Entrevista


‘Quem dizia que não ia andar com fulano já está fechando acordos’, diz Emília Corrêa sobre oposição na corrida eleitoral


Publicado 02 de agosto de 2020 às 07:00     Por Eduardo Costa     Foto César de Oliveira / Câmara de Aracaju

Nova líder da bancada da oposição na Câmara de Aracaju, a vereadora Emília Corrêa (Patriota) criticou, em entrevista ao AjuNews, as alianças feitas pelo grupo de oposição ao prefeito da capital sergipana, Edvaldo Nogueira (PDT), na disputa pelo mais alto comando do Executivo Municipal. “O que vemos agora é que todos estão somando, quem dizia que não ia andar com fulano já está fechando seus acordos. Eu mantive a minha palavra, que foi o contexto pelo qual eu não saí pré-candidata de repente à prefeita”, afirmou a parlamentar.

À reportagem, a Emília contou que houve um acordo envolvendo o senador e presidente do Cidadania em Sergipe, Alessandro Vieira, e a pré-candidata da sigla, a delegada Danielle Garcia, em que os critérios de escolha eram as pesquisas. “Quem não fosse o escolhido daquele grupo não sairia a prefeito ou a vice. Eu tenho palavra, gosto de honrá-la e sinto muita dificuldade em quebrar. Poderia até quebrar, no grupo eu não sei quantos manteriam a palavra com a visibilidade e a aceitação que meu nome está tendo”, avaliou.

A vereadora avaliou também que a fragmentação no grupo da oposição facilita ao atual prefeito. “É um cenário totalmente incerto, de incoerência, de não se ter nomes. O que está posto até agora pelo visto não tem agradado”. Ao site, a parlamentar ressaltou que apesar de não ter se colocado como postulante ao maior posto do Executivo Municipal, seu posicionamento “pode mudar, mas é pouco provável”.

Durante entrevista, Emília também criticou a postura de vários políticos, entre eles, o governador de Sergipe Belivaldo Chagas (PSD), e o presidente da Câmara de Aracaju, Nitinho (PSD), além de outros políticos, que declararam apoio ao prefeito Edvaldo Nogueira (PDT) após a Operação Serôdio e minimizaram a atuação da Polícia Federal (PF) e Ministério Público Federal (MPF).

A vereadora ainda criticou a atuação da Câmara de Aracaju na fiscalização do Executivo Municipal. “Quando Edvaldo ganhou a eleição, éramos na oposição 16 vereadores. Hoje, só temos quatro. Só aí já é muito estranho e costumeiro. Aqueles vereadores participaram de uma eleição e de uma campanha como oposição, e de repente, do dia para a noite, tornaram-se situação. Como se muda de posicionamento e de visão assim?”, questiona.

Leia a entrevista completa:

AjuNews: Nas pesquisas mais recentes para a Prefeitura de Aracaju, o seu nome aparece bem posicionado, mas a senhora não confirmou sua pré-candidatura ao Executivo Municipal. Ainda há o interesse, ou o foco será a reeleição como vereadora?
Emília Corrêa: É um reconhecimento muito grande. Um presente de Deus esse voto de confiança. Na eleição de 2018, obtivemos quase 35.000 votos só em Aracaju. Fui a candidata a deputada federal mais votada de Aracaju. Sobre o contexto político, ele é muito falado e nas práticas nem sempre é como se diz. Isso me irrita muito. Todos sabem do contexto que levou o nome da vereadora Emília a uma pré-candidatura, nasceu de forma espontânea. Depois da eleição de 2018, de imediato saiu o meu nome mencionado pelas pessoas. E isso é muito forte, foi pelo povo. O nome da vereadora Emília não foi mencionado por um grupo, uma pessoa, foi escolhido pelo povo. Mas há uma necessidade de quando se vai a uma eleição em somar grupos, logicamente tendo cuidado para não perder o que se diz nas falas. É a história da “nova política”, da “velha política”, que fulano é da nova ou da velha, é bom ter cuidado. O que vemos agora é que todos estão somando, quem dizia que não ia andar com fulano já está fechando seus acordos. Eu mantive a minha palavra, que foi o contexto pelo qual eu não saí pré-candidata de repente à prefeita. Houve em um determinado momento um acordo no grupo em que participei, do senador Alessandro Vieira, com Milton Andrade, Danielle Garcia e Dr. Emerson, em que os critérios de escolha eram as pesquisas, e quem não fosse o escolhido daquele grupo não sairia a prefeito ou a vice. Eu tenho palavra, gosto de honrá-la e sinto muita dificuldade em quebrar. Poderia até quebrar, no grupo eu não sei quantos manteriam a palavra com a visibilidade e a aceitação que meu nome está tendo. Até aqui o que temos como certo é a pré-candidatura à reeleição de Emília à vereadora. Pode mudar, mas é pouco provável.

