Entrevista


Paulo Márcio afirma que escolha de Katarina Feitoza para vice de Edvaldo foi ‘recompensa por desmonte do Deotap’


Publicado 25 de outubro de 2020 às 07:05     Por Fernanda Souto*     Foto Divulgação

O candidato a prefeito de Aracaju, Paulo Márcio (DC), afirmou, em entrevista ao AjuNews, que a decisão do atual prefeito e candidato a reeleição, Edvaldo Nogueira (PDT), em colocar a delegada Katarina Feitoza (PSD) como vice na chapa, foi uma forma de “recompensa” ao suposto desmonte do Departamento de Crimes contra a Ordem Tributária e Administração Pública (Deotap).

“Essa escolha de Katarina Feitoza, tendo como base as afirmações da delegada Danielle Garcia, não representam só uma estratégia política, mas também uma espécie de recompensa, porque, de alguma forma, o grupo político comandado por Jackson Barreto teria se beneficiado desse desmonte”, disse.

À reportagem, o delegado alegou ainda que, caso as acusações da também candidata e delegada Danielle Garcia (Cidadania) forem verdadeiras, “podem resultar no afastamento de Edvaldo Nogueira, e implicar no processamento ou a deflagração de investigações ou até na abertura de processos judiciais”.

Leia a entrevista completa abaixo:

AjuNews: Antes da candidatura, o senhor já presidiu a Associação dos Delegados de Polícia do Estado de Sergipe por duas vezes. Por que decidiu concorrer à prefeitura de Aracaju neste ano?
Paulo Márcio: Embora essa seja minha primeira eleição a cargo eletivo, eu já tenho participação na vida pública. Já fui superintendente geral e corregedor-geral da Polícia Civil. Tenho especialização em gestões estratégicas em segurança pública pela Universidade Federal de Sergipe, além, claro, de ter sido presidente da Depol duas vezes. Também já fui delegado de várias delegacias da capital, mas tratando-se de um momento de renovação política, sobretudo em razão do grupo atual que tenta a reeleição, está ao meu ver, já com um projeto que não corresponde mais aos anseios da população, já está exaurido. Nesse contexto de renovação, eu acreditando reunir as condições, os atributos para administrar a cidade de Aracaju, resolvi colocar o meu nome à disposição. Para tanto, formando um grupo e elaborando um plano de governo em que atenda mesmo as necessidades da população, que é uma administração inovadora, moderna e transparente. Enfim, essas são as razões que resolvi me candidatar.

AjuNews: Qual a sua análise sobre a gestão do atual prefeito Edvaldo Nogueira?
Paulo Márcio: A gestão do atual prefeito Edvaldo Nogueira, eu costumo dizer que ela não chega a ser medíocre, mas é uma administração mediana, está muito abaixo das expectativas, dos anseios da população. Já é quarta vez que Edvaldo ocupa o cargo, tanto como prefeito quanto vice-prefeito. É a quarta gestão de Edvaldo desde o ano 2000. Então, Aracaju ainda enfrenta problemas graves de infraestrutura, na área de macrodrenagem, na área de saneamento público, na área de mobilidade urbana, e o atual prefeito não conseguiu sanar esses problemas ao longo das suas quatro gestões, e não será agora nesta quinta gestão que ele terá, digamos assim, oportunidade, o compromisso de fazer de uma vez por todas tudo o que ele não fez em 16 anos. A gente há de convir também que o prefeito Edvaldo Nogueira tem limitações, já que a administração dele é muito influenciada pelos grandes grupos econômicos, pelas empreiteiras, pela empresa de coleta de lixo, pelas empresas favorecidas no transporte público, que nunca passaram por uma licitação. E nós entendemos que Edvaldo não tem isenção e nem autonomia suficiente para fazer uma administração voltada aos interesses da coletividade.

AjuNews: Dos 11 candidatos ao pleito eleitoral em Aracaju, além de Paulo Márcio, outros três são delegados de polícia. Como o senhor avalia essa disputa entre colegas da mesma profissão na preferência pelo eleitor?
Paulo Márcio: De uma forma normal, eles poderiam ser advogados, como poderiam ser médicos, enfim. O fato de haver, não só em Aracaju, mas em várias cidades, de pequeno e médio porte, representantes da Segurança Pública refletem apenas o contexto atual em que essas questões adquiriram um maior peso e, é claro, por conta das operações da Polícia Federal, como a Lava-Jato, que está aí desde 2014. Isso tudo gera um protagonismo, coloca em evidência a importância da Polícia Civil, e acaba despertando naqueles profissionais, que tem uma maior aptidão pela vida pública a vontade de concorrer, mas tudo isso é cíclico. Acredito que só permanecerão aqueles realmente vocacionados, depois, nos próximos anos, a presença de delegados será menor.

