Entrevista


Eleição UFS: Candidatos citam propostas e sugerem adaptações no ensino após a pandemia de covid-19


Publicado 12 de julho de 2020 às 07:00     Por Larissa Barros     Foto Arquivo Pessoal

No dia 15 de julho, será eleita uma nova equipe que vai integrar a reitoria da Universidade Federal de Sergipe (UFS) nos próximos quatro anos. Para entrevista deste domingo (12), o AjuNews questionou aos quatro candidatos sobre os principais pontos do plano de gestão, adaptações do ensino superior após a pandemia de covid-19, entre outros questionamentos. Todos os candidatos foram procurados, mas somente o candidato que representa a chapa 4 não respondeu as perguntas.

Por causa da pandemia de covid-19, neste ano, a eleição será feita através do Colégio Eleitoral Especial, composto por representantes dos alunos, professores e técnicos administrativos, membros dos Conselhos Superiores, e pelo Conselho Diretor da Instituição. As normas regulamentam que o processo de escolha do reitor deve considerar a seguinte proporção/peso: professores (70%), técnicos administrativos (15%) e estudantes (15%).

Chapa 1- “Uma UFS Diferente: Gestão Integrada com Tecnologia”. Reitor: David Soares, Vice: Lucas Gonçalves.
Chapa 2 – “Renasce UFS: Plural, Segura e de Qualidade”. Reitora: Denise Leal, Vice: José Aderval.
Chapa 3 – “Universidade Necessária com Autonomia e Participação”. Reitora: Vera Núbia, Vice: Silvana Bretas.
Chapa 4 – “Por uma UFS inovadora, Democrática e mais Humana”. Reitor: André Maurício, Vice: Rozana Rivas.

Leia a entrevista:

AjuNews: Por que a chapa está se candidatando e qual o principal plano de gestão para a Universidade Federal de Sergipe?
Chapa 1: A motivação para oferecer uma candidatura à Reitoria da UFS está pautada na determinação de liderarmos o clamor por mudança existente entre alunos, professores e servidores, expresso na indignação e insatisfação com um paradigma de gestão continuísta na UFS. Pretendemos, nos somando ao dinamismo e moderação do Professor Lucas Gonçalves do Departamento de Direito, implementar um plano de gestão integrado fortemente com as Tecnologias digitais, de hardware e de software, para que a potência intelectual do professor seja maximizada em favor da capacitação do alunato com servidores valorizados para fazer diferente na administração da UFS. Aliás, nossa candidatura alegra a muitos na UFS, pelo fato de um Engenheiro Civil egresso da UFS em 1990, admitido em 1997 no Departamento de Matemática, e um Bacharel em Direito e Advogado, admitido em 2009 no Departamento de Direito da UFS, ambos com dedicação exclusiva, proporcionarem a discussão coletiva de um Projeto de Universidade para a UFS! Por isso, não se trata meramente de querer os espaços de poder pelo Poder, mas é antes honroso para a Chapa 1 – UMA UFS DIFERENTE-Gestão Integrada com Tecnologia figurar em um capítulo da História desta instituição venerável, simbolizada nos fiéis professores aposentados de ontem, constituída com os professores otimistas de hoje e projetada nos professores do amanhã, e a qual nós somos cordialmente agradecidos.

Chapa 2: Aceitamos o desafio de enfrentarmos um grupo que domina a UFS há 24 anos e que é responsável pelo descalabro administrativo em que a instituição se encontra e que os órgãos de controle apontam ser de extrema gravidade. O crescimento da instituição, a criação de novos cursos e sua interiorização não vieram acompanhados de uma preocupação com a qualidade. Assim, temos um plano de gestão realista e cujo valor-objetivo central é a qualidade. Queremos que a qualidade perpassa todos os campos: ensino, pesquisa, extensão, gestão e relações institucionais e interpessoais. Faremos com que a UFS seja um espaço de respeito à diversidade, de valorização da pessoa pelo reconhecimento de sua dignidade intrínseca, independentemente de qualquer acepção. No campo institucional queremos relações pautadas pelo interesse público, ética e defesa da nossa instituição. Adotaremos uma gestão financeira e administrativa mais eficiente, transparente, descentralizada e sem irregularidades na prestação de contas; uma gestão de pessoal que não priorize a lógica do compadrio e da acumulação de cargos e funções e de respeito aos direitos dos servidores. Buscaremos uma pesquisa de qualidade, especialmente voltada para a resolução de problemas locais e regionais, com financiamento assegurado e critérios mais transparentes e justos de distribuição de bolsas. Promoveremos uma extensão que incremente a inserção social da UFS, aproveitando todo o potencial humano em polos e campi da UFS. Quanto ao ensino, queremos que nossos estudantes tenham uma formação de qualidade, preparados para a vida como profissionais e cidadãos, com garantia de campo de estágio e segurança, para aqueles necessitam, de uma assistência estudantil sempre acessível e efetiva.

