Cidades


“Só posso estudar no verão”, diz estudante deficiente físico sobre dificuldades de locomoção em Aracaju


Publicado 30 de setembro de 2020 às 15:00     Por Roberta Cesar     Foto Arquivo Pessoal

O mês de setembro é dedicado a prevenção do suicídio, mas também a inclusão social da pessoa com deficiência. Com vários buracos em avenidas, bairros sem pavimentação, sinais de trânsito sem acessibilidade, estabelecimentos sem rampa e muitas outras reclamações dos usuários, Aracaju ainda está longe de ser considerada a capital da inclusão da pessoa com deficiência.

O estudante Braulino Santos Alves Vieira, 35 anos, que tem deficiência motora, contou ao AjuNews as dificuldades que vivencia para transitar pela capital sergipana. De acordo com o estudante, a mobilidade urbana em Aracaju é “péssima” para quem é deficiente.

A situação se agrava em dias de chuva. Braulino, que é morador do bairro Cidade Nova, na Zona Norte de Aracaju, revelou que precisa que o vizinho o carregue nos braços para que ele consiga sair de casa. A situação no local é tão precária que os próprios moradores se juntaram para arrecadar uma quantia em dinheiro para comprar cimento e ‘asfaltar’ a rua para que ambulâncias pudessem subir e socorrer o estudante.

“Onde eu moro era cheio de buraco e os moradores se juntaram e fizeram uma cotinha para comprar cimento para poder ambulância subir para mim ter acesso. Eu fiquei quase uns três meses sem estudar, até agora eu estou sem estudar por causa da rua. E médico para mim é muito difícil, a sorte é que meu vizinho que me bota no braço, tem que descer lá embaixo quando eu preciso ir para o médico, se não for os vizinhos eu acho que já estava morto”, desabafou Braulino.

Em dias de chuva as dificuldades no local aumentam e a rua fica escorregadia. “Para mim descer tem que ser nos braços do vizinho e ter cuidados para nós dois não cair. Eu só posso estudar no verão, no inverno eu tenho que ficar três meses trancado em casa sem poder sair. Ou eu tenho que pagar um Uber, ou um táxi para me levar e me trazer”, destacou.

A dificuldade de locomoção em Aracaju também é uma situação enfrentada pelos deficientes visuais. O presidente da Associação dos Deficientes Visuais de Sergipe (Adevise), Railton Correia, destacou ao AjuNews que um dos problemas é o fato de casas e estabelecimentos não respeitar o plano diretor da cidade e construir calçadas, rampas e escadas desniveladas.

Além disso, Railton afirmou que há dificuldades também em relação aos semáforos e calçadas para embarque nos ônibus na capital. “Como Aracaju é projetada em quadrante, os sinais, dificilmente, você encontra um local em que fechem para todos os carros e que o pedestre fique livre para atravessar. Então, sempre fecha de um lado e abre do outro e dificulta muito a nossa vida”, disse.

Projetos para pessoas com deficiência na Câmara de Aracaju
Questionado sobre os projetos que tramitam na Câmara de Aracaju para beneficiar pessoas com algum tipo de deficiência, o vereador Lucas Aribé revelou ao AjuNews que, atualmente o projeto “Estatuto do Pedestre”, está em tramitação na Casa e abrange as pessoas com deficiência, bem como a população em geral.

O parlamentar ainda criticou a qualidade do transporte público na capital. “Apresentei um Projeto de Lei para que todos os ônibus tivessem ar condicionado, visando proporcionar mais conforto e qualidade de vida aos passageiros. Infelizmente, apesar de conseguir a aprovação, o prefeito atual vetou e a Câmara, em sua maioria, manteve o veto. Continuamos com uma das tarifas mais caras do país e com o transporte de péssima qualidade”, frisou.

O que diz a prefeitura de Aracaju
Questionada pela reportagem sobre as medidas que estão sendo adotadas para melhorar a mobilidade urbana na capital, a Administração Municipal informou que a Empresa Municipal de Obras e Urbanização (Emurb) vem assegurando a acessibilidade da população com a construção de rampas e calçadas, além da correção e restauração de passeios públicos em todas as obras que estão sendo realizadas.

“Técnicos da Emurb têm dialogado com representantes do Conselho Estadual de Mobilidade e Acessibilidade (Cema) e têm feito correções em rampas de acessibilidade e passeios públicos, para garantir que todas as pessoas tenham direito à livre circulação e locomoção, conforme determinam normas previstas em lei”, explicou a gestão.

De acordo com a gestão, uma série de investimentos é necessária para tornar a capital uma cidade mais acessível para os deficientes. Essa adequação começará a ser efetivada com a aplicação do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Aracaju (PDDU). A prefeitura destacou que “todas as obras realizadas no município só recebem a licença para construção quando os projetos atendem toda a legislação referente à acessibilidade e mobilidade”.

Sobre as calçadas desniveladas nos terminais da capital, a Administração Municipal informou que está revitalizando os terminais Zona Sul e Maracaju e construindo um novo terminal no Centro da cidade. Segundo a gestão, em todos eles as obras estão em conformidade com a legislação vigente relacionada a acessibilidade aos usuários.



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