Economia


Renda Brasil segue indefinido e governo prevê começar 2021 sem programa


Publicado 12 de novembro de 2020 às 13:44     Por Fernanda Sales     Foto Marcello Casal Jr. / Agência Brasil

A menos de dois meses para o fim do ano, o programa social Renda Brasil, do Governo Federal, segue indefinido sobre como irá atender a população vulnerável após o fim do auxílio emergencial. Com isso, governo e aliados preveem iniciar 2021 sem o substituto do Bolsa Família. Na terça-feira (10), o ministro Paulo Guedes (Economia) sinalizou que o programa pode nem ser lançado no próximo ano, ao dizer que um avanço sobre o tema ocorrerá mais cedo ou mais tarde “ainda neste governo”. As informações foram divulgadas pela Folha de São Paulo.

Em declaração durante encontro virtual, promovido pela agência de notícias Bloomberg, Guedes reconheceu a possibilidade de usar outro mecanismo para atender a população em 2021 em caso de necessidade, o auxílio emergencial. Mas o instrumento só voltaria a ser pago com uma nova onda do coronavírus. Em outubro, o ministro já havia dito que seria melhor manter o programa da era Lula se não fosse encontrado espaço fiscal. “É melhor voltar para o Bolsa Família do que promover um programa irresponsável”, afirmou.

Representantes do Ministério da Cidadania, responsável pelo programa, já trabalham com a ideia de haver apenas uma expansão limitada do Bolsa Família no ano que vem com um orçamento não tão grande como seria no caso do Renda Brasil. Mas, segundo a publicação, mesmo com uma expansão mais modesta, ainda haveria dificuldades. Considerando um acréscimo de 3 milhões de famílias ao programa criado na era Lula (número mencionado por envolvidos nas discussões recentemente), seriam necessários R$ 49,5 bilhões ao ano. O montante representa R$ 17,5 bilhões a mais que o orçamento atual do Bolsa Família, que atende hoje cerca de 14 milhões e deve atender 15,2 milhões com o orçamento já previsto para 2021.

A opção por uma expansão limitada no Bolsa Família vai na direção contrária da ideia original do Renda Brasil, um programa que não só substituiria o nome associado à gestão petista mas também englobaria diferentes iniciativas, desde a infância até o início da vida adulta do indivíduo.

Para estruturá-lo, técnicos do governo planejavam usar recursos da revisão de outros programas sociais, como o abono salarial, mas isso foi vetado pelo presidente Jair Bolsonaro. Na ocasião, Bolsonaro se mostrou irritado com as propostas veiculadas na imprensa e disse que não se falaria mais em Renda Brasil. “Até 2022, no meu governo, está proibido falar a palavra Renda Brasil. Vamos continuar com o Bolsa Família. E ponto final”, afirmou há aproximadamente dois meses.

Mesmo assim, membros do governo continuaram a tratar do programa com aval de Bolsonaro. Mas, desta vez, usando o nome Renda Cidadã, o que gerou uma confusão nas nomenclaturas. Isso porque Renda Cidadã era, na proposta original, apenas um dos quatro eixos do Renda Brasil e representava justamente a ação próxima ao atual Bolsa Família (com pagamentos condicionados a matrícula escolar e vacinas em dia).

Como a proposta de Orçamento do ano que vem já está no limite da norma constitucional que impede o crescimento real das despesas, a criação do programa segue como um desafio que governo e aliados ainda não resolveram. O Ministério da Economia chegou a formar uma equipe com economistas para elaborar propostas que viabilizassem a reformulação do Bolsa Família, mas a equipe foi desfeita há cerca de um mês.

O futuro do plano do Renda Brasil depende ainda do avanço de projetos legislativos no Congresso, principalmente os que abrem espaço no Orçamento. Essas medidas, porém, sofrem resistência e têm uma tramitação lenta na Câmara e no Senado.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse neste mês que o entrave do Renda Brasil está na falta de definição do Executivo. “O problema está na decisão. Por enquanto, nenhum de nós tem certeza do que o governo vai fazer”, afirmou.

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