Entrevista
Presidente da ABIH-SE diz que retomada do turismo será lenta e cobra Centro de Convenções: ‘Sempre foi lenda’
Como em outros estados brasileiros, Sergipe já enfrenta os impactos da pandemia causada pelo novo coronavírus (covid-19) no setor hoteleiro. Em entrevista ao AjuNews, o presidente da Associação Brasileira de Indústria e de Hotéis em Sergipe (ABIH-SE), Antônio Carlos Franco, afirma que a taxa de ocupação dos leitos de hotéis e pousadas chegaram a praticamente zero por cento entre março e abril neste ano.
Ao encarar a dimensão do desafio que o segmento hoteleiro tem pela frente, o presidente da ABIH-SE avalia que se os casos da doença tiverem queda, o turismo corporativo será o primeiro a reagir. Diante do possível cenário, ele acredita ser importante acelerar a entrega do Centro de Convenções que se arrasta há sete anos.
“Se a gente tiver com esse equipamento pronto quando tiver a retomada vai ajudar muito o turismo em Sergipe. A gente já vai ter uma agenda aberta, já pode trabalhar esses eventos aqui como outros estados estão fazendo também. A Bahia, com o novo Centro de Convenções, já está trabalhando a agenda de 2021. E o Centro de Convenções para a gente sempre foi uma lenda, vai abrir, não vai abrir, quando é que vai abrir? Essa conversa que vai reabrir eu já estou no ramo há cinco anos e não reabre”, critica.
Também em entrevista, Franco relata queda da receita e conta que tentou dialogar com a prefeitura de Aracaju. “Até agora nada. Nós reivindicamos isenção do ISS, do IPTU, um plano de turismo, porque quer queira ou não a maioria dos hotéis estão em Aracaju e contribui com o ISS para Aracaju”.
Leia a entrevista completa:
AjuNews: Qual o impacto do coronavírus na hotelaria de Sergipe?
Antônio Carlos Franco: O impacto foi muito grande porque a princípio tivemos o decreto do governador mandando fechar os hotéis no primeiro momento. Também teve o aspecto mercadológico, as vendas caíram muito para o destino, houve uma redução natural da malha aérea. As pessoas, com as medidas de restrição, deixaram de viajar e apenas as viagens de extrema necessidade continuaram acontecendo. Depois o decreto de 20 dias atrás que liberou os hotéis para abrir respeitando algumas medidas como a Organização Mundial da Saúde manda, que é o uso de máscara, o acompanhamento de um profissional de saúde nos hotéis para identificar possíveis suspeitas tanto para proteger os colaboradores quanto para proteger os clientes. Mas o que a gente nota é a maioria continuou fechada, os poucos hotéis que estão funcionando têm uma demanda é muito pequena.
AjuNews: Associação já fez algum levantamento para avaliar o prejuízo causado?
Antônio Carlos Franco: Não temos esses números na hotelaria. Saímos com as pesquisas e estamos esperando os resultados dos hotéis, mas a receita hoje da maioria dos hotéis é zero, né? Não só [prejuízo] da hotelaria, porque movimenta toda uma cadeia, você tem hotelaria, você tem bar e restaurante, você tem comércios que esses turistas frequentam, então toda a cadeia de turismo está sendo prejudicada aqui no estado. Hoje, para se ter uma idéia, nós temos apenas um voo diário ou se salvo engano, temos um dia na semana que não temos voo nenhum. A demanda turística é muito pequena em função do momento em que o mundo vive também, não é só em Sergipe. A gente conversa com outros presidentes, com outros colegas também e eu acho que está todo mundo no mesmo barco. E o que todos estão fazendo agora é planejando uma eventual retomada. Estão sendo criados protocolos, estão sendo criados selos que vão trazer mais tranquilidade tanto para o cliente quanto para o colaborador.
AjuNews: No ano passado, entre fevereiro de abril, quantos leitos estavam ocupados e qual foi a taxa de ocupação no mesmo período deste ano?
Antônio Carlos Franco: Do ano passado eu não me recordo quando foi o Carnaval, mas, por exemplo, uma média histórica de fevereiro a abril nossa é 60% de ocupação, salvo o pico de Carnaval que a gente aqui em Sergipe chega a 95%, 100%. Agora, em fevereiro um pouco antes do pico, eu acho que a gente atingiu 50%. Em março foi quase zero por cento porque os hotéis estavam fechados e os que reabriram em abril foi quase zero por cento de ocupação, a maioria fechado.
AjuNews: A Associação já tem uma média de quantos profissionais foram demitidos?
Antônio Carlos Franco: A gente ainda não tem esses números, estamos fazendo um levantamento mais apurado porque quando chegou a pandemia em si vários hotéis fecharam e deram férias coletivas. Então, têm hotéis que já voltaram das férias coletivas, têm hotéis que estão voltando. Então, esses números a gente vai tratar agora com precisão nesta primeira semana de maio. Muita gente retornou em abril e a gente vai ter esses números de forma mais completa. As demissões também se dão por uma falta de expectativa que você vai ter no restante do ano, se você não vai ter a receita que previa, se você não vai ter a demanda que você previa, você também não pode ter a mesma equipe trabalhando, a mesma força de trabalho no seu hotel, é o que a gente escuta da maioria. É uma readequação do quadro do hotel para atender uma demanda mínima.
AjuNews: Quando será possível recuperar e o que poderá ser feito?
