Saúde


Mês do Orgulho LGBTQIA+: Deixe seu preconceito no armário, informações sobre a comunidade


Publicado 26 de junho de 2021 às 07:14     Por Dhenef Andrade e Peu Moraes     Foto Marcelo Carmago / Agência Brasil

O mês de junho, no Brasil e em diversos outros países, é de luta para a comunidade LGBTQIA+. Durante 30 dias ações voltadas para dar mais visibilidade e debate sobre inclusão, representatividade e direitos são potencializadas. Em meio ao preconceito que ainda persiste, embora avanços consideráveis tenham sido concretizados no Brasil. O mês do Orgulho serve também para conscientizar e educar. A falácia da opinião revestida de discursos preconceituosos ainda é comum e somente a educação, conscientização e a abertura de mais diálogo podem mudar essa realidade.

Há mais de 30 anos, 28 de junho foi instituído como o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+ para marcar o dia em que se homenageia um dos episódios mais marcantes na luta da comunidade: a Rebelião de Stonewall Inn. A data, em 1969, marcou a revolta de contra gays, transexuais e drag queens que protestaram contra uma ação violenta de policiais de Nova Iorque que queriam fechar bares que reunia integrantes da comunidade. policiais nova-iorquinos que queriam fechar um bar que reunia a comunidade.

Pensando em aproximar e apresentar aos leitores o que é a comunidade e quais suas principais demandas, o Ajunews elaborou um apanhado de termos e conceitos para ampliar as discussões sobre o tema de forma que permita uma linguagem não-violenta e pejorativa com a comunidade.

A sigla
Nos anos 90 a sigla que era disseminada era a GLS, resumida a representar gays, lésbicas e simpatizantes. A mudança para um maior número de letras além do símbolo de mais ocorre em 2008 com a necessidade de incluir mais pessoas que eram omitidas na sigla anterior. Com isso, entram bissexuais, transexuais, queer, intersexuais e assexuais. Além disso, o ‘+’ representa demais identidades não abrangidas pelas letras iniciais. Calma que a gente explica.

Antes é necessário entender a diferença entre gênero e sexo. A cultura do que é feminino e masculino se sobrepõe a da natureza biológica determinada pelos órgãos sexuais. Ou seja, a ideia de identidade de gênero perpassa por uma construção social, sendo assim a pessoa pode se identificar com o gênero feminino, masculino ou de uma combinação dos dois, independentemente do seu sexo biológico. A ideia de homem e mulher são produtos da nossa sociedade e não estão restritas à questão de genitais.

Com isso em mente, as siglas que representam a comunidade são divididas em orientação sexual e identidade de gênero. Orientação não é opção, erro comumente cometido quando falamos sobre sexualidade. Assim como a heterossexualidade, a homossexualidade, bissexualidade e demais definições são inclinações involuntárias que são estabelecidas por experiências pessoais ao longo da vida. Por conta da fluidez da sexualidade essa orientação pode mudar ao longo da vida.

LGBTfobia
O Brasil ocupa o primeiro lugar nas Américas em quantidade de homicídios de pessoas LGBTs e também é o líder em assassinato de pessoas trans no mundo. Dia 17 de maio é o Dia Internacional de Combate à Homofobia. Um relatório elaborado por uma entidade ligada à causa apontou que Aracaju é a oitava mais violenta para este público e a quarta a nível regional.

A importância de dar maior visibilidade para violência sofridas fez com que termos mais particulares sejam instituídos. Com isso temos a bifobia, que descreve a aversão ou a discriminação contra bissexuais; lesbofobia, referindo-se exclusivamente ao preconceito e a violência contra mulheres lésbicas;. gayfobia: refere-se exclusivamente ao preconceito e violência contra homens gays; transfobia, termo utilizado para classificar atitudes ou sentimentos negativos e/ou violentos contra pessoas trans, o que inclui travestis, transexuais e transgêneros.

Em 2019, o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou que casos de agressões contra o público LGBT sejam enquadrados como crime de racismo até que uma norma específica seja aprovada pelo Congresso Nacional. A violação é inafiançável e imprescritível e a pena varia entre um e cinco anos de reclusão, de acordo com a conduta.

