Economia


Dívida pública piora sob Bolsonaro, e um quarto dela vencerá em 12 meses


Publicado 03 de novembro de 2020 às 09:00     Por Fernanda Sales     Foto Marcello Casal Jr./ Agência Brasil

Nos próximos 12 meses, o Brasil terá de refinanciar um quarto de sua dívida pública federal de R$ 4,5 trilhões. A expectativa é de piora para 2021, pois os vencimentos a cada trimestre alcançarão cerca de R$ 300 bilhões. Em janeiro de 2019, quando presidente Jair Bolsonaro assumiu, apenas 15% da dívida pública venciam em 12 meses. Agora, são 26%. As informações foram divulgadas nesta segunda-feira (2) pela Folha de São Paulo.

Desde o início do governo de Bolsonaro, o prazo médio dos títulos emitidos pelo Tesouro caiu a menos da metade, de 5 anos para 2,1 anos. Já os vencimentos em 12 meses dobraram, de cerca de R$ 600 bilhões para quase R$ 1,2 trilhão. A piora no perfil do endividamento federal vinha de antes da Covid-19, mas foi acentuada com os gastos extras e o aumento do déficit exigidos para enfrentar a epidemia.

Segundo a publicação, para rolar esses débitos, o Tesouro Nacional poderá ter de encurtar ainda mais o prazo dos títulos que vende no mercado, buscando pagar juros menores a investidores que exigem taxas cada vez mais altas, sobretudo para papéis com vencimentos longos.

De acordo com o jornal, a deterioração agora acontece mês a mês, com o mercado pedindo juros crescentes para financiar a maior parte de uma dívida bruta total que se aproxima de 100% como proporção do PIB (Produto Interno Bruto).

Embora a taxa de juro básica do Banco Central (a Selic) esteja fixada hoje em 2%, o custo médio das emissões de novos títulos da dívida em setembro foi de 4,64% ao ano, refletindo prêmios exigidos pelos investidores.

Na semana passada, o governo reconheceu no documento Estratégia Federal de Desenvolvimento para o Brasil no período de 2020 a 2031 que o país pode ficar impossibilitado de refinanciar sua dívida pública se não aprovar reformas que levem a um ajuste nas contas públicas.

A dúvida sobre se governo Bolsonaro continuará respeitando o chamado teto de gastos, que limita o aumento da despesa pública à inflação, controlando a dívida, têm jogado ainda mais incertezas sobre o quadro fiscal e o déficit, piorando o manejo do endividamento.

O ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore, afirmou ao jornal que um problema adicional que agora se apresenta é a inflação, sobretudo de alimentos, impulsionada principalmente pelo dólar em alta diante das incertezas fiscais.

Segundo a prévia da inflação de outubro, do IBGE, preços de bens industriais subiram 0,88%, em um sinal de que a inflação causada pelo dólar pode estar se espalhando pela economia. Para 2021, no entanto, as previsões já indicam um IPCA ao redor de 3,5%, nível próximo do centro da meta, que será de 3,75%.

Leia mais:
Governo tenta conter crise gerada por decreto que permite privatização das UBS



Os comentários não representam a opinião do portal; a responsabilidade é do autor da mensagem.
Leia os termos de uso