Chapa 3: A Chapa 3 – Universidade Necessária com Autonomia e Participação apresentou-se como uma possibilidade de fazer uma gestão mais participativa na UFS, algo que tem sido descaracterizado no interior da instituição, embora a sua constituição seja democrática por sua natureza. Um dos principais objetivos é defender o papel social da universidade e estimular o seu desenvolvimento. Temos como propósitos, uma gestão amparada na defesa e no compromisso com a autonomia e a participação; no tocante à autonomia da gestão financeira, pretendemos eleger prioridades a partir das manifestações colegiadas das unidades acadêmicas e administrativas; colocar o tripé ensino-pesquisa-extensão com o foco na função social da universidade pública; estimular a autonomia didática da formação na graduação e pós-graduação; estimular a participação da comunidade nos processos decisórios; valorizar a atuação docente em todos os níveis; criar estratégias de divulgação das pesquisas e ações para a sociedade;

AjuNews: Com o impacto da pandemia na educação do ensino superior, como pensa em resolver essa situação na faculdade?
Chapa 1: A primeira ação será discutir nos colegiados superiores e departamentais da UFS o protocolo de biossegurança do MEC definido pela Portaria 572 de 01 de julho de 2020. Com base nesta discussão será construída coletivamente uma versão deste protocolo, adaptado às condições de infraestrutura e de ensino da UFS, unindo nossa confiança nas competências das áreas de saúde e médicas bem como da área de gestão e engenharia, para definir ações de proteção e prevenção das vidas de nossos alunos, terceirizados, servidores e professores. O objetivo mais importante é garantir com segurança, o mais urgentemente possível, o acesso inclusivo dos alunos no retorno às aulas e às atividades de pesquisa, fazendo uma Gestão Integrada com Tecnologia via plataformas online e aulas gravadas. Atividades complementares serão direcionadas aos alunos não contemplados pela Inclusão Digital que é regionalmente desigual.

Chapa 2: Uma vez chegando à reitoria, vamos planejar a retomada das atividades presenciais com o propósito de evitar maiores perdas na qualidade da formação dos nossos estudantes. Ao contrário da atual gestão que durante essa pandemia tomou decisões sem qualquer consulta aos professores e estudantes e deixou de prestar informações com maior transparência e regularidade, queremos construir uma proposta amplamente discutida, com estudos sobre experiências de construção do planejamento em outras universidades do Brasil e até do exterior, e, principalmente, ouvindo quem está na ponta: os coordenadores de cursos e chefes de departamento, professores de colegiados e dos núcleos docentes estruturantes e representantes estudantis, de modo a que a qualidade do ensino seja mantida, mas sem sacrifícios desmedidos e sem recorrer ao famoso “jeitinho brasileiro” para recuperar o tempo perdido. Sabemos que, com essa situação de pandemia, os recursos tecnológicos passarão a ter um papel mais destacado, como suportes para as aulas presenciais e outras atividades acadêmicas. Assim, queremos que a UFS disponha de uma estrutura mais preparada e moderna para possibilitar o emprego mais eficaz desses recursos de modo a avançar a qualidade do ensino.