Em Aracaju, dois casos chamaram a atenção neste mês. O Projeto de Lei nº 07/2021, que incluiria a Semana da Visibilidade Trans no Calendário oficial de eventos da capital foi derrubado na Câmara Municipal de Aracaju (CMA). A autora da proposta, que é a primeira mulher trans a ocupar uma cadeira em um cargo político de Sergipe, Linda Brasil (PSOL) defendeu que dar visibilidade à população trans é abrir espaço para a conscientização da importância de combater o preconceito.

“Tentam colocar minha indignação como um capricho pessoal. A ação deste instrumento simbólico, importante para salvar vidas e educar a sociedade sobre comportamentos transfóbicos, machistas, racistas, que acabam levando a população trans a viver em situação de vulnerabilidade, seria algo bom até para a própria administração pública”, alegou.

Outra situação que ganhou destaque foi a denúncia da artista sergipana Isis Broken sobre ter sofrido transfobia em espaços públicos da Prefeitura de Aracaju e do Governo de Sergipe, e em locais privados que atuam no Sistema Único de Saúde (SUS).

A cantora travesti relatou todo o “processo traumático” com Lourenzo, que está com quase quatro meses de gestação. “Somos o primeiro casal transcentrado de Sergipe a esperar um filhe, mas o que deveria ser um processo lindo e amoroso, se tornou um grande pandemônio transfóbico, sofremos transfobia em todos os espaços públicos e privados”, denunciou. O termo ‘casal transcentrado’ é formado pela união amorosa de duas pessoas trans.

A tentativa de deixar invisível a existência desse público escancara a falta de debate sobre o tema na sociedade e permite a perpetuação do preconceito velado em tempos em que a sobrevivência se torna cada vez mais árdua. Abaixo um pequeno guia de termos para entender mais sobre a comunidade:

Glossário
As definições apresentadas abaixo são baseadas no Manual de Comunicação LGBTQI+ organizado por Toni Reis com realização da rede Gay Latino e da Aliança Nacional LGBTI.
Lésbica-Quando uma mulher sente atração afetiva e/ou sexual por pessoas do mesmo sexo/gênero, utiliza-se a palavra lésbica para descrevê-la;
Gay-Pode ser chamada de gay a pessoa do gênero masculino que tem desejos por ou relacionamento afetivo-sexual com pessoas do gênero masculino;
Bissexual-É a pessoa que se relaciona afetiva e sexualmente com pessoas de ambos os gêneros/sexos;
Transgênero-Palavra utilizada para denominar indivíduos que transitam entre os gêneros, ou seja, cuja identidade de gênero transcende as definições convencionais.
Transexual- Entende-se por transexual a pessoal que tem uma identidade de gênero diferente do sexo biológico designado ao nascer. Algumas pessoas desse grupo recorrem a tratamentos médicos, que podem incluir, por exemplo, terapia hormonal e cirurgia de redesignação sexual;
Travesti- Este termo foi considerado pejorativo durante muito tempo. Entretanto, vem passando por uma ressignificação e, atualmente, adquiriu um teor político. Refere-se ao indivíduo que tem sexo biológico masculino, mas que se entende como uma figura feminina;
Queer -Esta talvez seja uma das expressões menos conhecidas de todas as citadas aqui. Queer consiste em um adjetivo usado para indivíduos que se identificam com todas as orientações sexuais e gêneros, não se encaixando em somente um deles.
Cisgênero- “Cis” é entendido como o oposto de “trans”. Isso significa que uma pessoa cisgênero é aquela que se identifica, em todos os aspectos, com o gênero que lhe foi atribuído ao nascer;
‘+’ – Aqui entram todas as pessoas que não se enquadram nas outras letras, e nem nos héteros e cisgêneros, como pansexuais, agêneros, arromânticos, não-binários, gênero fluido;
Linguagem neutra- proposta de reflexão sobre representatividade e objetiva tornar a língua portuguesa inclusiva para pessoas transexuais, travestis, não-binárias, intersexo ou que não se sintam abrangidas pelo uso do masculino genérico. Pesquisadores da iniciativa apontam que ela pode ser considerada um movimento social e faz parte da evolução da língua.

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