AjuNews: Há uma aliança ou uma possibilidade dela com o DEM ou com o Cidadania para o pleito deste ano?
Emília Corrêa: Essa possibilidade de coligação com DEM ou Cidadania, eu tenho deixado que seja conduzido pelo presidente do Patriota. Ele tem conduzido muito bem e tem me ouvido. A gente troca muitas opiniões e balanceado isso junto com os filiados, e no nosso partido ouvimos de verdade os filiados. Tudo se decide normalmente pela maioria. É um respeito muito grande que não vi em outro partido. Posso dizer que em outros partidos eles dizem que ouvem, que conversam, mas já vem tudo definido. Vou esperar e aguardar o momento certo de me manifestar sobre isso.

AjuNews: Caso não venha a concorrer como prefeita, pretende apoiar alguma chapa? Como a senhora observa o desenho da corrida eleitoral em Aracaju?
Emília Corrêa: O que temos como certo é a pré-candidatura à reeleição para vereadora, mas não podemos descartar nada. O fecho, a conclusão das coisas acontece realmente perto das convenções ou nas próprias convenções. Eu tenho analisado a corrida eleitoral primeiro como de uma incoerência tremenda. Não estou aqui defendendo interesse próprio, mas sempre tive uma opinião de eleições unificadas. E o que eu noto é que há uma ânsia tão grande para se chegar ao poder ou para se manter nele, que se esquece que estamos em uma pandemia e que o calendário mundial foi alterado. Para as eleições, isso foi alterado apenas em um mês. É uma incoerência muito grande de pessoas públicas dizerem que se preocupam com o povo. Não se discutiu como deveria ser, e hoje estamos com a eleição para acontecer em plena pandemia. Em um desenho eleitoral totalmente avesso ao que realmente interessa, que é a saúde do povo. Vejo uma mistura muito grande de pessoas que se diziam da chamada ‘boa política’, que não iriam se misturar com A e B, e hoje conversam e estão fechando. Tenho notado a fragmentação cada vez mais da oposição, e isso só facilita a situação. É um cenário totalmente incerto, de incoerência, de não se ter nomes. O que está posto até agora pelo visto não tem agradado, não tem emplacado. Vejo muita gente dizer que não vai votar, e isso é muito ruim, pois facilita quem está no poder. É uma situação instável e insegura, não tenho gostado do que está acontecendo e não é o que o povo espera.

AjuNews: A senhora e outras pessoas de oposição têm ganhado muita voz e expõem duras críticas à gestão pública. Mesmo assim, nas pesquisas mais recentes, o prefeito Edvaldo Nogueira segue liderando em busca da reeleição. Por que a senhora acha que isso acontece?
Emília Corrêa: As coisas são muito evidentes, as críticas à gestão são fundamentadas em uma falta de ética, transparência, em absurdos claros e flagrantes, desvios de recursos federais. E a gente vê que ainda nas pesquisas o prefeito Edvaldo Nogueira lidera. Que pesquisas são essas? Onde são feitas? Como já disse em vários momentos, eu não confio nas pesquisas. Todos sabem que quando se contrata um instituto, respeitando os que são sérios, ele vai lá e faz a pesquisa. Tem uma que serve para consumo interno e outra que vai se tornar pública, direcionando-se para onde se quer. A gente sabe que muitos institutos praticam isso, à exceção dos sérios. Mas se eu confiasse em pesquisas, não seria a deputada federal mais votada de Aracaju em 2018, nem seria vereadora, porque não aparecia como eleita. Pesquisa é uma coisa que tem para todo gosto, e talvez seja por isso que ele esteja liderando, não sei. Infelizmente, essa questão é muito duvidosa e os critérios são muito direcionados, de grupos. Quem diz a verdade é a urna, e isso me preocupa hoje com a pandemia, pois muitos estão indignados e não irão se arriscar. Como os candidatos farão campanhas sem se aproximar do povo e vice-versa? É algo muito delicado.

AjuNews: Nos debates na Câmara de Vereadores, a senhora chegou a cunhar o termo “bancada do amém” para os vereadores da base do governo. A vereadora crê que, em ano de eleição, esse comportamento pode se intensificar? Como isso prejudicaria a população?
Emília Corrêa: Nos debates na Câmara, a gente sabe que a bancada da situação é uma bancada absurdamente numerosa. Quero até lembrar que quando Edvaldo ganhou a eleição, éramos na oposição 16 vereadores. Hoje, só temos quatro. Só aí já é muito estranho e costumeiro. Aqueles vereadores participaram de uma eleição e de uma campanha como oposição, e de repente, do dia para a noite, tornaram-se situação. Como se muda de posicionamento e de visão assim? A gente sabe que isso tem uma contraprestação, que é dizer ‘sim’ a tudo que vem do Executivo. E na maior parte das vezes, infelizmente, bons projetos ficam para trás porque não eram da bancada da situação, e sim dos quatro da oposição. Lamentavelmente, isso acontece, e é ruim. Esse comportamento certamente tende a ser intensificado neste ano e campanha. Existem os compromissos, os acertos, sem dúvida. Ninguém é criança para não compreender isso. Eu posso mudar de pensamento e de opinião com argumentos e embasamento real, não com fantasia para enganar o povo. Do jeito que assistimos, infelizmente é uma bancada que não tem correspondido. Há dois pesos e duas medidas, com todo respeito aos vereadores, mas eles decidem como entendem que é o mais correto. Acho que a leitura que se faz de mudança não é positiva, o próprio Edvaldo já fez isso, além dos vereadores. O que é isso? E o pior de tudo é o prejuízo geral das pessoas, abortando excelentes projetos porque a autoria não é do comando do Executivo. Meus projetos mesmo são rejeitados e derrubados por causa da autoria. Mas continuamos insistindo a fazer o que deve ser feito.

