Educação
“Estarão inaugurando um apartheid”, diz representante dos alunos da UFS sobre ensino remoto na pandemia
Após quase seis meses sem aula por causa da pandemia de covid-19 e discussões sobre o Ensino à Distância (Ead), a Universidade Federal de Sergipe (UFS) divulgou, nesta sexta-feira (04), que vai implementar o método a partir do dia 19 de outubro.
Apesar da instituição ter feito várias consultas públicas, apenas 45% do total de estudantes responderam ao último questionário. O que traz à tona a deficiência em aparatos tecnológicos para a parcela da comunidade estudantil que é vulnerável socioeconomicamente.
Em entrevista ao AjuNews, o membro do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Conepe) e do Diretório Central de Estudantes da UFS, Daniel Silva de Souza, disse que se as condições de acesso e permanência, bem como assistência psicológica, não forem garantidas na universidade, estarão inaugurando um “apartheid” na única instituição de ensino superior pública do estado.
“É necessário que a universidade seja transparente quanto ao planejamento para a garantia de acesso à rede de internet e aparelhos tecnológicos para estes estudantes. Contudo, essas informações quanto a distribuição do auxílio para inclusão digital e dos meios tecnológicos ainda estão muito nebulosas, o que aumenta a insegurança destes estudantes que necessitam desta assistência.”, avaliou.
Daniel ainda sugeriu junto ao DCE a criação de um grupo de trabalho sobre acesso e inclusão digital para avaliar o alcance das medidas que serão ofertadas pela UFS. E, também ressaltou a importância da permanência da assistência psicológica entre os auxílios para os universitários.
Em conversa com a reportagem, a estudante e caloura de Biblioteconomia e Documentação, Bruna Daniela Teixeira, que ingressaria na UFS neste ano, disse que está confusa com toda a discussão em volta da implementação do EaD na instituição. “No meio de todo esse caos, os calouros que já estão perdidos, ficam mais perdidos ainda”, disse.
“Eu acredito que é uma situação que precisa ser realmente pensada para todos os públicos, para que a UFS procure medidas não prejudiciais para os estudantes que poderão ser excluídos das atuais medidas, bem como, manter os alunos sempre informados, e sempre emitindo mais informações sobre tudo que está acontecendo, principalmente aos calouros.”, argumentou Bruna.
Também em conversa com a reportagem, a estudante de fisioterapia do Campus da área da saúde de Lagarto, Barbara Fontes, apontou outras problemáticas que devem ser levadas em consideração pela universidade antes de aderir ao ensino remoto.
“Cada aluno tem uma história e família diferente, muitos deles foram colocados para trabalhar porque não estão estudando, cuidam de parentes para que os pais trabalhem. Sem falar dos alunos que perderam entes queridos para a covid-19, os quais estão passando por problemas econômicos e de cunho psicológico”, alegou.
Após a UFS publicar em seus perfis oficiais das redes sociais que o Conepe aprovou o retorno às aulas de forma remota, entre tantos comentários negativos, alguns se destacaram apoiando à instituição.
“Convenhamos que é necessária a retomada, apesar dos pesares. Mas que se iniciem o mais rápido possível o desenvolvimento do edital dos auxílios para dar suporte aos mais vulneráveis. Isso não é um pedido, é um direito”, disse um internauta.
“Acho engraçado as pessoas que criticam a volta por EaD, quem em sã consciência e que atua na administração da educação vai aprovar métodos que tirem dos outros a chance de estudar? A vida acadêmica precisa caminhar também nessa pandemia. Se foi aprovada, a lógica me diz que não é para atrapalhar ninguém. Como já li em um comentário anterior, foi aprovado e que liberem os auxílios para que todos possam assistir às aulas”, disse outro.
A estudante de Letras (português-inglês), Larissa Passos, relatou para a reportagem que apesar de ser contra ao EaD, deve aderi-lo, pois ganhou uma bolsa e pode perdê-la se não manter o vínculo com a universidade. “Se fosse realmente uma opção, eu teria o direito de querer ou não participar do ensino remoto, sem me prejudicar.”, disse.
Ao site, o estudante de Relações Internacionais, Carlos Breno de Andrade, também se posicionou contra. Ele alega que não há razão para implantar o ensino remoto neste momento de queda nos números de casos da covid-19. Breno acredita que a melhor solução no momento seria a interação dos departamentos com os alunos para troca de conteúdos sem obrigatoriedade.
De acordo com a UFS, três editais estarão abertos entre os dias 10 e 14 de setembro para apoio aos estudantes que não possuem condições econômicas suficientes para acesso às aulas na modalidade de ensino remoto. Cada edital corresponde a um auxílio de parcela única. Um para disponibilizar chip de operadoras com internet e outro para ofertar R$ 1.400 para compra de aparelho tecnológico. O último é destinado a alunos admitidos em vagas de Pessoa com Deficiência (PcD) que poderão receber R$ 400.
Após a publicação, a assessoria da instituição enviou outra nota para reportagem garantindo que “nenhum aluno vulnerável socioeconomicamente ficará sem auxílio”. Leia aqui.
Editais
Chip com tráfego patrocinado (RNP)
Compra de equipamentos
Tecnologias assistivas
Atualizada às 11h46
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