Política


“Medo do enfrentamento de ideias”, avalia cientista político sobre falta de debates no segundo turno em Aracaju


Publicado 29 de novembro de 2020 às 13:00     Por Larissa Barros     Foto Arquivo Pessoal

No segundo turno das eleições em Aracaju, a disputa entre o prefeito da capital e candidato à reeleição Edvaldo Nogueira (PDT) e a também postulante Daniele Garcia (Cidadania) foi marcada pela ausência de debates, partidos apoiadores e voto crítico.

Para o cientista político e professor de sociologia da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Rodorval Ramalho, o fato de o atual gestor, que obteve mais apoios dos partidos políticos, se recusar a debater durante o segundo turno demonstra falta de zelo com a dinâmica democrática, ou medo do enfrentamento de ideias, por mero despreparo.

“O caso de Edvaldo Nogueira me parece exemplar desses dois fatores: intelectualmente limitado e hostil à democracia, pois se formou, politicamente, no Partido Comunista do Brasil, uma pérola do totalitarismo. Porém, como os grandes meios de imprensa, estranhamente, não decidiram realizar debates, o candidato acabou se safando do possível constrangimento de ter desempenho sofrível no momento de debater projetos para a cidade”, afirmou.

Atualmente, Edvaldo conta oficialmente com o apoio da Rede, Pros, PT e Avante. A coligação do gestor é formada pelo PCdoB, PSD, PDT, MDB, PV, PP, PSC, SD e Republicanos, sendo então o candidato com mais apoio partidário na disputa. Para o cientista político, esse amplo apoio não deve nos surpreender, pois em eleições locais ele fica mais evidente, e o atraem esses partidos é a possibilidade de negociar cargos e recursos.

“Os nossos partidos, em sua grande maioria, só sobrevivem perto de quem exerce o poder e tem capacidade de acomodar as demandas fisiológicas dessas agremiações. Nesse sentido, o domínio das máquinas estadual e municipal permitem essa atração dos fisiológicos a partir da distribuição de cargos e recursos. Essa é a cultura política brasileira ainda hegemônica”, afirmou.

De acordo com Ramalho, a lógica das eleições em dois turnos é garantir que o candidato eleito seja, de fato, majoritário no colégio dos eleitores. Para ele, a decisão de alguns partidos adotarem o voto crítico no segundo turno é escolher o candidato “menos ruim” ou naquele com quem ele tem menos divergências.

“Em casos extremos, o eleitor pode não identificar em nenhum dos candidatos o mínimo de afinidade e, assim, anular o voto. No caso dos partidos, repito, o que os atrai é muito mais a possibilidade de negociar cargos e recursos do que qualquer questão de ordem política e ideológica. Por isso mesmo é que quem está na máquina tem maior poder de atração”, disse.

O segundo turno das eleições municipais está marcado para este domingo (29). O AjuNews realiza a cobertura das eleições municipais, em Aracaju e de outros municípios brasileiros.



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