Política


Com relação desgastada, governo Bolsonaro demite um militar de alta patente por mês


Publicado 09 de novembro de 2020 às 11:00     Por Fernanda Sales     Foto Marcos Corrêa/PR | Alan Santos/PR

O desgaste da relação entre Jair Bolsonaro e os militares vem ficado cada vez mais evidente com a frequente demissão de oficiais de alta patente que integram o atual governo. A média de demissão por mês é de um militar de alta patente colocado em algum posto estratégico da administração federal. Segundo informações do jornal Folha de São Paulo, Bolsonaro já exonerou 16 generais, 4 brigadeiros e um almirante desde o quarto mês de sua gestão. O último militar a ser exonerado, no dia 6 de outubro, foi o general Otávio do Rêgo Barros, que ocupava o cargo de porta-voz da Presidência.

De acordo com o jornal, a maioria desses militares está na reserva, participou da gestão em razão da proximidade ao ideário bolsonarista e acabou demitida.

Em junho de 2019, quando ainda cumpria o ritual de porta-voz da Presidência, Rêgo Barros foi excluído de uma promoção pelo Alto Comando do Exército. Ele deixou de ganhar a quarta estrela em razão do cargo exercido no Palácio do Planalto.

Entretanto, após a sua saída do cargo, em artigo publicado no jornal Correio Braziliense, o ex-porta-voz fez críticas indiretas ao presidente e à gestão. Rêgo Barros agora se soma a outros militares que se tornaram vozes críticas a Bolsonaro depois de passarem por cargos civis. O mais falante deles é o general Santos Cruz, demitido há mais de um ano do cargo de ministro da Secretaria de Governo da Presidência.

A publicação detalhou ainda os dados feito pelo Tribunal de Contas da União (TCU) informando que 54 cargos do alto escalão do governo são ou foram ocupados em algum momento por generais, coronéis, capitães, brigadeiros e almirantes.

Ministro da Saúde
Outro episódio de desgaste da relação com o presidente é o incômodo com a percepção de politização das Forças Armadas. O caso envolve o ministro Eduardo Pazuello (Saúde), um general três estrelas que permanece na ativa mesmo ocupando o cargo no governo há mais de cinco meses, com o aval do comandante do Exército, Edson Pujol.

Segundo o jornal, generais que integram o Alto Comando do Exército consideram inaceitável uma eventual volta de Pazuello à força e ao comando de tropas. Isso foi discutido entre eles depois de o ministro ser desautorizado pelo presidente quanto à compra da vacina Coronavac, um imunizante para o novo coronavírus desenvolvido por um laboratório chinês e pelo Instituto Butantan, do governo de São Paulo.

À frente do Ministério da Saúde, Pazuello tem atendido insistentemente a pedidos de Bolsonaro na pandemia. A desautorização sobre a vacina levantou dúvidas sobre a permanência do general no cargo, mas ele prossegue. Em encontro com o presidente, o ministro minimizou o ocorrido. Segundo ele, na relação com o chefe do Executivo, “um manda e o outro obedece”.

Para integrantes da cúpula do Exército, é impossível um retorno de Pazuello à força, diante de um cargo tão político exercido por ele. A posição contrasta com o que o general costumava repetir, que atenderia a uma convocação do presidente e, cumprida a missão, voltaria às funções militares.

Na semana passada, quando o então candidato democrata Joe Biden consolidava seu favoritismo na disputa pela presidência nos EUA, o núcleo militar do governo se irritou com a postura do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). Eduardo fez postagens pró-Donald Trump nas redes, inclusive corroborando o falso discurso de fraude nas eleições. Foi mais um episódio de atrito entre os militares e os personagens mais ideológicos que giram em torno do presidente.

Leia mais:
Governo exonera Rêgo Barros do cargo de porta-voz da presidência
Pazuello nega crise no governo Bolsonaro e afirma: ‘Um manda, o outro obedece’



Os comentários não representam a opinião do portal; a responsabilidade é do autor da mensagem.
Leia os termos de uso