Política


PF faz relatório cronológico com casos de interesse de interferência de Bolsonaro nas investigações


Publicado 03 de setembro de 2020 às 15:44     Por Fernanda Souto     Foto Reprodução/ Agência Brasil

A Polícia Federal (PF) criou um cronograma sobre os possíveis interesses e tentativas do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de interferir na corporação. A ação iniciada em abril irá apurar se Bolsonaro realmente cometeu algum crime ao trocar a direção-geral do órgão, após o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro acusá-lo de querer interferir indevidamente na PF para frear investigações contra aliados. As informações foram divulgadas pelo jornal O Globo, nesta quinta-feira (3).

O relatório enumera como casos relevantes cronologicamente: a investigação contra o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) no Ministério Público do Rio sobre o esquema de “rachadinha” em seu gabinete; o inquérito eleitoral sobre suposta lavagem de dinheiro de Flávio Bolsonaro que tramitou na PF do Rio; a citação indevida ao deputado Hélio Negão (PSL-RJ) em uma investigação da PF do Rio; e a preocupação com a investigação de notícias falsas em tramitação no Supremo Tribunal Federal (STF).

De acordo com a PF, a enumeração dos casos em ordem não lança uma conclusão direta nem uma relação entre os fatos e as trocas do superintende da PF do Rio e da direção-geral do órgão.

“Trata de construção narrativa e cronológica de fatos conhecidos de fontes abertas e fontes sigilosas (de acesso à Investigação) acerca do Presidente Jair Messias Bolsonaro e movimentações políticas-administrativas em seu governo. O objetivo é fornecer elementos necessários e suficientes para uma Autoridade Policial embasar, caso assim entenda, decisões em investigação existente na Polícia Federal sobre a temática. A sequência de fatos colacionados neste Relatório foi obtido de acordo com a transformação de cada evento para a construção de linha do tempo, de forma a expandir a didática dos acontecimentos narrados e demonstração, ou ao menos intencionar demonstrar, uma cadeia de motivações para cada evento “, diz o relatório.

O relatório ainda ressalta várias declarações de Bolsonaro sobre sua intenção de interferir na PF, e destacou quando ele anunciou que trocaria o superintendente da PF do Rio, na saída do Palácio da Alvorada, em 15 de agosto e que repercutiu no dia seguinte.

“Em coletiva na manhã do dia 16 de agosto, os jornalistas indagaram o Presidente acerca do Delegado Carlos Henrique para o cargo do Superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro, eis que o Presidente responde: ‘Carlos Henrique Sousa, não, pelo que fiquei sabendo é um que tá em Manaus ‘. Quando se anota a nota à imprensa da Polícia Federal já indicava o substituto, o presidente continua: “O que fiquei sabendo … se ele (Moro) resolver mudar, tem que falar comigo, quem manda sou eu, deixar bem claro … Dou liberdade para os ministros todos, mas quem manda sou eu. Pelo o que está pré-acertado, seria o lá de Manaus ”.

Uma das próximas ações da investigação será tomar o depoimento do presidente. A PF aguarda definição do ministro Celso de Mello sobre se esse depoimento ocorrerá de forma presencial ou por escrito, para dar prosseguimento ao caso.



Os comentários não representam a opinião do portal; a responsabilidade é do autor da mensagem.
Leia os termos de uso