Antônio Carlos Franco: A recuperação é a pergunta do milhão. Ninguém sabe quando a gente vai retornar, eu acho que essa retomada começa, principalmente, do rodoviário. É o cliente que não vai depender de malha aérea para viajar, e a gente está falando aqui em torno, em Sergipe, um raio de 600 km. Esse é o raio que a ABIH quer começar a fazer uma mídia on-line para atingir esse público que no segundo semestre, numa eventual retomada, é o público que vai chegar primeiro. Também já está se falando de público interno, que são aquelas pessoas que moram no interior e querem sair daquele ambiente e não querem também viajar para fora do estado, que procuram os hotéis que é um ambiente diferente. Já está se falando nisso como forma de gerar receita. Para um roteiro nacional, a gente acha que vai demorar mais um pouco porque vai depender da malha viária, vai depender de uma vacina. Eu acho que as viagens corporativas vão iniciar primeiro do que as viagens de lazer por uma necessidade de trabalho, porque as empresas não estão parando, algumas empresas estão funcionando, então, eu acho que esse é um panorama que a gente espera para Sergipe. Agora, quando isso vai acontecer a gente vai ter que aguardar as cenas mais para frente, mas o nosso planejamento hoje numa eventual retomada é para o turismo rodoviário. A gente espera uma retomada do doméstico no final do segundo semestre deste ano, caso os números da covid-19 caiam, é o que estão se falando. Mas uma retomada mesmo do turismo como no ano passado a gente só espera para o final de 2021 ou 2022.
AjuNews: Que ajuda o setor hoteleiro tem recebido do governo federal e estadual?
Antônio Carlos Franco: Do Governo Federal só essas medidas previstas na MP de suspensão e redução. Se fala em financiamentos, o ministro do Turismo falou mas a gente até agora não viu nada prático para Sergipe. O Governo Estadual até agora, via Deso [Companhia de Saneamento de Sergipe], os hotéis pagavam uma demanda mínima contratada. Não tinha cabimento um hotel fechado pagar por um mínimo, então, a Deso suspendeu essa cobrança mínima por três meses e o hotel hoje paga por consumo. Então, isso foi uma medida positiva do Governo do Estado, só isso também.
A prefeitura de Aracaju até agora nada. Nós reivindicamos isenção do ISS [Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza], do IPTU [Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana], um plano de turismo, porque a maioria dos hotéis estão em Aracaju e contribui com o ISS para Aracaju. O turista que vem para Aracaju está movimentando a capital. Então, a gente pediu. Foi comentado com a prefeitura de Aracaju também um plano de retomada através dos seus técnicos, mas até agora nada foi feito.
Um coisa que eu vejo muito importante que é, as obras do Centro de Convenções para o turismo corporativo, que são as pessoas que viajam a trabalho e vai ser retomado primeiro por uma questão de necessidade, então, se a gente tiver com esse equipamento pronto quando tiver a retomada vai ajudar muito o turismo em Sergipe. A gente já vai ter uma agenda aberta, já pode trabalhar esses eventos aqui como outros estados estão fazendo também. A Bahia, com o novo Centro de Convenções, já está trabalhando a agenda de 2021. E o Centro de Convenções para a gente sempre foi uma lenda, vai abrir, não vai abrir quando é que vai abrir? Essa conversa que vai reabrir eu já estou no ramo há cinco anos e não reabre.
O que a gente vem cobrando do Estado, agora de maneira concreta, é que mantenha o cronograma de obras pois ter esse equipamento pronto no final do ano vai ajudar o turismo. A gente precisa desse equipamento porque o hotel que atende hoje em Aracaju cabe no máximo 500 pessoas em eventos. É importante a gente ter esse equipamento pronto para a retomada. Tudo que a gente poder usar para aumentar o fluxo de turistas vai ser muito positivo porque a retomada vai ser lenta.
AjuNews: Recentemente, houve uma polêmica por causa de uma contratação feita pelo Estado de quase R$ 960 mil para abrigar profissionais da saúde em um hotel. O que deve ser levado em consideração no momento em que se fecha um contrato para abrigar profissionais da saúde em uma pandemia?
Antônio Carlos Franco: a gente acompanhou pela imprensa essa contratação, a ABIH ela não foi notificada oficialmente a respeito disso. O que a gente soube também pela imprensa é que foi feito um custo baseado no valor da diária, alimentação e alguns outros itens. A gente acredita que seja importante ter um hotel desses para abrigar essas pessoas que estão em quarentena ou que já tenham uma doença e queiram ficar em quarentena, mas é como eu digo desde o início, a ABIH não foi procurada para isso então a gente também oficialmente não tem como se pronunciar.
AjuNews: O governo do estado liberou o funcionamento de hotéis, motéis e pousadas, desde que cumpram regras de combate à doença. Os estabelecimentos sergipanos estão preparados para essa higienização?
Antônio Carlos Franco: Tudo é uma questão de adaptação. Aqueles hotéis e pousadas que depois do decreto resolveram abrir tiveram que cumprir a risca o que estava previsto no decreto, inclusive, passível de fiscalização da vigilância sanitária como já está acontecendo. Então, eu acho que é uma questão de adaptação e eu acho que é uma questão também de sobrevivência empresarial. Os protocolos de saúde estão aí, nós da ABH estamos buscando parceria, inclusive, com o Sebrae e com o Governo do Estado para criar um selo, porque nós acreditamos que é uma tendência mundial. As grandes redes hoteleiras já estão trabalhando nestes protocolos. As pessoas hoje só irão procurar meios de hospedagem, meios de lazer como um todo, que estejam atendendo rigorosos critérios sanitários. Eu acho que os empreendimentos vão ter que ser adaptar a esse nova realidade, do mesmo jeito que a gente ouve falar em varejo on-line. As medidas sanitárias hoje para os empreendimentos hoteleiros vieram para ficar e eles vão ter que ser adaptar e estão se adaptando. É claro que no início pode haver uma dificuldade ou outra, mas pelo que a gente tem acompanhado dos nossos associados, todos estão atendendo as medidas do decreto e da Organização Mundial da Saúde.
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