Saúde


Doação de órgãos: cultura da desinformação é principal obstáculo em Sergipe


Publicado 27 de setembro de 2021 às 10:20     Por Larissa Barros     Foto Venilton Kuchler/Agência de Notícias do Paraná

A doação de órgãos é um gesto de amor que pode dar uma segunda chance e mudar o destino de alguém desconhecido. Nesta segunda-feira (27), é celebrado o Dia Nacional da Doação de Órgãos e Tecidos, uma forma de incentivar as pessoas a ajudar pacientes que aguardam na lista de espera para receber um transplante.

Em Sergipe, cerca de 990 pessoas precisam de doação de órgãos, de acordo com a Central Estadual de Transplantes do estado. No entanto, a pandemia do novo coronavírus, somada à cultura da desinformação, prejudicaram as oportunidades de realizar o procedimento.

Em entrevista ao AjuNews, o coordenador da Central Estadual de Transplantes, Benito Fernandez, afirmou que durante a pandemia, o fato dos familiares não terem a chance de visitar seus entes queridos no hospital influenciou na decisão de autorizar a doação.

“Isso gerou um mal-estar muito grande, uma revolta neles. Além disso, aumentou o número de óbitos por covid, que tem contraindicação absoluta, então não pode doar nada. E as poucas oportunidades que nós tínhamos, as famílias infelizmente não autorizavam”, afirmou.

Segundo Fernandez, em Sergipe, o maior obstáculo enfrentado por pacientes sergipanos é a cultura da desinformação. Pois, muitas pessoas ainda não sabem quais são os tipos de doadores, ou como é realizado o procedimento que define quem pode ser um potencial doador.

“Nós temos dois tipos de doadores falecidos. O doador falecido com o coração parado, que não doa órgão, mas pode doar córnea. Então, não faz sentido a gente ter 340 pessoas em lista com tempo de espera de dois anos e meio. Já que óbitos por parada acontecem toda hora. Toda hora corpos dão entrada no IML. E aquele cadáver que tem o diagnóstico de morte encefálica, que ainda está no ambiente hospitalar. Ele ainda precisa do respirador para manter o coração batendo, até a autorização da família para doação. Então, é esse cadáver que as pessoas ainda não conhecem, que as pessoas ainda não ouviram falar”, explicou.

A esperança de ver um familiar acordar após o diagnóstico de morte encefálica, ou o medo de ser uma avaliação incorreta dos médicos, impedem que a família autorize o procedimento. Porém, o coordenador da Central de Transplantes afirma que a análise é extremamente segura.

“A gente vive sem perna, sem braço, sem rim fazendo hemodiálise, mas não vive sem a cabeça. É isso que a gente precisa mostrar às pessoas. O diagnóstico de morte encefálica é extremamente seguro, feito por dois profissionais que precisam ser treinados para fazer, e ainda tem o exame complementar. Então não resta a menor dúvida que aquele paciente tem morte encefálica”, ressaltou.

Em Sergipe, os principais doadores são adultos jovens, de 30 a 50 anos, sendo rim e fígado os órgãos mais esperados. Além disso, cerca de 1300 pessoas fazem alguma modalidade de diálise, destes, 650 pacientes esperam por um transplante renal.

Ainda segundo o coordenador, apesar de não haver nenhuma religião que proíbe a doação de órgãos no Brasil, muitas pessoas usam esse argumento para não autorizar o procedimento.

“Quando a gente fala de Deus, fala de amor, de solidariedade, a gente fala de caridade, de fraternidade. Mas as pessoas buscam esse meio para dizer que não vai doar. Então, é importante que os líderes religiosos atuem também, falem sobre doação de órgãos nas suas igrejas, para que as pessoas tomem consciência da importância do seu papel”, afirmou Benito Fernandez.

Atualmente, mesmo que um paciente expresse o desejo de ser doador, a lei determina que cônjuges, ou parentes até segundo grau sejam os responsáveis pela autorização. Dessa forma, cabe a família, respeitar o último pedido do ente querido.



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