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‘Não vou estuprar o Governo’, teria dito empresária após secretário sugerir superfaturamento em compra feita pelo Consórcio NE


Publicado 12 de junho de 2020 às 15:35     Por Dhenef Andrade     Foto Elói Corrêa / Governo da Bahia

Cristiana Prestes Taddeo, dona da Hempcare, envolvida no caso da compra dos 300 respiradores feita pelo Consórcio Nordeste e que não foram entregues afirmou que o ex-secretário da Casa Civil do governo da Bahia, Bruno Dauster, sugeriu um aditivo contratual para que valores dos equipamentos fossem elevados. A declaração foi feita em depoimento à Polícia Civil baiana, e divulgada pela TV Bahia, nesta quinta-feira (12).

Dauster teria sugerido aumentar o valor dos iniciais 23 mil dólares para 27 mil dólares e, por fim, para 35 mil dólares. Em resposta à Dauster, Cristiana disse que não iria “estuprar o Governo dessa maneira”. Ainda à polícia, a empresária disse que ficou surpresa com a rapidez com que o pagamento foi realizado, dois dias após a assinatura do contrato, e sem a exigência de garantias.

Cristiana ainda afrmou que a Hempcare não é fabricante de respiradores e que agiu com importadores dos produtos, que seriam importados da cidade de Guangzhou, na China. A intermediação do processo foi feita pelo WhatsApp, em um grupo com empresários, e que o Consórcio Nordeste, presidido pelo governador baiano Rui Costa (PT), não participou diretamente na compra dos respiradores.

“O Consórcio Nordeste teve pouca autonomia no processo de compra dos ventiladores pulmonares, ficando responsável apenas pelo pagamento após formalização do contrato, bem como por organizar a logística para futura distribuição dos equipamentos”, declarou a investigada.

A compra dos respiradores da China não foi bem sucedida. Em documento enviado à Polícia Civil da Bahia, a fábrica chinesa afirmou que não tem qualificação para fabricação do equipamento. Cristiana, segundo o depoimento, sugeriu como “plano B” a compra de produtos nacionais através de outra empresa, a Biogeoenergy, que não tem aprovação da Anvisa.

A empresária disse que Dauster teria concordado com a ideia e que a Bioeonergy recebeu o valor de R$ 24 milhões. O ex-secretário da Casa Civil teria pedido mais 300 respiradores, mas recuou da proposta após o secretário de Saúde do estado, Fábio Vilas-Boas, dizer que ventiladores produzidos no Brasil não tinham capacidade para atender pacientes diagnosticados com o novo coronavírus (covid-19).

“Amiga, errei. O BR2 não foi aprovado”, teria dito Dauster, segundo o depoimento. Com a negativa, Cleber Isaac, indicado pelo ex-secretário para ajudar no processo, sugeriu a contratação do Senai/Cimatec para promover ajustes nos respiradores, o que possibilitaria a aprovação junto à Anvisa e conclusão do acordo com o Consórcio Nordeste. Com a proposta, a empresária afirma que decidiu pagar as duas parcelas restantes à Biogeoenergy, sendo repasses de R$ 1 milhão e R$ 4 milhões.

Cristiana foi uma das três pessoas detidas na última semana na operação Ragnarok, conduzida pela Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA). Além da empresária, foram detidos o empresário Paulo de Tarso, e o sócio da Hempcare, Luiz Henrique Ramos. O trio foi liberado após prestar depoimentos.

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