca piore muito rápido de forma exponencial”, disse Giovani Dolif, meteorologista do Cemaden.

Mesmo com a possível chegada do fenômeno La Niña no final do ano, que poderia trazer chuvas, a previsão é de que o alívio não seja suficiente para reverter os impactos da estiagem. “A solução é uma temporada de chuvas acima da média, que pode ser que aconteça em janeiro, mas não há ainda uma previsão clara. Até lá, a situação deve permanecer como estamos vendo”, diz.

Impactos

A seca prolongada vem causando impactos significativos nos rios e, consequentemente, no abastecimento de energia. O ONS já alertou sobre a necessidade de suporte de outras regiões para atender a demanda energética, especialmente no Norte. Além disso, a agricultura também enfrenta desafios, com solos secos e dificuldades na produção.

“Esses ciclos de seca são preocupantes para as bacias. O rio sobrevive com a água do lençol freático, que passa abaixo dele. Se não tem chuva, esse lençol não é alimentado e, com tanto tempo sem repor água, isso dificulta a recuperação. Já estamos vendo rios menores, de cabeceiras, desaparecerem com o tempo em alguns pontos”, disse Adriana Cuartas, hidróloga e pesquisadora.



Os comentários não representam a opinião do portal; a responsabilidade é do autor da mensagem.
Leia os termos de uso