AjuNews: Após a Operação Serôdio, o governador Belivaldo Chagas, o presidente da Câmara Municipal, Nitinho, vários vereadores e alguns deputados declararam apoio ao prefeito Edvaldo Nogueira. Como a senhora avalia esse posicionamento, principalmente, após a Justiça afastar um servidor suspeito de beneficiar com informações o empresário que venceu a licitação para o Hospital de Campanha?
Emília Corrêa: Eu tenho a maior tristeza, é uma frustração muito grande ver todos do mesmo lado. Governador, presidente da Câmara, prefeito. A gente vê a Operação Serôdio, a Justiça afastando e apreendendo, a Polícia Federal e o Ministério Público Federal graças a Deus existem e estão investigando. Vemos suspeitas de se passar informações a empresários que vencem licitação do Hospital de Campanha. Um hospital custando mais de R$ 3 milhões sem UTI, só estrutura. Vemos publicidade da covid-19 custando mais de R$ 3 milhões e com propaganda enganosa do que não se tem. Vemos recursos federais chegando e não tendo o básico de proteção, ao menos para aqueles que estão na linha de frente do combate. É lamentável não ter EPIs, UTIs, como pode? Sinceramente, eu avalio com vergonha, mas com esperança de que a casa vai cair. A casa vem caindo, e vamos continuar nisso. Nada contra eles, não é desejando o mal de ninguém, mas como gestores não estão correspondendo. Estamos vendo políticos fazendo uma carta de apoio ao prefeito Edvaldo, lamentando até o trabalho das instituições que tem que fazer por obrigação legal o seu trabalho. É de uma incoerência, faltam palavras. Mas são atos reveladores da personalidade das gestões, aí fica a critério do julgador, que é o povo. Os órgãos investigarão e denunciarão, mas o juiz maior neste caso é o povo, acima de tudo é Deus, e a justiça virá.

AjuNews: A senhora acredita que, com a pandemia, a quantidade de eleitores pode cair com receio de contaminação? Como os políticos irão trabalhar essa questão para convencer a população a ir às urnas?
Emília Corrêa: Eu tenho sentido que as pessoas primeiro estão indignadas, frustradas, desacreditadas e com medo de serem contaminadas. Eleição e campanha são sinônimos de aglomeração, e como vai se controlar isso? Nós podemos ter um resultado muito negativo, perigoso para uma democracia, de termos uma eleição esvaziada e talvez de recondução ao poder daqueles que foram os piores gestores. Seria muito bom refletir, nada é inflexível neste momento. Mesmo com decisão de ministro alterando apenas de outubro para novembro uma eleição, e cá entre nós, isso é ridículo! Estamos em uma pandemia que mudou todos os conceitos, inclusive jurídicos e constitucionais. Acho que nunca é tarde para rever isso. Temos uma incoerência enorme, estamos vendo gestores pelo Brasil adiando até festas de carnaval em quatro meses. O calendário mundial foi alterado. A eleição é essencial? Pode ser esvaziada e trazer um dano muito grande para nossa população. Sinceramente, vejo como uma tremenda incoerência. Vejo muitos falarem que não irão votar. Fica ruim para os políticos, como eles vão se aproximar do povo? Disseram que é muito ruim para os vereadores tocarem nesse assunto porque fica parecendo que está se defendendo a continuidade de um mandato ou interesse próprio. Não acho, e se pensarem isso é porque talvez no meu caso não me conheçam, porque eu sempre defendi as eleições unificadas por uma medida de economia. Podem pensar que a gente quer continuar no poder. Certamente é melhor que pensem assim, mas que cuidemos do povo. Eu estaria certamente muito mais confortável se não fosse vereadora para falar isso, mas sendo vereadora eu não posso abrir mão daquilo que penso. E agora, o que vale é cuidar da saúde. Todo dinheiro que será gasto em uma eleição poderia estar sendo convertido para a covid-19 se essa fosse a preocupação. A técnica jurídica não é maior que a saúde, mesmo uma questão como essa. Temos que nos basear na essencialidade, é essencial? Fecharam as portas do comércio para cuidar da saúde, tiraram a renda das pessoas, mas não pode deixar de haver eleição? É possível sim aumentar a contaminação, mas vamos aguardar o que vai acontecer.



Os comentários não representam a opinião do portal; a responsabilidade é do autor da mensagem.
Leia os termos de uso