Justiça


Justiça do MS multa filhos de idosa que morreu sem atendimento após críticas na internet


Publicado 07 de dezembro de 2020 às 15:49     Por Eduardo Costa     Foto Arquivo Pessoal/Divulgação/UOL

A Justiça Estadual do Mato Grosso do Sul (MS) multou um casal de filhos de uma mulher de 71 anos que morreu em uma unidade de saúde na capital Campo Grande, após esperar mais de sete horas por uma internação. Leandro Oliveira e Edivânia de Sousa Oliveira Pazini foram sancionados em R$ 10 mil. Maria do Carmo Souza faleceu nas dependências da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Leblon.

Um dos filhos de Maria do Carmo, o enfermeiro Leandro Oliveira, publicou em seu Facebook que o médico responsável teria dificultado a transferência dela para outra unidade hospitalar. Segundo ele, o médico foi perguntado sobre um possível agravamento da situação e respondeu: “pode agravar e diminuir, sim, mas já fiz tudo o que podia fazer”.

Leandro prosseguiu: “Ela ficou infartada das 7:30 até as 15:00 agonizando em cima de uma maca, viva e reclamando de fortes dores no tórax, braços, cabeça e estômago, e pouco foi feito para reverter o quadro”. Os filhos afirmam que o médico se negou a mandar a imagem do eletrocardiograma necessária para agilizar uma vaga em um hospital.

Depois de várias postagens, onde chegaram a ser expostos o nome e o registro profissional, o advogado do médico, David Frizzo, decidiu a pedido do próprio processar os irmãos. Ao UOL, ele afirmou: “Não é fácil para sua família ver você sendo acusado de ‘matar’ a mãe de alguém. Inclusive os colegas de trabalho passam a questionar a situação”. Ele teria ficado “bastante abalado” com a situação e a repercussão do caso.

“Ele [o médico] questionou a unidade, pois não tem disponível nenhum meio de transmissão de informações, seja um scanner, seja um celular da unidade. O gerente enviou [a imagem] do celular pessoal dele, mas, como constou este fato no prontuário, a família acredita que tenha sido a razão pelo atraso”, disse David Frizzo.

O processo pedia a remoção das publicações e indenização por danos morais. O juiz Fábio Ferreira de Souza acatou e condenou os filhos de Maria do Carmo Souza a pagar R$ 10 mil. “A utilização de expressões como ‘assassino’ e ‘doutor da morte’ […] é suficiente para afrontar a honra e integridade de quem ocupa um cargo público”, afirmou o magistrado, segundo o UOL.

Os dois recorreram à decisão e processaram o médico por negligência. A ficha com o atendimento da idosa revela que a imagem do eletrocardiograma foi pedida às 8h22, 9h21 e 13h12. No mesmo dia, às 14h32, foi registrada a morte. “E aí a gente teve acesso a isso e meu irmão começou a postar foto do documento e, acidentalmente, apareceu o nome do médico. Ele devia ter um pouco de vergonha na cara, entender nossa situação e não processar a gente”, disse Edivânia de Souza.

A Secretaria Municipal de Saúde de Campo Grande informou que foi aberta uma sindicância para investigar o caso. Também foi dito que “as unidades de urgência e emergência dispunham de um aparelho celular exclusivo de uso dos servidores para contato com a Coordenadoria de Urgência e a Central de Regulação, sendo possível a utilização do mesmo para ligação ou envio de mensagens de texto e imagens”



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