Chapa 3: A UFS possui um perfil de estudantes que requer um cuidadoso estudo antes de que se tome quaisquer definições acerca do uso de atividades remotas para substituir as presenciais. É possível, por exemplo, pensar em atividades que estimulem o desenvolvimento intelectual e cultural, mas não necessariamente aulas. Temos que aproveitar esse momento para pensar coletivamente na universidade que queremos; uma universidade que ajude o país, e especificamente o estado de Sergipe, a ter um maior protagonismo em diversas áreas, pois temos capital intelectual para isso; que se volte para os problemas sociais, tornando-os seus motivos para desenvolver a ciência; que estimule a fruição artística e cultural, com a cara do povo sergipano. Essas questões podem e devem ser objeto cuidadoso de debate que articule a comunidade universitária e a sociedade. É um passo que deve possibilitar compreender que não forma somente para atender às demandas de um mercado de trabalho, forma-se cidadãs e cidadãos cônscios da sua responsabilidade em responder à sociedade que a/o cerca. A magnificência da universidade é devido a formação intelectual de toda sua comunidade, por isto não cabe a ela adotar respostas prontas, especialmente, no momento de crise sanitária, social, econômica e política. Portanto, é necessário considerá-la nos aspectos formativos da juventude e, assim, organizar atividades que expressam a vitalidade da vida universitária através dos meios informacionais de educação de modo universalizado, disponibilizando para isto os recursos do Fundo de Democratização dos Serviços Telecomunicacionais

AjuNews: Tem alguma proposta para a implantação do ensino à distância? Como seria feito?
Chapa 1: Para a Chapa1, a EaD é uma necessidade ecologicamente, e economicamente, imprescindível na atualidade, por isso defendemos seu impulsionamento conforme as particularidades de cada curso e de cada área. A UFS conta com o Centro de Educação à Distância composta por uma base de servidores muito competentes e dedicados, mas pouco valorizados e evidenciados. Nossa primeira ação é a valorização da EaD da UFS com um Congresso EaD anual, objetivando premiar servidores, alunos e professores, proposta já contida no programa da Chapa1. Contando com a plataforma existente e dialogando com alunos, aposentados, servidores e professores é possível, sim, construir adaptações baseadas na Gestão Integrada com a Tecnologia, conforme proposta da Chapa1, suficientes para fazer mais pelo ensino a distância e massificar o acesso das turmas de graduação. É fundamental que, preservando a saúde dos três segmentos acadêmicos com base no protocolo de biossegurança, sejam reiniciadas as atividades na modalidade online para evitar prejuízos irreversíveis na formação dos alunos, na diplomação de profissionais e com o aumento da evasão.

Chapa 2: A UFS já tem um Centro de Educação à Distância, o CESAD, onde oferta regularmente diversos cursos como Ciências Biológicas, Física, Geografia, História, Letras-Português, Matemática, Química e Administração Pública, Letras-Espanhol, Letras-Inglês e Filosofia. Também oferta cursos de pós-graduação, em nível de especialização na área da Gestão Pública, Gestão em Saúde, Gestão Municipal e Gestão de Políticas Públicas com Foco em Gênero e Raça. Possui treze polos de apoio presencial, localizados nos municípios sergipanos de Arauá, Brejo Grande, Carira, Estância, Japaratuba, Lagarto – Colônia Treze –, Nossa Senhora da Glória, Nossa Senhora das Dores, Poço Verde, Porto da Folha, Propriá, São Cristóvão e São Domingos. É evidente que buscaremos uma ampliação da oferta de cursos e até a abertura de novos polos no interior, mas o CESAD vem enfrentando graves problemas como casos de nepotismo, inconsistências em cadastros de alunos, irregularidades no pagamento de bolsas, dentre outros problemas detectados em diversas auditorias do Tribunal de Contas da União. Assim, qualquer discussão sobre ampliação do ensino à distância da UFS deve ser precedida pela correção desses graves problemas que afetam os resultados que essa modalidade de ensino vem alcançando na UFS.

Chapa 3: O ensino a distância já é uma realidade na UFS, desenvolvido por meio do Centro Superior de Educação a Distância (CESAD), que oferta, na maioria, cursos de licenciaturas. Se a questão relaciona-se ao momento de pandemia e aos cursos presenciais, essa discussão necessita passar por um amplo debate, que atinja corpo docente, corpo discente e técnico-administrativos. A modalidade EaD possui características próprias, que exigem capacitação e acesso à tecnologia que, temos observado, não atinge a todas/os. Dados do IBGE de 2017 indicam que não somente é precário o acesso, como é desigual esse acesso no Brasil. No caso de moradoras/es de zonal rural esse acesso é ainda mais dificultado.