AjuNews: Em recente entrevista, o senhor chegou a afirmar que se Edvaldo fosse eleito, ele não iria concluir o mandato, afirmando que ele “flerta com o abismo” e que a prefeitura poderia ser tomada no tapetão. Ainda mantém essa avaliação?
Paulo Márcio: Mantenho. Porque Edvaldo fez uma escolha baseada em sugestões do ex-governador Jackson Barreto e do próprio governador Belivaldo Chagas, de escolher uma candidata que era delegada geral da Polícia Civil no momento em que, segundo a candidata do partido do cidadania [Danielle Garcia], houve um desmonte do Deotap. Então, ao meu ver, essa escolha de Katarina Feitoza, tendo como base as afirmações da delegada Danielle Garcia, não representam só uma estratégia política, mas também uma espécie de recompensa, porque, de alguma forma, o grupo político comandado por [ex-governador] Jackson Barreto teria se beneficiado desse desmonte. Agora, eu entendo que, como Katarina fazia parte do grupo, se esse grupo resolver mudar a forma de atuar do Deotap e forem aí fazer investigação em relação a atual gestão de Edvaldo Nogueira, não a que pode eventualmente começar se ele for reeleito, podem começar a encontrar coisas que não encontraram no primeiro momento. Obviamente, para não serem acusados de prevaricação, deverão tomar algumas medidas com relação à administração, que podem resultar no afastamento de Edvaldo Nogueira, e implicar no processamento ou a deflagração de investigações ou até na abertura de processos judiciais, e ocasionalmente poderão levar até o afastamento. Só estou falando no campo das hipóteses, mas eu quero dizer que, se Danielle tem razão quando diz que o Deotap foi desmontado por determinação de Jackson Barreto e de Katarina Feitoza, é claro que quem teve o poder para desmontar, e quem teve o poder para colher a atuação do Deotap, pode determinar que ele retorne a sua investigações, e teríamos surpresas.

AjuNews: Durante a pré-eleição, o candidato reclamou várias vezes por seu nome nem sequer ser citado em algumas pesquisas de intenção de voto. Qual sua avaliação sobre esta exclusão?
Paulo Márcio: No princípio, a gente percebe que algumas pessoas responsáveis pela contratação das empresas de opinião não tinham interesse de que nós aparecêssemos, os interesses são exclusos, são obviamente anti-republicanos. O que eles queriam com isso, se era esconder a minha candidatura, ou de forma fraudulenta transferir as minhas intenções de voto para outros candidatos, eu não posso afirmar. Mas, que havia uma clara tentativa de ocultar minha candidatura isso aí era evidente, porque eu já pontuava em alguns institutos, enquanto outros, quando iam a campo não colocavam meu nome nas planilhas, então estou como certo de que houve uma sabotagem.

AjuNews: Ainda sobre a intenção de voto, seu nome aparece timidamente em algumas pesquisas. Como a equipe vai trabalhar para reverter essa situação para uma possível chegada no segundo turno?
Paulo Márcio: Nosso foco hoje é o trabalho nas redes sociais, e agora, já com o início da campanha eleitoral, nós vamos às ruas e iremos fazer nossa comunicação visual, assim como já estamos conversando com as pessoas da comunidade, nos apresentando, falando do nosso plano de governo, e pedindo apoio. Agora, nós vamos pedir o voto, já estamos no período eleitoral e vamos continuar conversando e nos reunindo e pedindo apoio, só que dessa vez nós já teremos de forma legal como pedir o voto e entregar nosso material nos bairros mais populares. Tudo isso reflete em um crescimento que irá sim nos levar ao segundo turno, contra toda essa estrutura das candidaturas que estão aí. Meu nome tem muita aceitação.

AjuNews: Caso seja eleito como prefeito de Aracaju em novembro, quais serão as prioridades em sua gestão?
Paulo Márcio: A licitação do transporte público, a implantação de um sistema de transporte com alta capacidade, certamente com veículos sobre trilhos, mas isso vai depender de um estudo de viabilidade técnica e financeira que deve ser recomendado. Outra questão é na educação, além das reformas do ensino em tempo integral, nós seremos a primeira capital do país em que todos alunos da rede municipal terão fornecidos pelo município internet banda larga em suas residências, um kit básico de informática, para acompanhar as aulas por internet, não só em períodos excepcionais como o da pandemia, mas durante o ano letivo normal, com atividade curricular e extracurricular. Na área da saúde nós pretendemos trabalhar com ênfase na atenção básica, programa de saúde da família, concurso para contratação de especialidades médicas, atenção aos portadores de distúrbios mentais. Daremos uma maior atenção à saúde mental das pessoas, pois nós percebemos com as visitas que há um descuido da prefeitura com a atenção ao tratamento das pessoas com problemas mentais. A outra será desprivatizar o Nestor Piva, afastando a empresa que administra de forma terceirizada, e colocando profissionais do corpo médico da prefeitura, além de transformá-lo em um hospital municipal, com leitos de UTI, com atendimento de casos com média e alta complexidade, um setor de oncologia e um centro de imagem para atender e fornecer os exames, que são a causa de um maior demora. Queremos diminuir filas, as pessoas passam meses, anos para depois da consulta conseguir fazer os exames.

AjuNews: Em suas redes sociais, sempre deixou claro sobre seus princípios conservadores e apoio ao presidente Jair Bolsonaro. Qual sua opinião sobre o atual governo federal?
Paulo Márcio: Eu apoio o governo e votei em Bolsonaro. Eu tenho um alinhamento com o governo, todavia, não disputo com os outros candidatos o título de candidato bolsonarista. Eu dialogo com todos os setores da direita, respeito a todos, mas nem me arvoro e nem quero me colocar como candidato bolsonarista, pois tenho voto de bolsonaristas e não quero criar nenhuma disputa infantil tentando me colocar como representante bolsonarista. Como até o próprio presidente não vai apoiar candidato nenhum no primeiro turno, eu não posso dizer que sou candidato bolsonarista. Trabalho, tenho apoio desse eleitorado, por respeitá-lo, eu não me arvoro na condição de único bolsonarista nesta eleição, sou candidato conservador, da direita, com alinhamento com Bolsonaro, todavia sou independente.

Sob supervisão de Peu Moraes



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