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Aracaju pode sofrer impacto negativo após retirada de mais de 200 árvores na Hermes Fontes


Publicado 05 de fevereiro de 2020 às 16:28     Por Roberta Cesar     Foto Reprodução / Google Street View

A remoção total de árvores antigas para a construção de um corredor de ônibus na Avenida Hermes Fontes, em Aracaju, ainda é motivo de preocupação para população, órgãos ligados a questões ambientais e urbanistas. A previsão de conclusão da obra é junho deste ano.

A prefeitura foi alvo de protestos, principalmente, por não discutir e nem comunicar os planos com antecedência à sociedade. Um abaixo-assinado contra a retirada das árvores da Avenida Hermes Fontes também foi feito.

Em entrevista ao AjuNews, o arquiteto e urbanista, Hugo Lobão Alves, que também é conselheiro do Instituto dos Arquitetos do Brasil Sergipe (IAB-SE) e do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU-SE), explicou que quando o assunto é a supressão de centenas de árvores em meio à malha urbana de Aracaju, deve ser tratado com um grande cuidado, levando em consideração a devida importância que cada árvore tem para o equilíbrio ambiental do entorno.

O especialista alerta que o índice de árvores plantadas x habitantes da capital sergipana é quase 5 vezes menor que o mínimo recomendado pela Sociedade Brasileira de Arborização Urbana. Além disso, ressalta que as obras podem ter consequências alarmantes para cidade.

“Tenho conversado bastante sobre o tema com colegas, cidadãos e até com gestores municipais e a opinião é unânime: deve existir o desenvolvimento urbano da região e da mobilidade, sem, no entanto, diminuir a importância da questão ambiental urbana”, revela.

O urbanista acrescenta também que as consequências da falta de vegetação em um contexto urbano podem ser negativamente determinantes para o dia a dia de quem utiliza estes espaços, como por exemplo, aumento da temperatura local, o desconforto acústico, a proliferação de doenças relacionadas ao sistema respiratório, o aumento do nível de poluição, o desconforto visual e a redução dos impactos das chuvas.

Lobão relata que tentou alertar aos órgãos públicos sobre a retirada total e a dimensão impactante para a cidade. Por meio do CAU, foi solicitada uma reunião com os órgãos municipais responsáveis. Os especialistas foram atendidos pelo presidente da Empresa Municipal de Obras e Urbanização (Emurb), o superintendente da Superintendência Municipal de Transporte e Trânsito (SMTT) e secretário da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Sema).

“Fomos surpreendidos pelo anúncio do projeto poucos dias antes do início das obras, em que comunicaram a retirada de quase 260 unidades de árvores e não explicam como se dará a devida compensação”, reclama.

Lobão também pondera que a discussão sobre o planejamento urbano da cidade de Aracaju é pertinente, tendo em vista que a cada ano a cidade registra um aumento populacional, mas desde que haja a devida compensação ambiental.

“A forma como foi realizado tal processo de intervenção, à margem da participação da população e das organizações sociais, revela-se um contrassenso, já que é a população que irá usufruir e conviver com os benefícios e malefícios trazidos pela intervenção”, observa.

Diferentemente do urbanista, a também especialista professora e doutora em geografia, Lilian de Lins Wanderley, avaliou que o “impacto na paisagem urbana será positivo, por conta da substituição de parte das árvores atuais pelo Ipê, uma escolha que certamente partiu do Conselho Municipal de Arborização”.

Mas, ela destaca que os aracajuanos terão que aguardar pelo crescimento da espécie nativa brasileira, “que é lento, e também esperar uns quatro anos para vê-la florir e valorizar ainda mais o ambiente”. Ainda em conversa com reportagem, a especialista disse que ela desconhece sobre a concepção da obra, seu alcance espacial, etapas, e nem o que vai ser demolido ou construído.

Outro lado
Procurada pela nossa reportagem, a prefeitura de Aracaju justificou que “algumas das árvores hoje plantadas na via, além de já apresentarem indícios de desgaste temporal, são de espécies inadequadas para o paisagismo urbano, com crescimento horizontal que deteriora o canteiro onde estão suas raízes e demais outras estruturas”.

Questionada se houve verificação e se a obra ocasionaria possíveis impactos a curto, médio ou longo prazo, o Executivo Municipal disse que todo o processo está embasado no Inventário de Arborização do Município, elaborado pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente. “Há uma necessidade de retirada delas para a execução da obra e vai promover a recolocação de mais do dobro de indivíduos arbóreos suprimidos, ampliando e qualificando o paisagismo no local”, diz trecho da nota.

Ainda de acordo com a prefeitura, a maioria dos indivíduos existentes na avenida pertence às espécies Mata fome, Coqueiro e Ficus. “Causam problemas estruturais significativos. Por isso, a compensação está sendo feita com novas espécies, a exemplo de ipês amarelo e roxo, pitangueiras, sibipirunas e jacarandás, espécies nativas que têm um crescimento melhor, com copa alta e que vão promover uma requalificação da arborização na capital”. Inicialmente, serão recolocadas 550 novas árvores que serão plantadas na própria avenida e em áreas adjacentes.



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