Política


Glenn Greenwald é denunciado pelo MPF; jornalista se manifesta


Publicado 21 de janeiro de 2020 às 15:19     Por Dhenef Andrade     Foto Vinicius Loures/Câmara dos Deputados

O jornalista Glenn Greenwald, um dos fundadores do jornal The Intercept, e outras sete pessoas, foram denunciados nesta terça-feira (21) pelo Ministério Público Federal (MPF) por crimes associados à invasão de celulares de autoridades públicas.

A denúncia ocorre mesmo após o Ministro Gilmar Mendes,do Supremo Tribunal Federal (STF), ter proibido investigações contra o jornalista, sob a tese de violação da liberdade de imprensa. A partir de novas provas apresentadas pela Operação Spoofing, que investiga o caso, sugere participação de Glenn nos crimes relacionados à invasão dos dispositivos.

Segundo a acusação, conversas entre o jornalista e um dos hackers apontam que Glenn orientou o grupo a se desfazer das mensagens e apagar provas que pudessem associá-lo às invasões. De acordo com o procurador Wellington Divino Marques de Oliveira, da Procuradoria da República no Distrito Federal ficou confirmado que Greenwald auxiliou, incentivou e orientou o grupo durante as invasões.

“Diferentemente da tese apresentada pelo jornalista, Glenn Greenwald recebeu o material de origem ilícita enquanto a organização criminosa ainda praticava condutas semelhantes, buscando novos alvos, possuindo relação próxima e tentando subverter a noção de proteção ao ‘sigilo da fonte’ para, inclusive orientar que o grupo deveria se desfazer das mensagens que estavam armazenadas para evitar ligação dos autores com os conteúdos ‘hackeados’, demonstrando uma participação direta nas condutas criminosas”, afirma a denúncia.

Após a repercussão da noticia, a defesa de Glenn se manifestou sobre o caso e afirmou através de nota que “recebeu com perplexidade a denúncia” e que a mesma desrespeita a decisão do ministro Gilmar Mendes. Os advogados disseram ainda que o objetivo da denúncia é depreciar o trabalho jornalístico realizado pelo “The Intercept”.

Já o “Intercept Brasil”, afirmou em nota que a ação do MPF é uma tentativa de criminalizar todo o jornalismo brasileiro. “Não existe democracia sem jornalismo crítico e livre. A sociedade brasileira não pode aceitar abusos de poder como esse”, afirmou o comunicado.

Nota da defesa de Glenn

Recebemos com perplexidade a informação de que há uma denúncia contra o jornalista Glenn Grenwald, cofundador do The Intercept. Trata-se de um expediente tosco que visa desrespeitar a autoridade da medida cautelar concedida na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº 601, do Supremo Tribunal Federal, para além de ferir a liberdade de imprensa e servir como instrumento de disputa política. Seu objetivo é depreciar o trabalho jornalístico de divulgação de mensagens realizado pela equipe do The Intercept Brasil em parceria com outros veículos da mídia nacional e estrangeira. Os advogados de Glenn Grenwald preparam a medida judicial cabível e pedirão que a Associação Brasileira de Imprensa, por sua importância e representatividade, cerre fileiras em defesa do jornalista agredido.
Rafael Borges e Rafael Fagundes

Nota do Intercept Brasil

1. Os diálogos utilizados pelo MPF na denúncia são rigorosamente os mesmos que já haviam sido analisados pela Polícia Federal durante a operação Spoofing, e acerca dos quais a PF não imputou qualquer conduta criminosa a Glenn.
2. A PF concluiu: “Não é possível identificar a participação moral e material do jornalista Glenn Greenwald nos crimes investigados”.
3. A PF destaca, inclusive, a “postura cuidadosa e distante em relação à execução das invasões” por parte do jornalista co-fundador do Intercept.
4. Glenn Greenwald não foi sequer investigado pela PF, pois não existiam contra ele os mínimos indícios de cometimento de crimes.
5. Causa perplexidade que o Ministério Público Federal se preste a um papel claramente político, na contramão do inquérito da própria Polícia Federal.
6. Nós do Intercept vemos nessa ação uma tentativa de criminalizar não somente o nosso trabalho, mas de todo o jornalismo brasileiro. Não existe democracia sem jornalismo crítico e livre. A sociedade brasileira não pode aceitar abusos de poder como esse.



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