AjuNews: A aprovação da Emenda Constitucional nº 95 de 2016, que congela o valor do orçamento das Universidades por 20 anos, é uma situação preocupante e até insustentável na opinião de alguns alunos e docentes. Qual a proposta da chapa para enfrentar essa situação?
Chapa 1: É importante enfatizar que o orçamento das universidades federais está pré-definido constitucionalmente e tem como atributo a garantia da satisfação da autonomia de gestão financeira da universidade. A Chapa1 estará alerta para recorrer ao valor do diálogo interinstitucional entre a UFS e o MEC a fim de resolver estas demandas. Ademais, é possível recorrer, de modo apartidário e desvinculado de ideologias, às emendas de bancada dos parlamentares de Sergipe. Nossa gestão fixa, fortemente, suas diretrizes com base em valores como o diálogo institucional pelo favorecimento do trânsito acadêmico, mas principalmente, pelo fundamento da otimalidade na gestão dos recursos financeiros e das competências pessoais. É necessário diminuir desperdícios e perdas, aumentar o suporte à capacitação de servidores, alunos e professores para não deixar que a qualidade do servidor, o talento dos alunos e a competência dos professores sejam subutilizados.

Chapa 2: Vale lembrar que essa medida não afetou apenas as universidades públicas. Além disso, acreditamos que a reivindicação pela ampliação de recursos deve vir acompanhada com o compromisso com uma governança transparente e ética desses valores. E é esse o nosso compromisso! O orçamento da UFS de 2019 foi de quase R$ 700 milhões. Há outras fontes de recursos não contempladas nesse montante, como fundos especiais a exemplo do Programa de Assistência Estudantil e receitas advindas de aluguéis e taxas, por exemplo. Trata-se de um orçamento superior ao de muitas cidades do Estado, como Itabaiana, Estância e Lagarto. Colocar os graves problemas de gestão das universidades públicas e, em especial da UFS, na questão orçamentária não é ter maior compromisso com a verdade. Teremos a independência e coragem suficientes para lutar pela ampliação dos recursos alocados na UFS a partir da apresentação de dados reais que revelem de forma transparente uma aplicação adequada e otimizada dos recursos nela alocados. Portanto, é possível sim uma aplicação mais eficiente desses recursos que, a despeito da folha de pagamento de servidores e das despesas de custeio, permitiriam laboratórios bem equipados, melhoria da acessibilidade, funcionamento regular de restaurantes universitários em todos os campi, ampliação da residência universitária, disponibilização de transporte e diárias para professores e estudantes em pesquisas e atividades de campo, etc.

Chapa 3: A Emenda Constitucional 95/2016 estabeleceu o congelamento dos gastos públicos e com isso implodiu as metas previstas no Plano Nacional de 2014-2024. Junto às contrarreformas trabalhista e da previdência, observa-se uma sequência de medidas que tendem a destruir o serviço público no país, impedir a manutenção e a expansão das instituições públicas, o que desde o início do atual governo federal fica mais evidente. O orçamento da UFS tem limites que se relacionam ao porte da universidade. Embora situada no menor estado do país, a UFS possui uma estrutura própria multicampi, além dos polos para a modalidade EaD, em parceria com os municípios onde essa modalidade é ofertada. A manutenção dessa estrutura, que também se associa aos recursos humanos, está prevista no orçamento da instituição, mas há que se considerar, como já é fato, a incorporação de emendas parlamentares (que são impositivas, o que significa que são recursos garantidos), além de convênios com o estado e os municípios que viabilizem o desenvolvimento de ações da universidade.Há necessidade, por exemplo, de pensar um hospital para grandes animais, que atenda às demandas do curso de Medicina Veterinária; melhoria na infraestrutura de atendimento nos serviços da Psicologia e do Fórum; ampliação do espaço do Colégio de Aplicação; entre outras ações.

