Saúde


Especialista aponta possíveis consequências do hiper convívio para o casal durante pandemia


Publicado 12 de junho de 2020 às 00:00     Por Dhenef Andrade     Foto Dhenef Andrade / AjuNews

A manutenção das relações afetivas sempre é alvo de discussões. A boa saúde dos relacionamentos depende de uma série de fatores e somos rotineiramente desafiados a sustentá-los da melhor maneira. Mas ninguém esperava que, somado a isso, tivéssemos que lidar com o agravante de uma pandemia que mudou drasticamente nossos hábitos de convívio. 

Desde a implantação das medidas de isolamento social, em meados de março, deixou ainda mais em evidência a forma como lidamos com as pessoas próximas a nós. Em entrevista ao AjuNews, a psicóloga especialista em Psicodrama Social e Educacional, Glaúcia Cruz, abordou os efeitos do período de quarentena na relações.

Sobre estar na companhia um do outro sob o mesmo teto por mais tempo, uma vez que a saída com os amigos ou o trabalho longe de casa foram suspensos temporariamente, Gláucia afirma que possíveis problemas na relação podem surgir nesse momento de mudanças, mas nem sempre ligados a pandemia. 

“O hiper convívio pode revelar ou agravar problemáticas anteriormente existentes na relação ou ainda contribuir para o surgimento de novos conflitos. No entanto, os conflitos existentes na relação conjugal podem não ser oriundos do casal, mas de ordem social, histórica, familiar, ou mesmo de ordem psíquica, individual”.

Para a especialista,  casais que já dispunham de uma relação saudável antes do período de isolamento podem aproveitar o momento positivamente, seja para aproveitar mais o relacionamento, seja para a enfrentar os conflitos reais e comuns que já existiam ou que possam surgir.

Glaúcia Cruz

“Em todos os casos, vale lançar mão de estratégias que respeitem a identidade do casal. Coisas que gostavam de fazer juntos, adaptadas ao espaço de casa, ou mesmo criar novas possibilidades, espontâneas e criativas para se redescobrir enquanto casal. Essa disponibilidade para o outro, ainda que alguns dias seja apenas para o acolhimento das dificuldades ou da indisposição alheia, pode ampliar o canal de comunicação, indispensável para todas as formas de se relacionar”, afirma. 

Para quem está à distância do parceiro, Glaúcia diz que afastamento temporário é um desafio, mas que pode agregar o relacionamento. “Os casais poderão, temporariamente, lançar mão de estratégias para manter a saúde da relação ainda que com distância física. A saudade e a vontade de estar junto podem ser um excelente tempero para a criatividade, contando a favor da relação”.

Para os solteiros, a tecnologia, redes sociais e aplicativos de relacionamentos talvez nunca foram tão utilizados como agora. O Tinder, uma das plataformas mais conhecidas, divulgou aumento no número de inscrições e de interações durante a quarentena. Sobre o uso dessas ferramentas, Glaúcia diz que o uso saudável delas consiste em encontrar pares que possuem a mesma intenção.

“É importante colocar que as pessoas possuem formas de se relacionar e se satisfazer de maneiras distintas. Encontrar pares que possuam uma mesma intenção pode ser natural e saudável. As observações estão na busca de compensações não conscientes que podem levar pessoas a escolhas que talvez não façam parte do seu EU saudável, desta forma, não irão solucionar as suas questões com essas ações e tão pouco terão seus desejos reais alcançados”, disse a psicóloga.

Sobre a possibilidade da convivência ou a distância ‘em excesso’ colocarem em xeque uma relação, aponta Glaúcia, está no equilíbrio. “Precisamos estar com o outro tanto quanto manter a nossa individualidade. Se não conseguirmos nos colocar no lugar do outro sem nos perder de nós mesmos e nem maduros o suficiente para reconhecer as dificuldades de cada um e as do relacionamento, fantasias internas podem surgir e se instalar no vínculo, dificultando ou mesmo impedindo a comunicação. Isso poderá enfraquecer a porção saudável do casal. 

Os questionamentos são muitos, as certezas poucas e os efeitos da crise gerada pelo covid-19 na sociedade ainda são calculados. “Opto pela visão otimista de que será possível resgatar aquilo que funcionava antes e somar com o que fora aprendido neste momento”, diz ela. Nas afetividades, sejam elas de um jeito romântico ou não, o momento aponta para mudanças e estando prontos ou não elas irão ocorrer.



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