Saúde


SUS fez 79 vezes mais abortos malsucedidos que previstos pela lei neste ano


Publicado 20 de agosto de 2020 às 10:00     Por Eduardo Costa     Foto Ana Nascimento/MDS/Portal Brasil

O número de mulheres atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) por conta de abortos malsucedidos foi 79 vezes maior que os abortos previstos pela lei no primeiro semestre de 2020. De acordo com o levantamento do portal G1, feito com dados do DataSUS, foram 80.948 curetagens e aspirações (que limpam o útero após um aborto incompleto), contra 1.024 abortos legais no Brasil.

De acordo com a lei 12.845/2013, a mulher pode interromper a gravidez e deve receber atendimento obrigatório em casos de estupro, sem ter que apresentar boletim de ocorrência. Apesar disso, de acordo com o G1, muitos hospitais exigem documentos que provem a necessidade do aborto.

Foi o que aconteceu com a garota de 10 anos que engravidou após ser estuprada pelo tio no Espírito Santo. Segundo o portal, a equipe médica do estado se recusou a fazer o aborto, e ela viajou para Recife (PE), onde o processo foi realizado.

O levantamento do G1 indica que o maior número de curetagens e aspirações no primeiro semestre deste ano foi feito na região Sudeste, com 28.196. Ao total, no Brasil, foram 74.362 curetagens e 6.586 procedimentos de aspiração manual intrauterina (AMIU).

Os processos também geraram mais gastos. O levantamento mostrou que em 2020, apenas nos procedimentos, o SUS gastou 30 vezes mais com processos pós-abortos incompletos (R$ 14,29 milhões) do que com abortos legais (R$ 454 mil).

Muito disso acaba acontecendo também por conta de abortos clandestinos. O G1 lembra na reportagem que, por situações como recusa a atendimento ou falta de condições financeiras, muitas mulheres acabam apelando para procedimentos clandestinos e não seguros pela realização do aborto.

O SUS não possui esses dados. Mas um estudo brasileiro de 2012 publicado no periódico “International Journal of Gynecology & Obstetrics” mostrou que ocorrem infecções em 42,9% dos abortos inseguros, contra apenas 3,3% dos abortos seguros.

A reportagem ainda traz os dados da Pesquisa Nacional de Aborto, de 2016, que mostra que 48% das mulheres brasileiras entrevistadas que fizeram aborto clandestino precisaram ser internadas para finalização do processo.

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