AjuNews: Qual a avaliação que a chapa faz do governo federal com relação às ações que tem feito para o ensino superior?
Chapa 1: Queremos trabalhar em constante diálogo com o Governo Federal via MEC de forma propositiva, harmoniosa e construtiva, pois a real avaliação de nossos serviços educacionais, incluídos aqueles da UFS e do MEC, e, portanto, do próprio Governo Federal é aquele compreendido pela Sociedade Sergipana. A UFS é parte integrante do Sistema Federal de Educação Superior Brasileiro, vinculada ao Ministério da Educação e, é da sociedade, a pertinência para avaliar as ações no âmbito da Educação Superior, visando à democratização do ensino e à inclusão de todos os brasileiros. Queremos, sim, uma universidade-tigre com todas as unidades fortes; não queremos uma universidade-caranguejo com parte dos setores fracos ou menores. Nossa esperança é que no futuro o sonho da diplomação do aluno seja identificado com o próprio sucesso institucional. Não queremos o exaurimento acadêmico do professor pelo excesso de atividades desconectadas e espúrias, nem a subutilização da massa de competência que não multiplica a potência da instituição em pesquisa, inovação e tecnologia. Queremos, sim, mais professores participando da pesquisa e orientação acadêmica; queremos, sim, mais servidores na capacitação em programas de pós-graduação para progredir profissionalmente; queremos, sim, mais alunos envolvidos em pesquisa e em todas as áreas de forma mais uniforme e ampla. Esperamos, assim, ser lembrados por contribuir para que a UFS seja a primeira referência de um Saber integral no Estado de Sergipe. Confiamos que é tempo de mudar!

Chapa 2: Como em todo ministério, tem havido acertos e erros. Certamente o estilo polêmico do ex-ministro Weintraub comprometeu avanços e dificultou o debate mais aberto e propositivo para enfrentarmos a crise que a educação brasileira e, particularmente, o ensino superior no Brasil vem enfrentando. Penso que algumas propostas saídas do Ministério da Educação demandariam um olhar mais cuidadoso e reflexivo da comunidade universitária, como a preocupação com um repasse mais justo dos recursos para as universidades federais que levassem em conta não apenas o critério numérico, quantidade de alunos matriculados na instituição, mas outros critérios também, como parâmetros de transparência e gestão mais eficiente. Alguém acha razoável um curso como astrofísica na UFS formando menos de 5% de estudantes por ano, ou seja, de 100 alunos que ingressam saem formados menos de 5? Qual o campo de trabalho desse estudante aqui no estado? Há no Estado, ou até mesmo no Nordeste, suficiente demanda de novos profissionais nessa área que seriam formados ano a ano? Também existe toda a polêmica em torno do Future-se, um programa que, faltando mais clareza sobre sua concepção e operacionalização e sendo até exagerado na quantidade de normas que demandariam ser alteradas para sua implementação, poderia, pelo menos, estimular o debate mais honesto e desarmado sobre formas mais amplas e dinâmicas de financiar a pesquisa nas universidades brasileiras. Mas confesso que, oriunda das Ciências Sociais, sempre me incomodou o desprestígio que o ex-ministro dispensava às ciências humanas e às artes. Entendo que cursos como Filosofia, História e Ciências Sociais, dentre outros, tem sua razão de ser e não podemos abrir mão de sua importância na contribuição do conhecimento do mundo, da sociedade brasileira, da história nossa, da humanidade e de outros povos. Agora, é torcer para que seja escolhido um bom ministro para, à frente do MEC, atuar de modo a promover efetivamente a tão necessária e urgente qualidade da educação brasileira.

Chapa 3: O governo federal deu demonstrações diversas do desapreço à educação pública no país. No caso da educação superior, as medidas tomadas têm dificultado o pleno exercício da autonomia universitária, porque muitas vezes as universidades acabam por atender a demandas que implicam na continuidade de áreas que podem contribuir com o desenvolvimento do país, como é o caso recente da redução de bolsas ou de recursos para pesquisas e pós-graduação nas áreas de humanidades. Há também os ataques à produção do conhecimento nas universidades públicas, que em quaisquer rankings apresentam melhores índices no Brasil. A pandemia de coronavírus mostra o retorno da produção científica, com a demonstração da capacidade das instituições públicas em responder à demanda, mas não se faz pesquisa de ponta sem que se tenha recursos contínuos para isso, e a gente observou no ano de 2019 a capacidade de o governo federal atingir as universidades quando do corte de recursos no primeiro trimestre, que só foram liberados no último trimestre do ano. É fato que as universidades são instituições públicas, que devem atender às normativas de gestão previstas para a administração pública, porém é evidente que gozam de autonomia para definir como possibilitar o desenvolvimento da região onde se insere a partir de definições que atentem para as particularidades dessa região. As distorções regionais devem ser consideradas para que as instituições funcionem na sua plenitude.



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