Esporte


Sergipana Camila Feitosa foi eleita a mulher mais forte do Brasil


Publicado 11 de março de 2022 às 18:25     Por Quesia Cerqueira     Foto Arquivo pessoal

Natural de Aracaju, Camila Feitosa, de 35 anos e 73 centímetros de altura, em 2019 foi eleita a mulher mais forte do Brasil por pesar 21,8 kg e ter levantado 53 kg no supino, 2,4 vezes o peso do próprio corpo. Camila nasceu com nanismo, uma doença ocular degenerativa chamada retinose pigmentar. Os nomes impressionam, e o que poderia assustar e paralisar os sonhos ao longo da sua vida não intimidaram a paratleta.

Em uma entrevista concedida para a Universa UOL, Camila conta que a sua história com o esporte tem um passado recente, mas bem intenso. Seu primeiro contato com o esporte foi em março de 2018, quando seu amigo José Renato Machado Freitas pediu para que ela o acompanhasse e incentivasse a praticar exercícios físicos porque naquele ano ele estava com problemas de saúde. José havia começado a praticar a atividade após a indicação de uma amiga em comum.

O primeiro contato de Camila com o esporte foi em 2018. E em 2019, já havia se tornado vice-campeã brasileira de halterofilismo. “Comecei junto para dar aquela força, mas fui me encantando pelos pesos. Não tinha um exemplo na minha casa, ninguém na família pratica esportes, e aquele universo me fascinou. Quando contei para minha mãe que estava curtindo fazer esporte, ela me deu força. Minha mãe, Maria Jeane, é minha grande inspiração, uma mulher de fibra, batalhadora, determinada que sempre nos ensina a buscar fazer o nosso melhor em tudo o que nos propomos a fazer”, contou em depoimento.

Desde muito cedo, sua mãe havia lhe falado sobre as dificuldades que teria que enfrentar e a preparou para isso. “Como ela precisava trabalhar para sustentar eu e meus cinco irmãos, éramos nós que cuidávamos uns dos outros. Daí, ela deixava todas as orientações e nós fazíamos. Na época, não tínhamos condições financeiras de fazer adaptações em nossa casa. Improvisamos com cadeiras pequenas para que eu tivesse como alcançar a cama etc.”

Segundo Camila, quando o esporte entrou em sua vida foi ótimo porque ela amo tudo o que veio junto, mas também passou a enfrentar mais perigos para a sua condição. Passou a andar de ônibus sozinha, caminhar nas ruas e a fazer muitas outras coisas que até então só fazia acompanhada de algum familiar ou amigo.

A primeira pessoa a estimular sua independência foi o seu treinador e professor, doutor José Felipe Aidar, sua mãe, familiares e os colegas de equipe que a incentivaram, e até se revezaram para ajudar a atleta a se locomover em ônibus, pois no início não sentia segurança de ir sozinha de casa até o local de treinamento.

Mas isso não a parou. “No nosso esporte, todos precisam de algum tipo de adaptação. No caso, utilizo uma faixa de punho e na hora de subir no banco de supino tenho que subir em meu branquinho ou preciso da ajuda de alguém para colocar e me tirar do banco. Não me intimidei. Realizei o sonho de ser atleta e me tornei a mulher mais forte do Brasil na minha categoria. Agora, sigo em busca de novos títulos nas competições que estão se aproximando”, afirmou a paratleta.

Camila agora deseja conquistar o título de Mulher mais forte do mundo. “Decidir ser paratleta não foi tão difícil, o mais difícil foi permanecer paratleta, porque no início eu ia para os treinos de carro com meu amigo Renato (aquele havia que me pedido para acompanhá-lo), mais cerca de três meses depois que eu entrei para equipe, ele não pôde mais ir aos treinos e eu tive que decidir desistir ou enfrentar todas as barreiras do preconceito e falta de acessibilidade.”

“Em nenhum momento senti preconceito com relação a não acreditarem na minha capacidade. Tive sim que enfrentar a mim mesma, pois no primeiro semestre, eu que duvidei de mim mesma. Mas venci essa dívida em pouco tempo.”

Sua primeira competição foi em abril de 2018. De lá para cá ela já conquistou sete medalhas, e em novembro de 2019 os títulos de vice-campeã brasileira e de mulher mais forte do Brasil, por pesar 21,8 kg e ter levantado 53 kg no supino.

“As dificuldades para competir são muitas. Para conseguir treinar tenho que pegar três ônibus para ir e mais três para voltar. Falta uma alimentação adequada, falta de dinheiro para comprar as passagens para ir para as competições, por exemplo”, desabafou.

Através dos títulos conquistados, passou a receber o auxílio bolsa atleta, porém o valor é menor que o salário-mínimo e, pelo fato de morar de aluguel, ainda não dá para suprir todas as suas necessidades. Sem patrocínio, Camila está arrecadando fundos com uma vaquinha solidária para pagar as passagens de ida e volta das próximas competições, e também para participar do Campeonato Circuito Loterias Caixa de Halterofilismo.

Fonte: Universa UOL



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